sexta-feira, 14 de abril de 2023

A janta está pronta!

A janta está pronta!

Vinte e duas e muito. Fazia um tempo também que ele estava para chegar. Fazia um tempão que a janta estava preparada para sair. Por um motivo simples ela ainda estava no forno. E tempo não era questão que importava. O frango havia sido marinado há ponto de ser confundido com efemeróptero. Todo um processo de amor e anti-amor. 

Cozinhar leva tempo, como o apreço o faz além. Não como o viver, que pode rapidamente desvanecer. A comida não será servida até que tenhamos quem dar o que comer. Dá pra crer.

Simples são as formas que muitas vivências se dão, muitas abstrações e muitas psicoses também o são. E simples era a tentativa de Leo esperar o seu rei enquanto a corte apenas o fazia como os famosos antecessores medievais: bobos. 

Cinco horas desde que Leo havia chegado do jornal do bairro. Nutria carinho pela ideia de mudar o mundo, mas sentia o peso da carga do abandono parental como foi formatado. Como uma peça de tabuleiro, mexeu-se em todas as ocasiões para vencer, mas esperando pelo xeque mate do seu rei. Um rei para o qual preparara toda a pompa que uma majestade imperativa requereria. Um rei que tinha tons retintos, cabelos de índio, olhar oriental, a alma que só por existir exalava luxúria e toda a graça do que chamaríamos de africanidade. O corpo era do centro do mundo. O nome era europeu. Hugo. Deus nos livre do Vitor. Aqui basta o Hugo. Primogênito de Afrodite, mas com o furor e romper de regras que Ades adentraria por conseguinte. 

A comida ainda está no forno. Mateus ligou pra Leo em busca de um tempo ou tempero com o amigo. Ele estava em busca de algo maior na vida e a vida é melhor de ser vivida quando compartilhada. Leo se fez verdadeiro: enquanto Hugo não chegasse nada seria dado. A comida estava pronta para ele. Somente. Hugo gostava da carne mal passada, vermelha como o rubro das hemácias ou falácias. 

O interfone tocou. Era Júnior: “Avisa pro porteiro me liberar, por favor!” Disse o outro colorido. Prontamente responde Leo no sentido de que no dia seguinte faria uma apresentação no trabalho e já estava deitado. 

Vergonha. A de se realizar como alguém que espera outrem que não vem. 
Demora. A percepção melhora com a falta de resposta de outrora. 

Acudam quem grita sobre solidão em meio à Aurora (boreal ou marca de produto capital?). Não ouçam Aurora. Ante à face angelical, um gesto animal pode determinar quem se faz adorador do Demônio ou tal. 

Mas Leo não gritou. Ele também não entendeu. O que preparou nunca será aceito pelo seu Deus. Já deu. Enquanto isso ele apenas perdeu mais de um amor que por um tempo tentou ser seu.
A janta é um coração. Preparado para a pessoa errada. Bem intencionado, mas servido para deuses que aceitam oferendas erradas. Enquanto isso, anjos circundam a refeição, mostrando-se dignos de alimentação. Mas pelo doce negar de quem luz poderia dar, faz-se azar o objeto de amar. 
Mateus não vem amanha, Júnior achou outra forma de andar, e cujo, dito seja injusto, transformou amor em anti-amor, desejos em psicoses e ingenuidade em maledicência.
A janta é processo doloroso, pra quem no dia a dia procura por osso quando na verdade deveria estar fazendo o oposto. 
Nem Hugo nem nenhum outro.
Apenas amor próprio e (claro!) o comunismo como um todo!  

Se a ideia não é absurda, então não há esperança para ela. 

-Jeanrowl.

4 comentários:

  1. Gostei bastante do texto e o achei bem poético, mas confesso que achei a narrativa um pouco confusa. Entendi a essência, mas queria poder entender as minúcias, os detalhes também.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mas o texto me fez pensar em como, às vezes, priorizamos pessoas que não nos priorizam e esquecemos daqueles que sempre estão conosco. Então, gostei bastante.

      Excluir
  2. Lendo o texto pela primeira vez achei um pouco confuso, mas quando relendo entendi o que você queria passar. Gostei

    ResponderExcluir
  3. O texto gera um pouco de confusão, mas a subjetividade é interessante

    ResponderExcluir