quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Carta aberta a Cecília Quintana

 Querida Cecília, nessa carta e despedida te conto que a autossabotagem sempre fez parte das nossas vidas. Quando éramos pequenas, nossa maior paixão era a dança (e ainda é) e por diversas vezes, deixamos de dançar com as desculpas de que “o horário não dá”, “tenho muitas coisas pra fazer”, “não gosto mais como antes”. A realidade é, Cecília, que nunca deixamos de amar a dança, mas esse ímpeto de nos autossabotar, é antigo e até inconsciente.

Crescemos, mudamos de escola e nisso sempre fomos muito decididas. Sempre soubemos tomar as decisões difíceis, que nem toda criança sabe tomar, mas soubemos. A gente sabia o que era melhor pra nós. A questão é: um dia deixamos de saber. E foi nesse momento que nos perdemos e entramos num ciclo interminável de pequenas sabotagens que influenciaram e muito nas nossas escolhas, nas nossas amizades e na pessoa que somos hoje.

Deixamos de estudar, sabendo lá no fundo que aquilo não era o melhor pra nós, mas era o que conseguíamos fazer no momento. Deixamos de nos cuidar, e por muitas vezes priorizamos cuidar do outro ao invés de nós mesmas. Deixamos de acreditar em nós, sabendo que era uma mera consequência do sistema, das amizades e da pressão que era colocada a cada segundo em nós para que fôssemos perfeitas. E adivinha, Cecília? Nos autossabotamos.

A verdade é que nunca gostamos da perfeição, mas desde pequenas nos colocaram nessa posição. “Perfeita”. Segundo o dicionário, é aquilo que não há defeitos, mas pasmem, nada nesse mundo é isento de defeitos. Principalmente nós. Por isso, antes mesmo que pudéssemos falhar com os outros, falhamos conosco, assim, a decepção maior sempre seria a nossa e não a do mundo.

Hoje Cecília, eu me despeço de você. Ou de mim. Ou de nós. E agradeço a todas as palavras que escrevemos juntas, a cada segundo de empatia e reflexão, principalmente com a gente. Eu sei que deixar de me sabotar é uma missão quase impossível, mas espero que todas as vezes que eu tentar fazê-lo, eu pense em você. E escreva.

Se desprender das amarras, dos padrões, das cobranças e de tudo o que a sociedade nos obriga a ser, requer muita vontade e sim, pequenas autossabotagens. Muitas das minhas “pulsões de morte” como Freud costumava chamar, se transformaram em grandes aprendizados, e hoje, entendo isso.

Logo, me despeço de você, Cecília Quintana, uma persona de tantas que me pertencem e te prometo, por mais que eu continue me sabotando (só algumas vezes, eu juro), seguirei aprendendo. E agora, escrevendo.

Com amor, saudade, e um leve toque de autossabotagem,

Nós.

Eu e Cecília, Cecília e eu.

 

 

 

Cecília Quintana

12 comentários:

  1. Cara, eu AMEI seu texto. Quando me dei conta de que seria a última crônica eu pensei muito na despedida da disciplina e do blog, mas não que seria também a despedida do pseudônimo. Enfim, sua crônica ficou maravilhosa, gosto muito do seu jeito de escrever, você não poderia se despedir de maneira melhor! Parabéns pelo trabalho, me senti realmente tocada por suas palavras. Beijos <3

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  2. Que lindo Cecilia! Realmente sou apaixonada pela sua sinceridade, seu texto tem esse tom de "diário" que é tão bonito e intimo... Fico feliz que você tem planos de continuar escrevendo!

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  3. Cecília, você sempre toca todos nós com as suas palavras! Sua escrita é simplesmente maravilhosa e inteligente, dá para ver que ela te reflete <3 Parabéns! :)

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  4. Perfeita, Cecília, como sempre! Algumas despedidas são ruins né? Sentirei falta de suas palavras!

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  5. Que texto mais lindo, Cecília! Sentirei falta dos seus textos <3

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  6. Que texto incrível, sério!!! Já se tornou comum eu te elogiar nos seus textos kk

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  7. Que texto maravilhoso, Cecília! Sentirei saudades das suas crônicas incríveis! <3

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  8. Adoro sua forma de escrever, Cecília! Me identifiquei com muitas coisas que disse. Sentiremos saudades desse momento de desabafo e conversas por aqui! Seu texto ficou ótimo <3

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  9. Despedida de Cecília, não estava preparada! Sentirei falta de ler seus textos e me identificar, questionar ou admirar. Até uma próxima!
    Xoxo

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  10. Que crônica linda! É muito legal ver o quanto escrever pode ser terapêutico, e adoro saber que mais pessoas pensam assim. Acredito que sua Cecília Quintana tenha sido como uma amiga para você poder desabafar um pouco quando precisava. Sucesso com seus próximos textos, mesmo que fora do nosso blog!

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  11. Que lindo seu texto, Cecília. Amei como você se despediu de seu pseudônimo com tanto carinho, me emocionei pq também vou sentir falta do meu <3 As palavras de Cecília Quintana vão fazer falta :)

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