Eu acordo de manhã, quer dizer, são 11 horas, mas para mim já é cedo o suficiente. Mal abri meus olhos e, como em todas as manhãs, a falta de ar bate, é a minha ansiedade me dando bom dia. Não consigo sair da cama, na verdade, não consigo mexer nenhum músculo. O que será que aconteceu pra eu me sentir tão rasa? Concluo que nada, afinal o dia mal começou. Com muito esforço me levanto, mas não me atrevo a sair do meu quarto porque as vozes na minha cabeça me dizem que preciso ser produtiva e não tenho tempo para socializar com a minha família e nem para tomar café da manhã.
Ligo o meu notebook e que aparelhinho eficiente, não é? Quem me dera obter todo o conhecimento que uma máquina como essa é capaz de deter. Já começo a organizar o meu dia, mas sem muito sucesso, claro, eu sempre acabo enrolando horas e horas e não concluo o que preciso fazer. Se meu cérebro fosse tão eficiente quanto uma máquina eu não teria esses problemas, simplesmente ativaria o modo foco e conseguiria fazer tudo que preciso. Mas eu simplesmente não consigo, as vozes falam mais alto do que o meu senso de necessidade. Então volto para a cama. Penso que estou fracassando e minha ansiedade volta com tudo novamente. Um turbilhão de pensamentos surgem à minha mente e simplesmente me vejo incapaz de descansar, deixar as coisas fluírem nunca foi o meu forte.
Até que, pela primeira vez no dia, eu reparo na paisagem em frente a minha janela. Os pássaros cantam e o verde das árvores explode em meus olhos. Penso que quase sou capaz de sentir inveja dos pássaros, sempre esbanjando liberdade, cantam sem nenhuma vergonha, expondo sua felicidade ao mundo, mesmo sabendo que nem todos podem cantar, nem todos são capazes de possuir tal liberdade. Como podem ser seres tão egoístas? Não percebem que nem todos possuem essa sorte? Bem, me considero um animal mais terrestre e com menor liberdade, não porque sinto que me prendem, mas porque eu sinto que me prendo. Não voo por aí porque fui podada por mim mesma, por não acreditar na minha capacidade, pelo meu intenso medo de cair e me esborrachar no chão. E se a dor das quedas não valer a pena pela vista? E se pela tentativa exorbitante de vezes eu me machucar tanto que um dia eu nunca mais volte a ser a mesma? Nunca consiga juntar os pedaços que foram quebrados e maltratados. Paro e penso que talvez meu cérebro seja quase igual a uma máquina no final das contas, já que ele nunca desliga, nunca para, nunca sossega.
No final do dia, quando o barulho das vozes já não está tão ensurdecedor, consigo perceber que já não sou mais a mesma de ontem e muito menos serei a mesma amanhã. Então, de onde vem o medo? Por qual razão o deixo falar tão alto? Acredito que estamos em constante mutação, sem essa mudança a vida simplesmente não faria sentido e, ainda que meu cérebro tente me sabotar todos os dias, sei que tudo flui, Heráclito nunca esteve errado.
Cida da Rocha
Oi, Cida! Gostei muito da sua crônica, mesmo que o tema não seja muito legal, você fez um bom trabalho e eu não poderia deixar de te elogiar. Desejo muitas coisas boas a você <3
ResponderExcluirTe enaltecer já é de praxe, sempre um prazer ler suas crônicas, Cida!
ResponderExcluirOii, Cida! Adorei sua crônica, achei ela super sincera. Sei como essas vozes são horríveis e como é difícil fazer elas irem embora, mas só quero que saiba que, assim como os seus textos, você é uma pessoa incrível!
ResponderExcluirNOSSA! eu já passei muito por isso. Logo, me identifiquei com o seu texto. Parabéns!
ResponderExcluirParabéns pelo seu texto, Cida! O link com o pensamento de Heráclito encaixou muito bem. <3
ResponderExcluirCida, seus textos em geral são incríveis!!! E esse é mais um incrível!!! Parabéns!!!
ResponderExcluirParabéns pelo texto, Cida! Também falei um pouco sobre essas vozes no meu texto e consigo entender bastante essa situação. Espero que possamos nos livrar delas um dia... <3
ResponderExcluirCida você é sempre maravilhosa, parabéns pelo texto impecável!!!
ResponderExcluirQUE TEXTO INCRÍVEL, meu deus que capacidade de escrita e de compreensão, de si mesma, de tudo. As analogias, as metáforas. Queria te dar meus olhos pra você enxergar como foi feliz e produtiva por todo esse período, acompanhamos você por todo esse tempo e você é incrível Cida. Se olha com mais carinho, pega leve com você. Vai te fazer bem, assim como você faz pra gente quando nos exibe esse teu talento incrível!
ResponderExcluirCida, que texto maravilhoso, fica até clichê dizer pq todos os seus são. Eu também sinto isso e você traduziu esse sentimento com muita verdade e sensibilidade, parabéns! Vou sentir falta das suas crônicas <3
ResponderExcluirMuito boa a sua crônica, Cida! Lidar com ansiedade e com essa auto cobrança não é nada fácil, espero que isso não continue atrapalhando sua vida e lhe impedindo de fazer o que gostaria. Você é incrível e como os meus amigos acima disseram, fez um ótimo trabalho durante o semestre, se entregou a cada crônica e deu o melhor de si. Não se culpe tanto, seja mais paciente consigo mesma. Fica bem <3 Bjs Amora
ResponderExcluirMuito bom mesmo, Cida! Trazer as referências e a fluidez - até seu texto flui, viu - do jeito que você traz deixa a crônica melhor. Parabéns!
ResponderExcluirTexto MUITO bom mesmo!!! Inspirador!
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