CRÔNICA FINAL

 Para uma pessoa ansiosa é bem difícil escolher um só caso de autossabotagem. A verdade é que passo por isso há muito tempo. Talvez, mais tempo do que eu mesma me dê conta. A insegurança e o pânico pode me consumir, a ponto de acreditar que não sou capaz.

Quando criança, ouvia que eu era a pessoa mais inteligente da família, seria a primeira a cursar uma faculdade pública e que teria um futuro brilhante. Meus pais e avós se esforçavam ao máximo, lutando para que eu tivesse uma educação de qualidade. Por isso, sempre me cobrei muito para atingir a expectativa deles. Sim, deles. Eu não ouvia muito o meu coração.

 “Ela será advogada renomada” era o que eu mais ouvia durante a minha adolescência. Acabei internalizando a ideia, me esforçando ao ponto de não dormir à noite e de, a cada aula de matérias consideradas difíceis, ter uma crise de pânico. Eu sabia que eu poderia entender, mas, bem lá no fundo, tinha a total percepção de que viver a vida inteira em um escritório de advocacia me deixaria infeliz. Me autossabotava, mesmo sem perceber, fugindo, de forma inconsciente, daquela profissão que muitas pessoas acreditavam ser o melhor para mim.

Não sou uma pessoa de muitas crenças, mas no momento do SISU pedi ajuda para a única pessoa que poderia me aconselhar no momento: minha avó. Ela não está no mesmo plano que eu, mas pude ter a certeza que, de alguma forma, ela estaria me ouvindo. Logo, vieram lembranças da infância, época em que eu brincava de entrevistá-la sobre os problemas do bairro. Ser jornalista era um sonho de infância que eu acabei deixando de lado, afinal, entendia que eu seria incapaz de exercer a profissão pela minha timidez excessiva causada por alguns traumas. A partir daquele momento tudo ficou mais claro: era isso que eu realmente me via fazendo e minha avó acreditava, muito mais que eu, na minha capacidade. Por ela, vou lutar para ser a melhor possível.

Luísa Novelli