sexta-feira, 29 de abril de 2022

 19 de maio, de 1988 - Machado de Assis 


   A crônica "19 de maio, de 1988" foi publicada seis dias depois da abolição da escravatura no Brasil. Me tocou a forma que Machado de Assis usou a ironia e o ceticismo nesta obra. Como narrador personagem, Machado conta a história de um homem branco da alta sociedade. Este ser possui escravos e aproximadamente uma semana antes da abolição da escravatura, teria alforriado um de seus serviçais. 

    O que despertou meu interesse inicialmente foi o fato do narrador ter feito um banquete para comemorar a alforria do escravo e na cerimônia continuar tratando-o como mercadoria. Notei um conflito quando, mesmo após ter libertado o Pancrácio, o narrador oferece a ele uma oportunidade de continuar morando em sua casa. Além disso, ele continua trabalhando para seu antigo dono sem remuneração alguma e sofrendo agressão física e verbal. 

   Machado trouxe uma questão muito atual que é a condição de trabalho análogo a escravidão. Mesmo legalmente livre, Pancrácio se tornou escravo, mas dessa vez ele trabalhava feliz porque recebeu um papel dizendo que era dono de si.  O personagem ganha fama de bom moço após o ato, aproveitando para iniciar uma carreira política. Machado deixou evidente que o narrador mente e que ele agiu por conveniência.

Por Dandara dos Palmares

3 comentários:

  1. Querida Dandara, a ironia e crítica machadiana que toca na ferida de assuntos complexos e cruciais a serem debatidos foi, e ainda é, de extrema importância para esse país. Que falta faz machado e seus textos ácidos para incomodar a alta sociedade desse país que até hoje, por debaixo dos panos, mantém situações tão revoltantes como a citada por você no texto. Sua reflexão é poderosa! Devemos estar sempre atentos!

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  2. Dandara, muitas vezes os incautos são iludidos com a ideia de liberdade, achando que estão livres para voar até onde quiserem, quando na verdade tudo que receberam foi uma coleira maior. Cabe a nós despertá-los dessa realidade. Texto objetivo e conciso, parabéns.
    Com afeto, Argus.

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  3. Excelente texto, Dandara! A crônica de Machado retrata a verdadeira face de um país que insiste em não mudar: a cada dia que passa, cresce a dívida com os filhos e netos de Pancrácio…

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