Ressaca

Todos nós possuímos algo que nos consome avassaladoramente. No meu caso, a paixão me faz criar muitas expectativas e leva a minha mente a criar inúmeras realidades paralelas que acabam por nunca se concretizar. Esse agridoce sentimento é algo que me deixa mais leve, sorridente e com aquele frio na barriga bobo. Mas, ao mesmo tempo, toda vez em que ele ressurge, me arrasta pelos cantos mais obscuros da minha alma, como uma ressaca.

Todas as vezes em que decidi me entregar de corpo e alma a alguém, eu acabei por terminar em um poço sem fundo. Nas vezes em que atingi esse estágio, eu sentia como se meu corpo estivesse moribundo, com minhas entranhas sendo devoradas por um dos meus maiores medos: a solidão. Solidão essa causada pela minha mente, que insiste em transformar alguns afetos recebidos em um cenário de final feliz. Seria esse o anseio mais voraz da minha alma? Ser feliz no amor e poder me sentir completo, ao menos uma vez na vida?

Por diversas vezes acreditei que o destino movia as peças porque aquele não era o momento certo para me relacionar com outra pessoa. Mas, em um determinado momento, a minha auto sabotagem tomou como verdade que o problema era eu: eu não era o suficiente para ninguém, e por mais que tentasse me adaptar, nunca seria. Como uma pessoa que nunca conseguiu se amar de verdade poderia ser suficiente para amar outra pessoa? Essa constatação veio depois da segunda pessoa que me disse a conhecida frase: “O problema não é você, sou eu”. 

Depois de sofrer por mais de dois anos por um amor não correspondido, decidi me fechar para quaisquer possibilidades, e então passei a me sentir mais sozinho que nunca. Quaisquer demonstrações de afeto que poderiam indicar o início de algo mais sério, faziam com que eu me trancasse novamente naquele fundo do poço. Recorri à terapia para tentar achar caminhos para resolver esse trauma, mas nunca consegui falar sobre isso. Na hora “h”, sempre travava com medo. Confesso que o momento de reclusão ocasionado pela pandemia me fez acreditar que tinha me recuperado e que aqueles fantasmas já não me perturbariam mais. 

Contudo, essa maré calma de recuperação não passou de um doce engano. Numa dessas festas jovens, passei do ponto e externalizei para um certo alguém os sentimentos que nutria por ela há algum tempo. De certa forma, esses sentimentos foram bem recebidos e  eu pude sentir o doce sabor de seus lábios nos meus alguns dias depois. Confesso que há muito tempo eu não me sentia tão vivo assim. Porém, mais uma vez, minha mente resolveu brincar e me mostrar o quão vulnerável eu sou para o amor. Criei inúmeros finais felizes na minha cabeça até perceber que aquele beijo não passou de apenas um momento e que todo aquele amor em mim era apenas meu, e não mútuo. Essa constatação me empurrou novamente em queda livre para o fundo do poço da minha solidão, onde me encontro nesse momento, rodeado pelos meus monstros.

- Bluebird

Por Bluebird Roger