A outra face que me assombra
A morte de Francisco Otaviano. Esta foi a crônica que escolhi, escrita por Machado de Assis em 29 de maio de 1889. Machado narra em sua crônica sobre a morte de outro escritor, talvez o considerado pai da crônica no Brasil, Francisco Otaviano. Foi poético e de extrema gentileza tais palavras dirigidas ao que partiu, visto que logo em seu início, Machado profere “morreu um homem, homem pelo que sofreu; ele mesmo o definiu...” E deparei-me com súbitos pensamentos se são nossas fraquezas que nos definem enquanto “homens” e não me refiro ao gênero e sim à nossa característica humana de ser. Você deve ter observado, caro leitor, que minha escrita tem vindo pesada, ora poética, ora rude, mas muito pesada.
Gostaria de livrar-me desta angústia e a escrita segue sendo o meu grito à minha confusão interna. Queria que as coisas fossem mais fáceis, queria passar pela vida bailando e cantando, com grandes descobertas, que fosse uma figura de representatividade, de inteligência, de força, de luta. E como bem sabemos, lutas são para a vida toda. No entanto, lamento pouco ter feito nisso que chamo de existência, pois mais me parece que estou tentando sobreviver a viver e eu fico aflito por isso. Queria transmitir nestas palavras o mesmo orgulho, saudosismo e afeto com que Machado descreve Francisco Otaviano, mas me perco em nuances de complexidade da minha existência. Isso porque o que concomitantemente também a permeia é um grande receio de não sentirem a minha falta, de ser alguém invisível, sem importância.
Então, a minha escolha por esta crônica vem pelo desejo de, um dia, poder ser um Francisco Otaviano para alguém. Quem sabe, algum dia as pessoas pensarão sobre Lilith e sentirão falta, terão orgulho de seus trabalhos realizados, de sua imponência e bravura. E escreverão coisas sobre Lilith e chorarão por ela. Até lá, seguirei fazendo a minha parte, ainda que seja muito apagada nessa estranha bagunça que é a vida, mas eu tenho gana de viver e minha alma brada por isso.
Com ponderação,
Lilith
Por Lilith Lili
Querida Lilith, não tenho dúvidas que você será lembrada. A maneira apaixonante com que escreve e nos relata tal aflição fez com que eu também me lembrasse de meus tormentos e momentos em que o norte parecia confuso demais, a bússola parecia desmagnetizada. O nosso propósito é desconhecido, e poucos conseguem entender e executar isso em vida, todavia ao nos relacionarmos com os outros e nos doarmos ao máximo, tenho certeza que seremos amados e, principalmente, lembrados! Como disse ao colega Argus, que também trouxe essa crônica, de nada adianta passar por uma experiência tão louca quanto a vida e não fazer diferença, não ser lembrado por ninguém, por isso devemos amar, viver, ser o máximo de nós mesmos que conseguirmos ser; só assim estaremos fazendo o suficiente e deixando marcas nos corações de nossos amados, a fim de que nos levem consigo por toda a eternidade!
ResponderExcluirLili, que coincidência entre todos os textos dessa vulto de nossa cultura, eu e você escolhermos o mesmo, por motivos semelhantes. Sua estrutura apenas melhora, parabéns.
ResponderExcluirCom afeto, Argus.