A IGREJA DO DIABO - A Tendência do Momento
Confesso que me deu muita preguiça pensar em procurar crônicas escritas no século XIX, escolher uma e redigir um texto como se eu não estivesse fazendo isso só por obrigação. Mas então eu lembrei de uma crônica de Machado de Assis que baixei certa vez por acidente e, sem ter porquê, deixei salvo na minha biblioteca virtual. Talvez pela ilusão de possuir uma biblioteca diversificada. Mas o meu ponto é: eu já não precisava ler várias crônicas e escolher a que me parecesse menos enfadonha. Ela já estava escolhida! Era só ler e escrever qualquer coisa.
Agora, um segundo ponto: eu gostei muito da leitura. Okay, eu adorei. Que bom que a escolha ficou a encargo do destino, porque eu não seria capaz de fazer melhor. É ruim eu concordar completamente com o Diabo? A retórica é realmente impecável. É preocupante eu ver tanto da minha realidade no discurso fictício de uma religião que teoricamente não vingaria? Provavelmente. Mas eu realmente me envolvi desde o momento em que li: "Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo." O preço do céu é realmente muito alto, mas o perdão parece vir tão fácil... todas as virtudes têm franjas e mais franjas. O Diabo facilmente me levaria para seu lado.
Aliás, todos já parecemos viver como se seguíssemos as escrituras diabólicas. Por que condenar a venalidade?Nesse cristianismo falho tudo já parece mesmo negociável. As igrejas mais suntuosas atraem mais fiéis, e os fiéis mais generosos são quem as mantêm. Vender sua força de trabalho não é se vender?
Eu escolhi fazer jornalismo. Provavelmente trabalharei pra uma empresa privada, mantida por entidades com ideias divergentes das minhas. A minha opinião, o meu voto, as minhas palavras, a minha fé... daí virá o meu sustento. Quando não for por dinheiro, sem dúvida será por interesse. E só o que estou fazendo é deixar de lado a hipocrisia. Os jornalistas já consolidados merecem duplicadamente.
Nada de amor ao próximo, apenas vaidade e amor a si mesmo. O Diabo ficaria orgulhoso (e talvez um pouco confuso) se estivesse na minha casa umas noites atrás. Talvez pensasse que seu sonho de uma igreja própria havia se realizado sem que precisasse fazer tanto esforço. A igrejinha evangélica (antes de mais nada, deixo claro que não tenho nada contra evangélicos no geral, apenas contra aqueles que resolvem fazer cultos ao lado da minha casa) cantava, gritando a plenos pulmões: "MACUMBA NÃO MATA CRENTE". Cada palavra carregada de ódio. Quem pensa diferente não tem nem o direito de existir. A indiferença impera em todas as esferas sociais.
Por Akil Ubirajara
Akil, esse texto é atemporal, e apenas mostra que as pessoas podem levantar as mais nobres causas e bandeiras, mas muitas vezes é apenas uma fachada para esconder sua própria podridão e defeitos, e isso tem em todos os lugares. Seu texto novamente tem um ar aconchegante e uma atmosfera caseira, muito confortável.
ResponderExcluirCom afeto, Argus.
Caro Akil, seu texto trás uma reflexão muito potente e um pensamento me vem à tona: nós, seres humanos, sempre muito envolvidos e obstinados na busca pela verdade, vivemos em mundo onde a única verdade é a própria mentira, a hipocrisia. A falsa moralidade reina e nem foi necessário que o imperador do submundo viesse até nós. E o pior, a quantidade de absurdos feitos em nome de Deus, deixaria de fato Luci orgulhoso. Talvez, mais do que buscar a verdade, devemos buscar ser coerentes com nossas escolhas, mesmo que isso signifique abrir mão de certas coisas, como você mesmo disse no texto. Nós somos imperfeitos, e continuaremos a ser; e isso também é verdade.
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