Qual seu filme de terror favorito?
Num sábado a noite, sem dinheiro e extremamente cansado tudo que me vinha à mente era simplesmente tentar relaxar. Que tal um filme? Mas que filme? Os streamings oferecem tantas opções, sem contar com as maneiras não oficiais, que pensando bem, oferecem opções mais variadas ainda. Um sábado a noite pede algo que gere inquietação, algo que me anime, algo que me faça esquecer do vazio e insignificância da minha existência. Talvez algo que me faça esquecer porque eu ando tão sozinho. E se eu assistisse um filme de terror? Afinal, só a magia do horror e todas as suas peculiaridades para me fazer sentir algo, nem que seja medo.
Do que você tem medo? Muitas pessoas temem o desconhecido, o imponderável, o inesperado. Lendas, mitos e histórias aterrorizantes. Alguns não assistem filmes de terror, temem monstros, figuras demoníacas ou simplesmente não se sentem confortáveis com o sangue e todo o horror. Não seriam todas essas coisas irreais demais? Qual o medo real da atualidade? O que eu temo? Por que tudo tem sido tão pesado? Eu temo não ser compreendido, temo não ser incluído, temo não parecer bom o suficiente para que os outros gostem de mim. É, talvez seja esse o porquê dessa máscara. Talvez seja por isso que eu finjo ser algo que claramente não representa o real. Fotos de praia, de momentos felizes, encontros de família, jantares, festas e tantas outras coisas. A vida das redes sociais é feita só de momentos felizes, e sim, eu sei o porquê (ou pelo menos agora entendo). Postar momentos felizes gera empatia, da engajamento, e principalmente, você se coloca numa posição extremamente confortável perante a cruel realidade da sociedade; abdica-se da tristeza e de todos os momentos que realmente nos definem, e conscientemente, escolhemos mostrar o irreal, ou pior, a pueril e incontestável felicidade.
A maneira com que conscientemente escolhemos nos expor, nos mostrar para o mundo, assumir para todos o que somos, se isso tudo é mentira, momentâneo, o que é de verdade? A verdade dói demais para que a gente aceite de prontidão, é cruel demais, e pior, não é tão instagramavel quanto os momentos bonitos e leves da vida. Essa mania de que tudo precisa ser palatável, aceitável, que renda um like; isso é doentio. Sinceramente isso me assusta mais que um filme de terror, até mais do que aqueles mais pesados. A vida e a mentira constante, o medo e a necessidade de aceitação, é... talvez esse seja o real terror.
Bom, depois disso talvez seja melhor dormir.
Por Ford Prefect
Ford, confesso que sou um fiel devorador dos seus textos. Desde aquele da praia, eu resolvi que seria seu leitor mais voraz. Olha, li seu texto duas vezes, mas tenho vontade de voltar e reler mais duas ou três. Para que filme de terror se temos a rede social, não é mesmo? Não sei o porquê exatamente, mas me fez lembrar agora de filmes com palhaços, tipo It- A coisa. Você me fez ir nesse meu medo que chegar a dar calafrios aqui, que é olhar na cara do palhaço e ver aquele sorriso FALSO.
ResponderExcluirVocê chega sem pretensão, anuncia que vai procurar algo como um filme de terror para assistir e isso termina em uma bela crônica. Com direito a fluxo de consciência, progressão textual e mais, desfecho que tira aquele risinho do canto da boca.
Obrigado, sério.
Querido Ford, você foi muito feliz quando levantou a questão de que o que escolhemos expor é momentâneo. Adorei o seu texto!
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