A última vez
Meu maior medo é o monstro que
ceifa sem restrições. Ele não é como os vampiros da literatura, que não podem
entrar em sua casa sem convite. Meu trauma não pede permissão como não faz
acepção. Ele acaba com os grandes, com os pequenos, com os ricos, com os
pobres, com os loucos e com os nobres. Ele tem uma aparência diferente toda vez
que aparece, como se planejasse uma nova forma de assombrar os corredores da
minha lembrança. Essa besta, porém, ao meu nome não me foi reservada, pois tudo
que existe não pode escapar das suas garras.
Ela é cruel, e nem ao menos
permite a despedida antes de tirar de você a sangue frio o que você ama. Meu
inimigo, meu nêmese, meu pesadelo sem rosto, não é um homem de carne, mas
justamente o que este inevitavelmente há de encontrar: o Fim.
O Fim nos persegue desde os
nossos Começos, mas mesmo assim nunca estamos prontos pra sua chegada, que
nunca tem dia e nem hora marcada. Tudo que vemos, tudo que tocamos, tudo que
existe conhecerá o Fim. Não sei se me vejo fraco por teme-lo assim, mas acho
que é porque o Fim trabalha com requinte de maldade nas suas ações. Ele leva
nossos sonhos, nossas determinações, nossos amigos e nossas famílias. No dia em
que o Fim me tirou uma das pessoas que iluminava meu coração, primeiro ele
levou a presença e em seu lugar deixou a amarga ausência. Depois, levou os
sorrisos e deixaram as lágrimas salgadas. Com o tempo, o Fim te envenena e
rouba as lembranças, deixando a saudade. Por último, resta apenas o luto. Mas,
por incrível que pareça, o luto não foi trazido pelo Fim, e essa é a parte
mais triste do meu trauma.
O Fim leva tudo, mas ele deixa o
luto ficar como um souvenir amaldiçoado, pois, nas palavras de alguém que
também já partiu, o luto nada mais é do que o amor que perdura. O Fim chega pra
todas as coisas, mas o Amor é a única que ele não pode tocar, porque a essência
verdadeira da Humanidade é o ato de amar. Somos ensinados a nos apaixonar, dar
os nossos corações, mas ninguém jamais poderá nos ensinar a parar de amar,
porque o Amor de verdade nunca vai conhecer o Fim.
Por Argus Stoneheart
Querido Argus,
ResponderExcluirSeu texto me tocou de forma singular, que palavras bem estruturadas! Agradeço pela oportunidade de compartilhar seus traumas conosco!
A verdade é que assim como li certa vez, precisamos aprender a viver a eternidade em nossos dias numerados!
Prefiro crer que a essência não está na despedida, mas nos momentos deixados de forma amável e inesquecível!
Parabéns pelo texto e estrutura textual. vocabulário rico e jogo de palavras!
Com carinho,
Shaolin, o matador de porco
Gostei muito do seu texto, Argus. A atmosfera de suspense do início, a forma como abordou esse Fim com F maiúsculo, o seu trauma, a sua perda. No entanto, fiquei ligeiramente confuso ao me aproximar do fim: vc diz q a parte mais triste do seu trauma é q o Fim não te trouxe o luto; em seguida vc diz, em forma de citação (uma citação maravilhosa q se encaixou perfeitamente com o texto) vc diz: "o luto nada mais é do que o amor que perdura". O q vc quis dizer? O peso da perda te impede de sentir o amor q perdura? Ou o Fim não poderia trazer luto pq ele é algo inerentemente seu? Fora isso, vc foi cirúrgico na escolha das palavras. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirArgus, esse texto foi extremamente tocante, de diversas formas. Você tem um dom com a escrita. Fui tocada de forma particular por ser um assunto extremamente sensível para mim, porque o Fim também é, sem dúvidas, o meu maior medo.
ResponderExcluirCom carinho, Aria.
Argus, sinto muito pela sua perda. O medo do fim é inerente aos nossos pensamentos. Às vezes, esquecemo-nos que um dia deixaremos de existir, que seremos pó,cinza e nada, e isso parece tão aterrorizante. Compartilho da sua angústia. A maneira como você escreve é linda, filosofou mesmo e trouxe o seu trauma embalado em tons de muita sabedoria.
ResponderExcluirAbraços
Argus, que texto envolvente! Bem escrito, com riqueza vocabular e jogo de palavras. Como disse o Liev: filosofou! Compartilho da mesma angústia que você, acredito que o Fim também seja o temor de muitos de nós. Infelizmente, estamos aqui só de passagem e devemos aproveitar o cada momento desse processo.
ResponderExcluirCom carinho, Elizabeth.
Argus, me senti lendo um texto de um profissional da escrita, sua escolha de palavras e a própria estrutura textual vai deixando o leitor intrigado e ansioso para as próximas palavras que você vai escrever. O tema em relação ao medo do fim ainda me deixa mais próximo dessa sua produção, pois é um medo que vive dentro de mim. Parabéns pela produção impecável.
ResponderExcluirQuerido Argus, saiba que a sua escrita envolvente me emocionou muito. Me senti muito tocada pelas as suas palavras. Você tocou exatamente na ferida que mais doí.
ResponderExcluirRealmente o luto não é fácil.
Mas o Amor que algo tão forte que não se limita ao fim...
Fique bem!
Com muito Amor, Glória Maria!