Ressurgir
A minha crônica escolhida foi “O fim do mundo” de Cecília Meireles.
Escolher o período Modernismo não foi em vão, sou capaz de me identificar de formas até cômicas com o momento histórico.
Existe uma tentativa resiliente brasileira de se reinventar, de ser mais do que o proposto para que se fosse.
Uma coragem formidável e admirável, invejada por pessoas como eu. Desejada por covardes.
Em sua crônica Cecília narra um possível fim do mundo, em que nós dois não demos a mínima.
Em meu interior, confesso me questionei: o que eu perderia com o fim do mundo, quando já perdi a mim mesmo?
Cecília soube me responder com nobreza: “O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido.”
Talvez em uma nova realidade, eu saiba o verdadeiro sentido e significado das coisas.
Cecília me fez despertar, para o fim.
Suas palavras duras relembraram-me que: tudo sempre termina da mesma forma.
Tudo e todos que o amo, apesar de todas as dores, voltariam ao pó. Assim como eu.
Nessa dura noite estrelada, ela me fez lembrar de todas as vezes que ignoramos a tristeza de uma criança.
Cecília me levou para um local nada confortável: um quarto escuro, com uma versão mais jovem de mim rezando para que o dia seguinte fosse melhor, para que eu fosse melhor na próxima vez.
“Eles conhecerão uma versão perfeita de você, querido”, pensei.
Ocultei a parte em que nos perdemos no que queríamos ser e no que somos.
Ah, Cecília, minha querida Cecília: obrigada pelo despertamento.
Você me fez ressurgir. Eu não poderia me amar no escuro.
Te prometo com meu coração que tentarei acender as luzes diariamente. Me enxergar com o mesmo carinho e gentileza que vejo aqueles ao meu redor.
Como poderia um texto sobre o fim do mundo falar tão mais que isso?
No final, deixo-lhes o questionamento breve da minha Cecília:
“Ainda há uns dias a reflexão e o arrependimento: por que não os utilizaremos? Se o fim do mundo não for em fevereiro, todos teremos fim, em qualquer mês…”
Qual seria o seu fim, afinal?
Qual seria o seu calcanhar de Aquiles?
Qual seria a sua máscara a abandonar?
Por Shaolin, o matador de porco
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