sexta-feira, 29 de abril de 2022

Ressurgir


A minha crônica escolhida foi “O fim do mundo” de Cecília Meireles.

Escolher o período Modernismo não foi em vão, sou capaz de me identificar de formas até cômicas com o momento histórico.

Existe uma tentativa resiliente brasileira de se reinventar, de ser mais do que o proposto para que se fosse.

Uma coragem formidável e admirável, invejada por pessoas como eu. Desejada por covardes.


Em sua crônica Cecília narra um possível fim do mundo, em que nós dois não demos a mínima.

Em meu interior, confesso me questionei: o que eu perderia com o fim do mundo, quando já perdi a mim mesmo?

Cecília soube me responder com nobreza:  “O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido.”


Talvez em uma nova realidade, eu saiba o verdadeiro sentido e significado das coisas.

Cecília me fez despertar, para o fim.

Suas palavras duras relembraram-me que: tudo sempre termina da mesma forma.

Tudo e todos que o amo, apesar de todas as dores, voltariam ao pó. Assim como eu. 


Nessa dura noite estrelada, ela me fez lembrar de todas as vezes que ignoramos a tristeza de uma criança.

Cecília me levou para um local nada confortável: um quarto escuro, com uma versão mais jovem de mim rezando para que o dia seguinte fosse melhor, para que eu fosse melhor na próxima vez.

“Eles conhecerão uma versão perfeita de você, querido”, pensei.

Ocultei a parte em que nos perdemos no que queríamos ser e no que somos.


Ah, Cecília, minha querida Cecília: obrigada pelo despertamento.

Você me fez ressurgir. Eu não poderia me amar no escuro.

Te prometo com meu coração que tentarei acender as luzes diariamente. Me enxergar com o mesmo carinho e gentileza que vejo aqueles ao meu redor.

Como poderia um texto sobre o fim do mundo falar tão mais que isso?


No final, deixo-lhes o questionamento breve da minha Cecília:

“Ainda há uns dias a reflexão e o arrependimento: por que não os utilizaremos? Se o fim do mundo não for em fevereiro, todos teremos fim, em qualquer mês…”


Qual seria o seu fim, afinal? 

Qual seria o seu calcanhar de Aquiles?

Qual seria a sua máscara a abandonar?

Por Shaolin, o matador de porco

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