sexta-feira, 22 de abril de 2022

 Por que eu amo o que eu não sou?


Certa vez um filósofo disse sobre amarmos a perfeição, justamente por não conseguirmos alcançá-la. Nada havia feito tanto sentido, até aquele momento em específico.

Sempre fui de julgar aqueles que vivem mentiras, até que me pegasse sendo uma delas.

O conceito de felicidade vitrine me era abstrato, até que eu vislumbrasse a minha máscara. A minha maldita máscara.

O papel que eu deveria desempenhar estava escrito, e eu não deveria desviar uma vírgula se quisesse ser amado.


Afinal, não é sobre isso que são as redes sociais? 

As máscaras que todos colocamos, na tentativa de sermos aquilo que queríamos ser.


Confesso meus pecados ao admitir que a minha máscara não é meu martírio, mas minha zona de conforto. 

Me seguro nela como a minha única certeza em um mundo complicado e submerso em sorrisos calculados.


Sempre foi sobre a aceitação, companheiros.

Desde o primeiro momento em minha infância que senti a sensação de abandono, me permiti construir esse personagem.

O sorriso perfeito, as notas exatas e as felicitações irreais.

Eu amo o que eu sou, mas eu não sou o que eu acho que sou. 


Eu sou algo irreconhecível, repleto de cicatrizes e marcas irreparáveis. 

Mas isso não é bonito o suficiente, isso não é de se invejar.

Em um lugar de relações rasas, a minha máscara é a mais bonita e sorridente dentre as outras.

Finalmente, eu perdi a conta de até onde eu vou e onde encontro minha felicidade de vitrine. Nós somos uma coisa só.


Nós estamos afundando nesse Titanic, e eu não sei dizer se existe sobreviventes. 

Por Shaolin matador de porco

3 comentários:

  1. Caro Shaolin, que interessante a fluidez do seu texto! Ao lê-lo, é como se você me dissesse "por aqui", "mais um pouco", "me veja". E eu o li como se você prometesse uma experiência única. Mas sabe o que mais? Você cumpriu. Essa relação complexa que você tem com a sua máscara, como se fosse um amor e ódio mesmo, impressionou-me. A riqueza de detalhes e os contrastes muito bem construídos também. A leitura do seu texto é sem obstáculos, sabe? Muito obrigado por isso.

    Um abraço do Liev

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  2. Querido Shaolin, ótimo texto, seus questionamentos me fizeram refletir e até me identificar um pouco com você.

    Freddie Mercury

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  3. Shaolin, essa frase aqui "Eu amo o que eu sou, mas eu não sou o que eu acho que sou." foi onde seu texto me ganhou. Ótima construção, como de costume, parabéns!
    Com afeto, Argus.

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