sexta-feira, 29 de abril de 2022

Alguns dias atrás estava ouvindo um podcast que falava sobre a vida e obra de Machado de Assis, e tenho a impressão de que é impossível não se encantar com tudo o que ele foi, escreveu e simboliza para a literatura brasileira. Machado de Assis foi criado no Morro do Livramento, perdeu a mãe cedo e começou a trabalhar como aprendiz de tipógrafo, se dermos um salto no tempo para vermos tudo que Machado conquistou uma fagulha de esperança se acende. Isso porque Machado de Assis começa como grande parte dos brasileiros, da estaca zero. 

Entretanto, não escolhi Machado. Como eu disse, tinha acabado de escutar um podcast e até lido um livro do mesmo, fiquei curiosa para ler algo sobre algum autor do qual não conhecia. E então, Machado me escolheu, porque dei de cara com uma crônica dele falando sobre a morte de Francisco Otaviano. Encarei como chamado do destino.

Gosto do tema fúnebre. Escritores escrevem sobre tudo: cotidiano, sentimentos, vícios, e nada mais comum do que se falar da morte. Que faz parte do ciclo da vida e que deixa tantos sentimentos entalados para quem fica. E falar de quem se vai, sempre dá um gosto de melancolia para quem escreve e para quem lê, saudades de alguém que nem sequer conheceu.

Uma das coisas mais bonitas da literatura é conhecer alguém por meio das palavras de outra pessoa que o admira. Assim, nessa crônica, a gente conhece Otaviano, conhece Machado e conhece o conjunto da obra: Otaviano e Machado. E, como há beleza na admiração e carinho destinados a Otaviano, e que mais bonito ainda, é viver da forma que Machado descreve que Otaviano viveu: “a despeito da dor cruel que o roía, que não desaprendera na alegria boa e fecunda, nem a faculdade de amar, de admirar e de crer”.

Por Mrs Dalloway


2 comentários:

  1. Mrs Dalloway, que surpresa saber que escolhemos o mesmo texto por razões parecidas! Fico feliz em saber que ambos reconhecemos o poder que as palavras têm de marcar em infinitos finitos a história da vida de alguém. Ótimo texto, parabéns.
    Com afeto, Argus.

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  2. Muito interessante sua escolha, Mrs. Dalloway! É quando falamos daqueles que se foram, especialmente daqueles que mais amamos, que florescem as palavras mais belas. Além disso, se o próprio Francisco Otaviano afirmava que passar pela vida sem padecer é ser apenas um espectro de homem, que ao menos compartilhemos esse sofrimento em voz alta: assim, nos curaremos em uníssono.

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