sexta-feira, 22 de abril de 2022

 Esgotada demais para se vender

As redes sociais são Shopping Centers. Quão bem você tem vendido o seu “produto”? Engraçado, me peguei pensando que as pessoas que possuem o maior número de vendas de si mesmo são as que menos mostram seus lados. Ou melhor, ser superficial vale mais. Qual é o seu valor? Acho que vou bem na estratégia de marketing, não estou pronta para me desnudar numa plataforma com visibilidade mundial. 

Não sei como meus amigos e familiares reagiriam ao acordar e ver quem sou eu. Imagina, minha mãe abrindo o Instagram e lendo uma poesia que acabei de postar, nela falo sobre um relacionamento que tive com uma garota certa vez. Algumas coisas não estão prontas para serem postadas, nunca estarão. Minha mãe nunca vai ler essa poesia, nem ela nem ninguém. A parte de mim que se relaciona com pessoas do mesmo sexo, por exemplo, nunca vai aparecer na rede. Talvez eu esteja no armário virtual, mas acho que não vem ao caso.

 Ao meu ver, quem tem que saber sobre as decisões mais importantes que eu tomo, meus dias difíceis e os momentos em que eu me sinto a garota mais fraca do mundo sabem. O titio Zuckerberg já tem muitas informações ao meu respeito, será que até a pior parte ele também quer? Entendo que tem o lado das pessoas olharem que as outras também tem defeito e se identificarem, mas que saco, se todos entrassem no Instagram só para relatarem seus dias horríveis e  problemas familiares o Mark não seria um bilionário. 

O fato é que nós não ligamos o celular para ficarmos tristes, pelo menos eu não. Eu posto o melhor de mim para não contaminar as pessoas com a melancolia dos meus versos sobre desamores, já foi difícil demais reconhecer o lado que eu tento esconder. Qual é o sentido de compartilhar isso para que meus amigos se identificassem? Sinceramente, eu tenho dois extremos. As melhores e mais ilustres coisas sobre mim você não vai encontrar no meu feed. As coisas mais horrendas que eu fiz, também não.  Lá eu sou a menina simples que curte festas normais, com uma família que aparentemente é normal e que compartilha frases bonitas sobre acreditar no futuro melhor. Será que o futuro melhor é  um futuro com mais transparência? 

Por Dandara dos Palmares

3 comentários:

  1. Dandara, a sua pergunta final foi um gancho para a reflexão. E eu me pergunto também, será que estamos prontos para a transparência? Porque como você falou tão bem, nós vamos para as redes sociais para ver coisas felizes e prazerosas, histórias interessantes. Só que a questão não está só no indíviduo, mas no coletivo também. Se cada um só postar momentos felizes e glamourosos, o que isso fará de nós como seres humanos? Ah,e eu adoraria ler a sua poesia sobre a sua ex, e acredito que outras pessoas também.Além disso, você tem razão quando fala que não é necessário deixar tanta informação pessoal em uma rede que é feita justamente para colher dados. Quanto ao texto, um primor! Obrigado por compartilhar o seu fluxo de consciêcia conosco.

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  2. Dandara, sua escrita é leve e muito pessoal, e nos faz estar como telespectadores a observar uma autorreflexão entre você e você mesma, mas de alguma forma, parece que bem quando estávamos nos aprofundando na sua identidade, você interrompe o contato e a conexão. Talvez tenha sido proposital, pra refletir como a nossa relação com as redes não pode ser íntima, ou talvez tenha sido de maneira inconsciente. Só sei que seu texto me deixou curioso pra descobrir mais das suas experiências e histórias. Ou talvez eu seja apenas um sugador de dados pessoais, como Zuckerberg. Acho que o tempo vai dizer.
    Com afeto, Argus.

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  3. Dandara, adorei a forma como você escreveu esse texto, a sensação que fica é que estamos em uma conversa casual, mas que não é tão íntima e nos faz refletir. Acho que esse fenômeno de não postarmos a nossa pior parte e os momentos de dor e tristeza é natural, e como você disse, as pessoas não usam as redes sociais para identificarem suas partes ruins em outras pessoas, mas para se entreterem e se sentirem felizes.

    Freddie Mercury

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