sexta-feira, 29 de abril de 2022

A morte de Francisco Otaviano, por Machado de Assis.

Machado de Assis tem muitos motivos que o fizeram estar marcado na História, e algumas de suas obras estão no gosto do público há anos, mas eu nunca ouvi ninguém falar de “A morte de Francisco Otaviano”. Esse pequeno texto, escrito em homenagem ao falecido amigo, traduz muito do anseio humano de preservar em atos terrenos uma eternidade que aos homens não pertence, o que, pessoalmente, foi o ato mais nobre de Assis em sua trajetória.

Francisco desde pequeno era um menino dos poemas e poesias, mas se tornou um homem das leis. Sua racionalidade, inteligência e proeza - elogiados por Machado - o ajudaram a construir uma carreira muito próspera no campo da política, contribuindo para muitas conquistas do país. No entanto, por mais que seus deveres pertencessem à Pátria, seu coração sempre fora de papel e tinta.

O sofrer que Machado aborda brevemente na homenagem é justamente por ele ter sido pego em algum lugar nas tramas do destino. Por mais que tenha vivido uma vida proveitosa e útil, faltou-lhe o gosto de se dedicar a sua primeira paixão que, silenciosa, aceitou ser a menor parte de sua vida, observando-o calada enquanto ele era roubado pelos Congressos, agitado pelos projetos e ficava noites revisando e assinando tratados. A Escrita, sua amante esquecida, foi a única parte da vida de Francisco com a qual ele sentiu que não cumpriu seu dever. Em honra ao último desejo do grande homem que foi Francisco Otaviano, Machado de Assis eternizou a história de amor do poeta pelas palavras numa crônica que a maioria desconhece.

Talvez você não conhecesse Francisco Otaviano, o homem político que flertou com a Literatura, mas as palavras do poeta Machado de Assis fizeram a história dele atravessar as épocas e repousar aqui, na tela do seu aparelho. Agora ele é parte de você também. Em alguma pequena saleta do seu cérebro, as aspirações desse homem vão estar catalogadas. Você talvez esqueça, mas elas estarão aí, enquanto você viver. Esse é o poder de um escritor, fazer um sentimento e uma história durarem uma vida inteira.

Quem dera aprendêssemos a escrever nas estrelas! Quem sabe assim, o que escrevêssemos nelas ficassem marcados por toda a eternidade.

Por Argus Stoneheart

2 comentários:

  1. Caro Argus, de que adianta passar por esse plano e não sermos lembrados não é mesmo? Se Francisco Otaviano, por forças do destino, teve de dedicar sua vida a outros assuntos, Machado trata de torná-lo imortal consigo, a partir do momento em que brilhantemente o eterniza em seu texto. A vida, em si, é apenas uma passagem; ao escolher essa crônica e nos lembrar do poder da escrita, você também nos lembra da nossa motivação enquanto humanos! Não devemos, jamais, deixar que sejamos esquecidos.

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  2. Exatamente o que senti ao ler essa crônica de Machado. A literatura tem esse poder de empatia que nos leva não só a se colocar no lugar do outro mas de sentir também. Leio a crônica de Machado de Assis e passo a conhecer Francisco Otaviano, e isso se eterniza. Leio a sua crônica, Argus, e não sei quem você é, mas agora uma parte de você também se eterniza na minha mente. Ótimo texto!

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