segunda-feira, 11 de abril de 2022

6 letras 


A psicologia fala que trauma é uma experiência emocional intensamente desagradável que pode causar distúrbios psíquicos, deixando uma marca duradoura na mente do indivíduo: trauma psicológico. 
Tem um período na literatura americana, após a I Guerra, chamado The Lost Generation (A Geração Perdida), jovens que lutaram durante a adolescência na Primeira Guerra Mundial e viveram a vida adulta durante os Roaring Twenties até a Grande Depressão. 
Fazendo uma comparação com o atordoado de incertezas, relacionado ao futuro, que a maioria dos jovens sentiram naquela época conseguimos puxar um link para nossa atual situação. Uma geração que leva o peso de transformar o passado, experiências fadadas ao fracasso, a uma nova maneira good vibes de encarar a vida porque obviamente não podemos dar errado ("somos a geração do futuro, temos tudo em nossas mãos"), quem disse isso?? 
Jovens controladores, que trocam mais mensagens do que abraços, e mais likes do que apertos de mãos, temos algo em comum, uma palavra de seis letras, TRAUMA. 
Qual é o problema da nossa geração? Seremos a próxima Geração Perdida ou estamos destinados a ser a geração do desperdício? A geração que poderia ter vivido mais, aproveitado mais o mundo real, mas não "tivemos" tempo o suficiente. 
EU SEI QUAL É O MAIOR MEDO DE VOCÊS, aquilo que só de falar já dá um frio na barriga e sufoca os nossos sonhos, e desejos. O TEMPO. O tempo e a vida são complexos, tudo acontece tão rápido que mal conseguimos aproveitar os momentos. É uma coisa esquisita, incontrolável, mas sabemos que está entre nós, ele passa e não dá pra voltar atrás e fazer diferente. 
O trauma da vez é baseado na ansiedade. A ansiedade de poder não dar certo na vida, não ter o emprego dos sonhos (o que é bem provável), da minha família não poder vivenciar minhas vitórias comigo, de escolher o amor errado talvez por medo de me assumir, medo de não ter quem amo de uma hora pra outra. Normalmente quem sofre de ansiedade passa horas imaginando situações que podem nem acontecer. 
 Então o que seria essa experiência emocional intensamente desagradável? A minha foi há 6 meses atrás, quando perdi minha vó. Desde então a ansiedade virou minha nova melhor amiga, saudades de chegar em casa e vê-la, sentir o gosto da sua comida. As 6 temporadas da nossa série favorita ainda estão lá, nos esperando terminar o último episódio da última temporada. Me recuso a descobrir o final sem a senhora. A frustração de não poder controlar tudo só não é maior da dor que ter que me reinventar durante esses longos seis meses, é angustiante o fracasso diário de pensar que esse medo de perder mais alguém já é uma realidade, não só pra mim, mas para todos nós, aliás não controlamos o tempo. O tempo não apaga o que o coração já gravou.
Por fim, "O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo" Mario Quintana.
Por Pedro Bial da depressão

9 comentários:

  1. Querido Bial,
    Que texto cativante! Parabéns pelas palavras e escolhas!
    O medo é uma experiência comum, o use como combustível e não freio!
    Somos uma geração rasa de afetos e profunda em traumas, é preciso ter empatia a fim de findar tamanhos problemas!
    Tenha coragem de ser você mesmo sem o medo ou ansiedade de errar, essa é a graça em ser humano!
    Agradeço pela oportunidade de compartilhar seus traumas conosco!
    Com carinho,
    Shaolin, o matador de porco

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  2. Bial da depressão, seu texto ficou realmente muito bom! Gostei como vc partiu de um macrocosmo onde todos agem e sofrem com a indiferença e individualismo extremo para o seu microcosmo onde podemos perceber o carinho que vc tem pela sua avó e a falta q ela te faz. Imagino q esse é o tipo de perda a nunca superamos (nem devemos), mas espero que escrever tenha te ajudado a aceitar e viver bem com isso, sabendo que sempre haverá alguém do seu lado para te lembrar de que a passagem do tempo não precisa ser tão opressora e solitária. Gostei muito da leitura. Parabéns !

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  3. Pedro Bial, sinto muito pela sua perda. Entendo o seu medo, entretanto, e sei que muitas vezes sofremos por pensar demais no que poderíamos ser e fazer. Seu texto ficou lindo e me tocou bastante.

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  4. Bial, você está certíssimo: o tempo é algo que assombra todos nós. Sinto muito pela parte da sua vó. Seu texto tem ótimas palavras e uma escrita linda, que poderia ser melhorada com maior revisão textual.
    Com carinho, Aria.

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  5. Pedro, excelente texto! Te diria que os tempos de hoje são os dias da modernidade líquida que Bauman fala. Nossa sociedade vive pautada no imediatismo e isso esbarra em nossas relações. Mais do que o tempo, diria que o medo da nossa juventude hoje também é a solidão. Estamos sempre em busca de likes, amigos, glória e esquecemos de viver o agora. Sobre lidar com perdas, cada um tempo o seu tempo e a sua forma. Imagino o quão difícil esteja sendo ter que se reinventar todo dia e acordar sabendo que, infelizmente, ela não está mais ao seu lado para vocês compartilharem bons momentos e assistirem a série de vocês juntos. O mais importante é viver o seu luto e transformar essa saudade em força para seguir o seu caminho, guardando sempre com vocês as lembranças dos bons momentos que vocês viveram juntos.

    Com carinho,
    Bluebird.

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  6. Pedro Bial, sinto muito pela sua perda.Seu texto é certeiro ao afirmar que o tempo hoje é nossa maior preocupação. O medo de não viver e passar boa parte da vida em coisas pararelas àquilo que realmente queremos. Tudo isso nos corrói em ansiedade. Gostei de você ter partido de algo macro para o micro, no caso, você e o seu trauma. Muito obrigado por ter compartilhado um pouco da sua dor conosco.

    Abraços do Liev

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  7. Pedro, meus sentimentos pela perda da sua avó. De onde ela estiver, acredito que esteja torcendo pelo seu sucesso. Você tem uma escrita cativante, gostei do modo como construiu o seu texto e dos links feitos ao longo dele. O tempo é realmente o temor de muitos de nós. Devemos aproveitá-lo ao máximo. Além disso, somos marcados por aqueles que cruzaram o nosso caminho e deixaram marcas em nossa existência, assim como também deixaremos nossas marcas para trás. Lembrar daqueles que amamos e ser lembrado pelos que nos amam é a coisa mais bonita da vida. Lembre sempre da sua avó com carinho. Obrigada por compartilhar sua dor com a gente.

    Com carinho, Elizabeth.

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  8. Pedro, muito difícil não se identificar com seu texto, as indagações que você traz e o próprio fato do medo do tempo me deixa muito próximo da sua produção. O desenvolvimento e a fluidez que você consegue colocar em seu texto por meio da correta escolha de palavras torna a leitura extremamente prazerosa. Parabéns.

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  9. Querido Bial, gostei bastante de como o seu texto se "afunila". Você começa com um Macrotema e termina de uma forma extremamente pessoal.

    Sinta-se abraçado por mi.
    com carinho, Glória Maria

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