sábado, 27 de maio de 2023

VIAGEM À LUA DE GEORGES MÉLIÈS

Noite da grande paz de seus olhos. O tremor diante da brisa de um céu escuro

que devora os sonhos de uma garota. Sentada, serena, observando os olhos de sua

paixão, petrificada em uma varanda, como a memória de um verão longínquo. Donde

está sua máscara, juventude enamorada?

Reduzo-me a escrever sobre o seu nome, não ouso adentrar os seus medos e suas

paixões. Se Nina existiu ou não, é uma curiosidade efêmera e quase morta. Quero saber

somente de sua poesia, sobre o verbo diante da palavra, o enigma da esfinge, você

perdida em um hotel no Egito.

Tanto como Clarice, não tenho a pretensão de falar sobre o filme do Bergman,

falo sobre as estrelas que refletem a antiguidade nos céus quando penso em sua persona,

o que seria a paz que se reflete nos olhos de outrem quando todos já estão a dormir em

meio a madrugada? Talvez venha de uma cidadela perdida, talvez seja uma figura

urbana e ensandecida.

Retiro as pretensões da muda atriz e da enfermeira.

Determino seu protagonismo teatral: figura heroica grega a determinar seu fado,

sua hubris te cobre de sangue, suor e tragédia. Não há paz, não em um barco se

aproximando da guerra, e os Deuses, ídolos politeístas, gritam que você não terá vitória.

Tennessee Williams te impõe a melancolia, e Shakespeare escreve mil comédias em

torno de seu romance, ora se ri e chora, tudo ao mesmo tempo. A noite é permeada de

carruagens e de cavalos com olhos calmos, e todos berram e aplaudem diante de duas

máscaras distintas.

Diante da rosa, retorna para uma mesa solitária na casa de sua avó, pensa em

seus amores e pensa nas árvores que tomam o quintal com sua natureza romântica.

Sonha, existe e pondera. Você não existe além de suas palavras, imagino-te e destruo

sua permanência física.

Há um certo horror em imaginar uma pessoa real. Para mim, você não seria

capaz de existir, suas ideias são além de um corpo. Transtorna-me a pesada

corporalidade humana.

Assim, decido quem és, e te transformo na lua, noturna e distante, em um céu

misterioso e agoniante.


Christine Daáe

 Para muitos, criar uma nova persona apenas para escrever é inacessível. Inevitavelmente, quando escrevemos, mesmo falando de terceiros ou narrando histórias ficcionais, as percepções pessoais e características estão ali presentes.

No caso de Lia Navarrete, será que sua pessoa por trás e a persona criada são tão diferentes? Acredito que não. Lia Navarrete é profunda, madura, me parece uma pessoa muito reflexiva, que apesar da pouca idade, já viveu muitas coisas. Lia me parece ser aquela pessoa que pensa mais do que fala, que está constantemente analisando as consequências de seus atos. Lia com certeza é uma pessoa interessante de se conversar... Será que já conversamos? Acho que não.
Fui pesquisar Lia Navarrete no Google, não apareceu nada além de perfis no LinkedIn. Por que desse nome? Com certeza você tem uma boa explicação para isso. Lia não deve gostar muito de falar de suas histórias e traumas pessoais mas com certeza é aquela que dá bons conselhos para amigos. Lia é uma persona interessante e curiosa. Talvez daqui a pouco a gente descubra quem é quem e eu possa finalmente tirar a conclusão se Lia Navarrete e sua pessoa por trás são a mesma coisa.
-Artubol da Lua

Marimar's Portrait

 Marimar é uma pessoa rápida. Como qualquer outro ser humano, Marimar tem virtudes e

falhas, defeitos e qualidades. Uma delas (para mim a mais importante) é que Marimar é um

ser ágil, e quando digo ágil quero dizer isso mesmo, uma pessoa rápida, objetiva, direta, que

diz o que precisa ser dito sem precisar se esconder em subjetividades sem sentido como

muitos fazem aqui nesse blog.

Consigo facilmente imaginar esse ilustre ser humano escrevendo suas crônicas tão

vorazmente que às vezes as pontuações e parágrafos se perdem no caminho, são deixados

para trás por não conseguirem acompanhar o ritmo quase frenético. Seu gosto quase familiar

por descrever e construir de forma tão natural seus personagens e cenários me faz crer que

estamos tratando de uma pessoa sensível que mesmo em seu estado voraz ainda arranja

algum tempo para construir artifícios que fazem com que seus leitores consigam mergulhar

em suas crônicas sem muitas dificuldades.

Marimar tem dedos ágeis, pensamento constante, memórias borbulhantes e histórias pra

contar. Tem desejos reprimidos que quando contados - de forma objetiva o suficiente para

nos prender e subjetiva o suficiente para nos tocar - nos fazem refletir sobre a pessoa por trás

da escrita.

Tem a velocidade da luz, a profundidade do mar, e a enorme capacidade de equilibrar os

dois.

- Apollo Creed

Palavras como espelhos de quem somos

A forma mais íntima de conexão que se pode estabelecer com alguém é por meio das

palavras. Apesar de nunca conseguirem exprimir fielmente o que sentimos, essa forma de

comunicação é muito potente. E, é justamente pelas palavras que, nesta semana, precisamos

desvendar uma pessoa. Alguém que já conhecemos, mas ao mesmo tempo não temos a menor

ideia de quem seja.

Já que as palavras são nosso caminho para a crônica da vez, resolvi usar duas para

tentar compreender quem é Giorgio Armani, pseudônimo o qual, por um acaso do destino,

estava com seu texto logo abaixo do meu.

A primeira delas é para mim a que mais se destaca em sua escrita : a empatia. Em

mais de um texto Armani me passou a sensação de ser uma pessoa extremamente gentil e que

se importa com aqueles que o cercam. “[...] quando eu souber quem você é irei lhe dar um

abraço, pois essa situação é muito dura de lidar.” Esse trecho, retirado de uma crônica escrita

pelo pseudônimo que analiso, resume bem sua capacidade de se colocar à disposição

daqueles que precisam, e por isso acho que o altruísmo é um traço de sua personalidade.

Talvez essa característica tenha surgido a partir de sua criação. Talvez tenha sido algo

que sempre se fez presente em sua vida. Ou talvez (e, é o que acredito) a empatia que forma

sua personalidade surgiu pelas suas vivências. Momentos de perda o moldaram, e foi por

meio deles que essa capacidade de se colocar na posição de outra pessoa foi aflorada.

Além da empatia, e provavelmente, surgido em consequência dela, acredito que

Armani seja uma pessoa indecisa. Por se preocupar com os demais, Giorgio acaba por pensar

muito em suas ações, e consequentemente, ter dúvidas sobre qual rumo tomar em suas

decisões.

Giorgio, sei que você apresenta muitas camadas além das que supus. Mas, por meio

de suas palavras, foi o que consegui desvendar de você. Espero ter conseguido acertar alguma

coisa, e pretendo um dia te conhecer melhor.


- Noite da grande paz dos teus olhos

Sargento Gentileza

Me foi dada a tarefa de tentar descobrir as características de uma pessoa através dos textos

escritos pela mesma, enfim, é complicado desvendar de forma completa a essência do autor

de qualquer obra ou o que ele está sentindo, afinal, a arte é interpretativa em todas as suas

formas, portanto, vou me aventurar em meros palpites e usar um pouco da imaginação como

minha guia nesse texto.

Decidi falar sobre a crônica do Sargento Santhiago, o motivo é simples: Identificação, vi nele

pensamentos que eu certamente teria, sendo a principal característica a reflexão. O autor do

texto é alguém que observa a situação de Carolina e além de sentir uma forte empatia, traz um

aprendizado para si, conectando a situação triste e delicada do câncer com pensamentos que

podem nos tornar seres humanos melhores. Uma das questões destacadas é a falta de tempo,

Santhiago como uma pessoa sábia e reflexiva, observa isso de modo um pouco poético,

trazendo algumas indagações e arrependimentos que podemos ter quando estamos próximos

da morte. Acho que Santhiago quis dizer que devemos aproveitar a vida de forma saudável

enquanto ainda temos cronos(tempo), devemos ser pessoas gentis e aproveitar os mínimos

detalhes, viver cada momento como se fosse único. Se eu pudesse definir Santhiago com duas

palavras, uma seria certamente esperança, ele genuinamente acredita e espera que Carolina

consiga pagar seu aluguel e vencer o câncer, da mesma forma que tem a esperança de que

todas as pessoas tenham voz na sociedade. A outra palavra seria sabedoria, julgo como sábio

alguém que analisa situações alheias e aplica como aprendizado em sua própria vida, e

Santhiago faz isso com perfeição, acredito que se mais pessoas tivessem essa capacidade, o

mundo seria um lugar de fato mais gentil, afinal, gentileza gera gentileza.


- Dez

Apollo Creed

Escrever sob um pseudônimo é algo curioso, transmite a sensação de liberdade e

segurança do anonimato, mas talvez, inconscientemente estejamos fornecendo mais

informações sobre nós do que percebemos. Considerando que escrevemos sobre temas

tão pessoais e sentimentais como traumas e desejos, um profissional da área psicológica

provavelmente é capaz de extrair uma gama incontável de características sobre o autor,

apenas lendo o texto produzido. Eu, como leigo, posso no máximo supor.

Com base no estilo de escrita, suponho que Apollo seja uma pessoa dedicada ao

que faz, mas que ainda assim o faz com tranquilidade, pois escreve textos densos em

conteúdo, mas com o uso de linguagem mais informal. Além disso, destaco a facilidade

que tem para criar associações de palavras que prendem o leitor, me senti envolto pelas

narrativas e relatos escritos.

Quanto aos textos mais pessoais, Apollo possui uma boa inteligência emocional,

apresenta desenvoltura ao relatar acontecimentos negativos de sua vida e como se sentiu

diante deles. Faz descrições objetivas, mas que mantém o leitor interessado e tocado

pelo que é relatado. Mesmo que porventura sejam narrativas ficcionais, isso se mantém,

pela sutileza e simplicidade em descrever situações emocionais adversas.

Finalizo a suposição, com a imagem de que Apollo Creed é um indivíduo

dedicado aos seus projetos, que possui facilidade para falar sobre seus sentimentos e

formular histórias comoventes; uma pessoa aberta, mas que não pode ser chamada

exatamente de extrovertida, e por fim, alguém com ótimo gosto para filmes, vide a

escolha do pseudônimo.


-Alek Johnson

Carta para Alek Johnson

Quero começar explicando porque escolhi falar de você, Alek Johnson. Eu não faço

ideia de quem você seja e isso me encanta. Você ser um desconhecido faz com que eu

me sinta parte da dinâmica. Leio vários textos aqui no blog e consigo pensar em vários

possíveis autores, mas quando leio os seus, não consigo te identificar. Será que já

conversamos? Será que já sentamos lado a lado em alguma aula? Talvez você seja uma

das poucas pessoas que eu não conversei ainda. Talvez a nossa relação de colega de

turma seja meramente um sorrisinho e o básico da educação. Isso me intriga, Alek.

Quero dizer que me identifiquei com o seu texto sobre “desejos”, o desejo de

compreender e ser compreendido é raro de ser atingido. Quando falou sobre ser

humano, expôs ter um olhar sensível e também ter humildade, ao reconhecer até aonde

você poderia escrever sobre dona Carolina. Na dinâmica sobre o personagem

“Rômulo”, você qualificou bem algo que também não me agrada: o desprezo que ele

sentia com tudo que não contribuía para a sua busca pela perfeição. Assim como você,

eu também gostaria de viver em um mundo onde os laços importam.

No começo dessa dinâmica, não sabia se seria capaz de admirar alguém apenas pela sua

escrita. Hoje vejo que sim. E enxergo além, pois hoje vejo ainda mais o poder que as

nossas escolhas têm. Você, ao escolher quais palavras serão usadas e eu, ao permitir que

elas cheguem até mim e apenas elas. Por fim, agradeço por não te conhecer – ainda.

Obrigada por manter esse mistério.

De seu/sua leitor(a), Oblíquo e Dissimulada.

Para Meu Primeiro Fake,

   Por trás de todo perfil anônimo, existe um alguém não tão anônimo assim. Uma pessoa com uma vida, com sentimentos, com cicatrizes. Para, então, tentar entender e (re)conhecer “Meu Primeiro Fake”, reli cada um de seus textos. Aqui, deixo claro que minha intenção não é adivinhar quem está por trás da autoria, mas apenas compreender você através de sua escrita. 

   “Meu Primeiro Fake” parece muito comigo. O perfeccionismo, a solidão, o amor e o medo foram alguns dos temas escolhidos por você. Sua escrita é bem característica e, pessoalmente, confesso que gosto muito de seus textos. 

   Peço, agora, licença humana e poética para descrevê-la: vejo uma pessoa sensível, ainda que queira ser fria; vejo um alguém que quer amar e ser amado, mas ainda sente dores nas cicatrizes. Enxergo uma culpa que não é sua, uma vontade de viver que acanhou-se diante de alguns medos. Percebo uma autocobrança. Além disso, você se autointitula “anti-amor”, mas ao mesmo tempo fala muito sobre ele. Sua força, quando narra a perda e a ausência, me inspira. Sua sensibilidade e cuidado me emocionam bastante.

   Honestamente, e talvez eu esteja fugindo de parte da proposta dessa semana, optei por não imaginar aparências. Acho que a profundidade de conhecer alguém apenas pela escrita está nos sentimentos colocados ali. É conhecer primeiro por dentro, e depois por fora. 

   Se eu pudesse te dizer alguma coisa, seria aquilo que você já disse em um de seus textos, em uma alusão que achei brilhante: por baixo de uma armadura pesada, há um coração que anseia por ser amado. Permita-se, quando se sentir pronta. 

Com carinho,

            Lia Navarrette

Sobre Artubol da lua

 Uma das melhores formas de se conhecer alguém, para mim, é pela escrita. Foi assim que eu

tentei conhecer meu colega de curso Artubol da lua. Não sei quem é você, nem se já nos

falamos alguma vez, mas sei que você não tem o hábito da leitura e pode se distrair

facilmente. Parece ter uma boa relação com seus pais e curte as músicas do Caetano Veloso.

Em todos os textos que já produzimos, você os escreveu de uma forma leve, simples e

descontraída, quase que como uma conversa. Também pude perceber que você nunca

comentou em nenhum dos textos dos outros, talvez por não saber o que falar, ou

simplesmente por não se interessar.

Cada pessoa que participa dessa dinâmica das crônicas tem uma percepção diferente dos

pseudônimos, e a minha sobre você é que você não se aprofunda muito nos temas os

relacionando com suas vivências, seus desejos e suas reflexões, fazendo com que eu não

consiga saber muito sobre você. Talvez você nem curta escrever e faça somente porque é

assim que a disciplina funciona e tenha outra forma preferida de expressão. Então com o

pouco que consegui saber sobre você e uma dose de criatividade, imagino uma personalidade

de alguém que já passou por situações difíceis e conseguiu se reerguer, que é feliz com seus

amigos e sua família, que assim como muitos de nós, tem diversos medos e receios.

Por fim, espero não ter me equivocado tanto assim a seu respeito. Até breve- fim do

semestre?, meu caro!

- Sargento Santiago

Quem é Katy Perry?

A idealização do amor marca fortemente a vida de Katy. Todos querem viver um romance

de cinema. Entretanto, a frustração por cair na realidade há 2 anos trouxe uma vida insegura

para ela. Não conseguir parar de pensar no que poderia ter sido sua história com “ela” fez

com que Katy Perry criasse um bloqueio quanto a novos relacionamentos amorosos.

Entretanto, “ela” voltou para a vida de Katy após todo esse tempo. Depois de um fim de

relacionamento conturbado, está de volta e implorando pelos seus braços.

Por que Katy não se sente feliz com isso? O motivo do seu sofrimento por tanto tempo foi a

falta dessa garota em sua vida e agora ela está lá, a disposição, tudo da forma que Katy sempre

desejou.

Assim, Katy Perry percebe que não realmente a amava, mas era apaixonada pela idealização

que tinha dessa garota. O fato de quem Katy realmente ama não existir de fato a faz cair na

solidão.

Bem, eu não me preocuparia com Katy Perry, pois ela também não existe, é um alter ego de

algum estudante da UFF. Porém, o sofrimento de Katy me faz pensar se toda a suposta

felicidade humana não é fruto de idealizações e compreensões das coisas exclusivas de cada

um.

A paixão sempre está relacionada a alguma justificativa, todos são “apaixonados porque...”,

já o amor só existe quando há um apreço incondicional alguém que se abriu completamente a

você, logo, quem ama, ama “apesar de”. Entretanto, o amor não é felicidade, é só uma outra

propriedade coexistindo.

Portanto, a felicidade, ao meu ver, está presente naquele curto espaço de tempo em que

você está vivendo uma história maravilhosa na sua mente, mas ainda não teve o estalo

depressivo de que aquilo não é a realidade.

-Linguini

Fênix faz o caminho

Começo dizendo que acho incrível a condução que Fênix encaminha as palavras. A forma como ele desliza sobre elas é de muita fineza mesmo quando se escreve coisas não muito felizes, mas convenhamos: Fênix sabe descrever o que é um momento feliz também.


Gosto que a escolha de seu pseudônimo não seja em vão, é algo que facilmente o representa, sabe ser muito feliz e reconhece que só de felicidade não se vive. Consegue escrever uma coisa muito feliz, mas sabe desenvolver um drama tão bem quanto.

 Acho que isso é coisa de Fênix mesmo, já dizia amigo meu Riobaldo ''Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias da vida''. 

Fênix sabe e faz seu caminho. E a sua personalidade vive sempre querendo dizer o oposto do que disse antes, se tornando uma certa personalidade de metamorfose ambulante. 

Assinado: Diadorim da fé

Como imagino Sargento Santiago

 Não é fácil saber qual a verdadeira personalidade de alguém, pois querendo ou não

estamos sempre revelando as pessoas somente aquilo que permitimos. A frase dita em

Alice no país das maravilhas: “Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era,

mas acho que já mudei muitas vezes desde então” ajuda a demonstrar que estamos

sempre em constante mudança e construção de nós mesmos. Além disso, fica ainda

mais complexo tentar deduzir como alguém é através de sua escrita, mas foi isso que

tentei fazer ao imaginar como é Sargento Santiago.

Primeiramente, cada pessoa tem a sua própria personalidade, mas imagino Sargento

Santiago como uma pessoa crítica, que consegue expor sua opinião de uma maneira

clara. Também acho que seja uma pessoa reflexiva, que gosta de refletir sobre a vida, as

situações do dia a dia, as preocupações que a cerca, as pessoas, suas ações e emoções,

além de buscar entender a si próprio. Além disso, o vejo como uma pessoa observadora,

atenta a cada detalhe. Também é atencioso e sabe ouvir as pessoas. Criativo também é

um bom adjetivo, imagino que seja uma pessoa que gosta de escrever ou de coisas

ligadas às artes e que também gosta de se expressar. Enfim, é isso que penso de

Sargento Santiago.


Marimar

Para a Sargento que não é tão sargento assim…

 Sargento está só no nome ou na patente. Por trás desse pseudônimo há uma pessoa organizada, que sabe se colocar bem e sabe se expressar por palavras.  

Acredito que se assemelha muito à personagem, Sargento Santiago de Brooklyn 99, de onde acredito que venha o nickname. Vejo a importância e o querer o melhor das pessoas pelos comentários, sempre apontando boas críticas, analisando os textos e fazendo ressalvas para a melhoria textual. 

Quanto a escrita da Sargento, sem dúvidas sabe escrever, sabe trazer emoção, sabe estruturar bem o texto, sabe o que faz. Parece que já tem experiência com a escrita, não é algo novo em sua vida. A impressão que eu tenho é de que eu não estou lendo textos feitos em dois dias. Organizada, metódica e aplicada, adjetivos bons para resumir esse pseudônimo. 

A Sargento que, por mais que carregue esse nome, parece ter um coração grande e de sargento só ter a patente, tenta responder o máximo de crônicas e fazer comentários pertinentes em cada uma delas. A vida imita a arte? Acredito fielmente que sim, porque consigo ver claramente a personagem escrevendo cada texto e comentário. A vida imita a arte.


-Silvio Santos 

Perfil de Flash Casanova

   O que é Flash? Para muitas pessoas pode ser a luz da câmera ligada no momento de tirar uma fotografia, tem gente que diz que na verdade é uma plataforma multimídia utilizada para construir páginas na web, para outras é nada mais para menos do que o ser humano mais rápido do mundo. Para este pseudônimo, Flash Casanova é uma música cantada por um artista chamado yabujin, confesso que nunca ouvi falar sobre o artista em questão, a música fala sobre alguém que se sente solitário quando está longe de sua amada, aparentemente os personagens da canção estão com o relacionamento em crise. Mas contextualizações à parte, vamos analisar o perfil de Flash Casanova. 

  Flash Casanova é um ser carregado de traumas, decepções e inseguranças. Tanto com a sua aparência física, quanto com seus hobbies e até em seus relacionamentos interpessoais e que encontrou na escrita a forma de colocar todos estes sentimentos ruins para fora, pois mesmo em textos que não exigem exposições é identificado uma carga mais pessoal. A escolha do pseudônimo é interessante pois ele está diretamente conectado com duas frustrações da cronista: a decepção ao perceber que seu sonho de ser música não seria realizado, afinal o nome que foi apropriado é originalmente de uma música, e a dor de não ter a confirmação da reciprocidade de Kate antes do mesmo ter a abandonado, percebi esta semelhança com o seguinte trecho “Eu digo a verdade, mas você ainda não responde; Falar com você, mesmo quando estou exausto; Com 0 HP, ainda estou aqui balançando; Estou torcendo por você, só para deixá-lo animado; Eu me apaixonei por você, ainda serei esquecido?”. Que coincidentemente ou não, se encaixa com a crônica ‘Não Existe Amor em Curitiba’.

 A construção de uma persona assim cria um interesse em nós e Flash Casanova desperta curiosidade nos leitores, suas suas crônicas são como uma carta aberta da sua vida mas sempre com aquela ponta solta, queremos saber o que aconteceu com  Kate, qual o motivo do abandono, como foi lidar com o câncer da avó, como está sua autoestima atualmente, se ela já superou a frustração de ter seu sonho destruído e até se alguns desses textos são factuais. 


 -James Clarkemann


De Flor em Flor

Camélia (s. f.): “Arbusto ornamental, da família das teáceas, de folhas ovais e lustrosas e

flores geralmente de cor vermelha, rosa ou branca”. Não sei se essa seria a melhor definição para

Camélia. Não para a “nossa” Camélia.

Camélia é – como todos nós – composta de várias facetas. Uma Camélia-Cecília que ora

busca a atenção do pai e ora deseja ser mais atenciosa com ele, uma outra capaz de perceber a

obsessão doentia que faz um pianista morrer na solidão, uma Camélia-Clara que sonha com um

enigmático anjo de madrugada, mais uma outra que tenta entender o sentimento de quem pede por

ajuda.

Todas as Camélias apresentam uma diversidade de particularidades, singularidades. No

entanto, possuem um ponto em comum: a sensibilidade, que talvez se assemelhe com a de uma flor.

Sua escrita sempre valoriza esse aspecto. Sendo assim, posso imaginar que seja alguém que aprecia

o contato interpessoal, e que preza por compreender as emoções e opiniões do outro. Ademais, é

extremamente hábil em traduzir em palavras suas sensações.

Por fim, queria dizer que é muito valioso contar com as crônicas de Camélia toda semana,

que além de serem muito bem escritas, também imprimem faceta a faceta, flor em flor – seja ela

vermelha, rosa ou branca.


Suco de Soja

Santa do Nemeton

 Não conheço seu nome, sua voz e muito menos seu rosto. Sei tão pouco que

parece difícil classificar como uma quantia válida. De qualquer forma, sei que

conseguirei escrever sobre Santa do Nemeton, afinal, temos apenas uma coisa em

comum e isso é o suficiente. Somos cronistas.

Para começar, de onde surgiu este nome? O que é um Nemeton? Confesso que

assim que li o seu pseudônimo, o meu senso de curiosidade apitou. Fiz uma breve

pesquisa sobre este tal lugar e descobri que se trata de um local sagrado para a antiga

religião Céltica, muitas vezes representados como bosques. Nossa escritora secreta se

classifica como uma santa deste espaço, dando a entender que Santa do Nemeton é um

indivíduo religioso. Isto acaba se confirmando em sua crônica “Balança de Deus”,

publicada na semana passada.

Em seu texto “Expectativas”, Santa nos apresenta um pouco mais de si,

mostrando que, apesar de se apresentar como uma figura religiosa e mística, ela é

apenas um ser com ambições assim como qualquer outro. Na crônica, a autora retrata

diversos desejos, ou melhor, expectativas que projeta em sua mente. Nota-se por esse

texto que sua escrita é excepcional e que Santa provavelmente é fã de leitura e escrita.

Por fim, podemos concluir que Santa do Nemeton possui sua marca. Ao ler seus

textos, aguardo sempre uma referência mitológica ou religiosa, pois, afinal, estou lendo

o texto de uma Santa.


- Flash Casanova

Somos todos Alek Jonhson

 Somos todos Alek Jonhson

Quem é Alek Johnson? Eu sou o João Alexandre ou melhor, sou o Esteves, sou a Júlia,

Pedro Henrique, Sara, Pedro César, Gustavo, Jepherson, Lívia talvez a Eduarda e até mesmo o

Bruno. Eu também sou você e essa experiência será louca, porém sem amizade forçada. Você

deve se perguntar quem é quem durante toda aula, depois dela também, mas será que deveras

é relevante? Quero dizer que a gente é tão diferente quanto pensa, porém talvez nem tanto.

Quando entrei na UFF não imaginava que tudo calharia a acontecer de tal modo, mesmo que

sejam seres que nunca tive contato. O que tenho a acrescentar é que sou eu, você, somos nós.

Como uma música dos Beatles-help, as vezes long live da Taylor Swift, mesmo no final sendo

meus caros amigos de Chico Buarque. Mesmo que não concordemos com muitas coisas um

dos outros, precisamos manter o respeito um ao outro, sejamos uma união para termos um

melhor ambiente, saiba ouvir, mas também tenha senso ao falar amados. Não seja um(a)

inconveniente, mesmo que seus companheiros sejam crentes, agnósticos, umbandista,

católicos, se vieram de outro estado ou cidade, classes diferentes, cores. Por mais que o

convívio diário deixe impressões, ainda não podemos criar conflitos por tão pouco. Alek

Johnson é toda turma de jornalismo, quero dizer que somos mais que apenas futuros

jornalistas, nós somos bem parecidos apesar da nossa introspecção. E não deixe se levar pelo

que acha, por mais que parece clichê, as aparências enganam, não digo para serem frios, mas

eu vejo que muitos querem se engrandecer frente ao outro e não é esse o caminho.


- Giorgio Armani

Teoria Cobriana

Eu, Pérolas do Cléber Machado, tenho a dura missão de “desvendar” um pouco o meu

companheiro Cobra. Estou me sentido um Selton Melo nessa atividade. Uma verdadeira

Sessão de Terapia, ou melhor, de detetive.

Mas vamos lá, lendo alguns dos seus escritos antigos você tem muita sensibilidade a

diversas coisas que acontecem ao seu redor. De uma certa forma, você sente a dor das

pessoas e se coloca no lugar dela. Quando eu li o texto sobre traumas isso é bem

perceptível.

Mais recentemente notei que a vossa senhoria pode ter um gosto musical um pouco

peculiar, não pelo lado ruim da coisa. A utilização de canções MPB me prendeu muito e

isso me faz pensar que o seu mundo paralelo está muito conectado com esses tipos de

músicas. Lembrando, tudo isso é apenas um supositório.

Nós seus textos é bem evidente que tudo tem uma linha cronológica, tudo encaixado

“perfeitamente”. Além de, em alguns casos, há uma tentativa de simular uma situação

que você não sabe como aconteceu, a exemplo do início do seu texto “Crônica

Carolina”.

Confesso a você que queria ter escrito mais sobre ti, mas para mim é muito difícil

identificar características apenas por textos. Gosto e tenho o costume de observar tudo e

todos, porém, dessa vez isso não me beneficiou muito. Desde já te peço desculpas se

houver alguma análise errada sobre você.

É senhoras e senhores, será que alguns pseudônimos irão cair por terra? Será que um ser

humano irá acertar alguma pérola minha? Estou CÚÚrioso!

— Pérolas do Cléber Machado

Ponto fora da curva

 Diadorim, Diadorim! Quem é você, Diadorim?

Digo talvez que seja uma pessoa que acredita, de coração, que as injustiças devem ser

gritadas, apontadas, sem dó, sem vergonha e sem pudor.

Digo talvez que tenha uma visão realista, quiçá pessimista, acerca da vida. Parece-me que já

viu e viveu experiências que a maioria nem imagina, o conhecido e o desconhecido lado da

lua.

Digo talvez que acredite na educação como arma para a libertação das amarras, que nos

prendem ao chão e podam nossas asas.

Digo talvez que o seu ímpeto de resolver as mazelas seja tão grande que te faz agir de

maneira impulsiva muitas vezes. Uma característica que não deve ser a sua favorita.

Digo talvez que sempre foi uma pessoa independente, não podendo depender do afeto e

carinho de sua mãe. Uma pessoa que grita os problemas do mundo, mas guarda no fundo do

peito o que te aflige, com medo de incomodar os que estão à sua volta.

Digo que você foi a primeira pessoa a me mostrar que a maturidade e a rebeldia podem andar

lado a lado, que elas não são mutuamente excludentes.

Digo que você me fez querer ler Guimarães Rosa, com a escolha de uma personagem tão

interessante e que quebra tantas barreiras como o/a Diadorim, com sua androginia e coragem.

Diadorim, o que você é?

Digo talvez que seja um ponto fora da curva.

Uma querida que quer ser ouvida, que precisa ser ouvida.

Fale, expresse todo o sentimento que reprime.

Diadorim, só quero te dizer que você não precisa dar conta de tudo sozinha.

-Camélia.

MA-CHA-DÃO

Existem alguns jovens sortudos. Existem outros tantos azarentos. Existem, então, os demais apenas medianos ou conformados. Cléblão se achava assim. Sentia que seus medos, anseios e traumas não eram grandes o suficiente para se comparar com vidas muito promissoras ou desgraçadas. Ele pensava que tudo que recebemos de estímulo é bem tendencioso a nos fazer querer coisas grandes e não gostava muito dessa ideia. Seu grande-pequeno sonho era apresentar uma partida de futebol na tevê local (era uma afiliada da Sportv) ou comentar uma esquete de futebol no Youtube qualquer – isso está em alta, né. Ele literalmente sonhava sobre. E se propusera a tal, então. Filho de pai enfermeiro e mãe professora, ele tinha uma vida vivível, digamos assim. Passara para uma faculdade federal do outro lado da poça e agarrara, com todas as sabidas forças pessoais até o momento, a oportunidade. A gente está sempre descobrindo novas capacidades e habilidades, descobriria o menino no futuro.

Menino, não. Cléber. Clebão. Clebão!? Isso é apelido ou xingamento? Parece o tio que vai perguntar se é “pá vê ou pá cumê”. Pelo amor de Jeová! Clebão, não! Machado. Machadoo... Uhmm.. Machadão. Pô, Machadão, então!? Podemos rebatizar ele? Machadão passa a ideia de virilidade que uma audiência média da tevê brasileira adoraria receber, então, confia, Machadão, no futuro pode fazer sentido. Embora, eventualmente e provavelmente, o Clébão vá ter que demonstrar que evoluiu para Machadão diante do grande público, talvez dando algumas cacetadas em púlpitos para demonstrar masculinidade. Provável que Machadão consiga ter mais força com a mão direita na hora de transferir o golpe.

Era um menino ainda. Andava de transporte público, coitado, e eventualmente via pessoas vendendo coisas, embora, normalmente, não se compadecesse tão facilmente. A vida lhe ensinaria mais adiante além do que já havia ensinado até em tão.

Gostava de Seu Jorge. Acredite. Gostava. Jorge vem de lá da Capadócia. Sim, ele vem. Mas Cléber não. Ele não andava vestido e armado com as armas de São Jorge para que os inimigos dele, tendo pés não lhe alcançassem, tendo mãos não lhe pegassem, tendo olhos não lhe vissem, e nem em pensamentos eles pudessem lhe fazer mal.

Então, assim, por ignorância de não saber o que verdadeiramente significava “Felicidade”, de Seu Jorge, ainda que provavelmente Cléber fosse feliz em sua maneira, faltava-lhe.

Até porque o jovem-rapaz-homem-em-construção, definição que você, caro leitor, pode alterar, caso deseja que seja, perdera a mãe muito jovem, ainda criança, então naturalmente se via exposto a perguntas existenciais mais frequentemente e daí entendemos uma necessidade de normalidade na vida.

Sempre se questionava:

- Será que somos somente aquele ciclo da vida que aprendemos em ciências no ensino fundamental? Nascemos, crescemos, reproduzimos e morremos?

O jovem se culpava de muitas coisas, enquanto lidava com as perdas que a vida lhe proporcionara. O que almejava não era uma vida de luxo, ou era, mas era o que ele queria naquele momento. E ninguém tem o poder de julgar o que outrem quer em momento nenhum. Nem o próprio personagem principal dessa crônica.

Ele estava a caminho da faculdade quando parou na banca de jornal, que não vende mais tanto jornal, comprou um cigarro, tolo, e uma raspadinha: o prêmio era uma viagem paga pelas cidades do estado do Rio de Janeiro, algo que esse menino, esse homem, que no futuro viria a ser o Machadão tinha como desejo reprimido a vontade de fazer exatamente esse rolê. Pelo amor de Santo Cristo, sem julgamento. Apenas risadinhas.

Aqui começa a graça da vida do homem.

Ele pagou por aproximação no celular, como se o fabricante ou a operadora de celular propriamente que estivesse pagando a conta, com todo aquele sorriso de canto de boca, como quem diz:

- Tenho cartão, tenho celular, tenho tecnologia, tenho capital, rá-rá-rá.

Assim, mesmo, como se pronuncia: Rá-rá-rá.

Enquanto fumava o abominável Marlboro de melancia (essa porcaria nunca deveria ter sido liberada para consumo, droga do diabo), ele raspou a raspadinha. Cacofonia. Ele raspou. Pow-pow. Três tiros pro alto. Com a pedra do isqueiro ainda.

E... Ele... Ganhou! A... Viagem... Pelo... Rio... De... Janeirooo!!!

Quem diabos coloca como prêmio uma viagem pelo estado do Rio de Janeiro numa loteria? E quem compra? E quem ganha? Machadão, irmãos! Machadão!

Enfim, muito enfim, quando entrou em contato para receber o prêmio, ele questionou sobre qual era a quantidade de cidades que ele poderia visitar, já que no bilhete da raspadinha, não estava descrito, dizia apenas sobre o estado em si. Responderam... depois de meia hora ouvindo musiquinhas no melhor estilo lounge-chic-brega, que ele poderia visitar até três cidades, mas conversando com seu amigo advogado (absolutamente necessário sempre na vida ter algum amigo próximo advogado, isso é estratégia de existência, acreditem!), entendeu que ele poderia viajar por quantas cidades quisesse já que o ônus presumido é sempre de quem oferta a jogatina federal. Assim, Clébão, fez questão de realizar seu grande sonho, exigindo e viajando por todas as cidades do estado do Rio de Janeiro.

Ele foi de Petrópolis a Saquarema, de Madureira a Paraty. Noventa e dois municípios. Foi em todos. Cada um deles com suas características exclusivas. Conhecer estádios históricos como, por exemplo, Moça Bonita (Estádio do Bangu), foi a melhor coisa que poderia acontecer na vida do Machado. Abstrai que ele gostava de ser chamado por Machado porque parecia um nome de guerra e ele era fã do Capitão Nascimento. Ninguém é perfeito, né, Clébão.

Como tudo que é bom na vida, como a própria vida, uma hora, tem que acabar, a inesquecível tour chegou ao fim. Então, ao final de toda essa viagem pelo planeta Rio de Janeiro, Machadão, agora, sim, possuidor de muitos saberes, voltava para casa com toda a bagagem cultural imensa que o RJ proporciona. Chegou em casa cansado da viagem de ônibus. Ficou dois dias quase inteiramente deitado, para depois resolver correr no hospital e verificar se estava tudo bem. O médico da emergência do posto onde o pai trabalhava pediu mais exames porque as queixas não batiam. Não fazia muito sentido as reclamações dele, com o que o clínico-geral silenciosamente raciocinava.

Não fazia mesmo.

Para uma pessoa sadia.

Era um câncer.

Não naturalizemos essa doença. Mas entendamos que ela pode aparecer.

Inesperadamente. Literalmente a qualquer momento.

Apareceu para o Machadão, de vinte e um anos. Que disse que era forte, que aguentaria, que faria todo o processo de quimio necessário, mas que também se questionava sobre como um sistema de saúde que se propõe a oferecer o básico para a população, para ele próprio tinha ficado tão distante desta proposta.

Ele continuou indo para a faculdade. Começou o tratamento da quimio e outros paliativos. A vida do rapaz foi do céu ao inferno e não há exagero nessa fala. Mas ele tinha sorte. Por toda rede de apoio que tinha, foi cercado na mesma instância e extravagância. Por ter contatos conseguiu acesso a muita coisa. Recebeu todo apoio da família e amigos em tudo que fazia.

Entre sessões intravenosas e intermusculares, Cléber conheceu uma colega de quarto. Que esquecera de perguntar o nome, mas que já estava lá há um tempão. Ficaram dois dias juntos durante uns picos de náuseas que ambos tiveram em tempo quase magicamente similar.

Riram muito das bobeiras da vida. Se conectaram. Apesar da diferença de idade. Antes que pudessem trocar telefone, a senhora da maca ao lado, teve uma parada cardíaca durante a madrugada. Precisou ser levada para o CTI, porém Cléber logo foi liberado. Continuou um tratamento alternativo e as coisas foram avançando.

Alguns meses se passaram. O câncer dele regrediu, finalmente. O pai cuidou cem por cento do tempo, abandonando até o emprego. Eles tinham uma reserva guardada para o carro novo que comprariam no final do ano, acabaram gastando, mas pelo menos, o mal havia se afastado. Até quando, nem quem nunca teve câncer saberá.

Entre aulas no Casarão Velho e no Novo IACS, ele esbarrou bruscamente numa senhora ao atravessar a rua e logo pediu perdão.

Ele teve um estalo, um parar, um congelamento, uma respiração lenta e profunda. Quantas vezes você vê a sua vida na sua frente? Só que em outra pessoa? Quantas vezes você não vê?

Não era qualquer senhora. Era a sua colega de maca ao lado, que estava andando aos prantos pelos corredores da faculdade do rapaz.

- Meu deus, como você está e o que você faz aqui?

- Meu filho...

- Afinal, qual seu nome?

- Caroli...

Ela não conseguiu dizer nada. Ela só chorou.

Foram alguns minutos até ele entender que ele havia se curado porque, apesar de não viver uma vida de luxo, ainda assim mesmo, tinha acesso, condições, reflexões, uma rede de contato, uma cor de pele mais clara, que havia permitido que ele tivesse uma oportunidade de cura mais facilitada e que a sua ex-colega de cela, cela, cela, ainda estava absolutamente perdida na vida porque não tinha a mesma rede de apoio que o Machadão teve para então um dia, quem sabe talvez, depois de ser tudo e mais um pouco, se tornar o próximo Cléber Machado.

- Veja bem, não estou comparando situações até porque elas são distintas.

Quem disse isso???

Bem-vindo ao Rio de Janeiro do Cléber Machado, das pérolas dele, das coisas que somente ele proporciona, do Clébão, do Machado, do Machadão, do homem em construção.

Espero te ver na TV no futuro, okay!

Só não me diga mentirinhas, dói demais.

Que a Mão de Fátima abençoe sua caminhada. Esse símbolo é conhecido por auxiliar as pessoas, guiá-las e até ensiná-las sobre as situações vividas. É também um objeto ligado à sorte.

Importa você saber que você, Machadão, é um sujeito de sorte.

-A Fênix

terça-feira, 23 de maio de 2023

O Sabor da Esperança

 “Tia, posso usar seus lápis de cor?”

Gabriel, meu aluno de 6 anos, me resgata da teia dos meus próprios pensamentos.

“Pode, só não esquece de devolver depois.”

Entrego-lhe a lata com os lápis de cor e ajeito a mesa à minha frente. Percebo, só agora, uma

pilha de desenhos finalizados deixados pelas crianças à minha esquerda. Folheio-os,

calmamente. Três jogadores de futebol, quatro famílias, duas bailarinas e uma sala de aula. O

último me faz sorrir. Pedi às crianças que desenhassem o futuro, seja lá como ele seja. Levanto o

olhar e noto mais um desenho à minha esquerda, embora ninguém tenha vindo entregá-lo. A

folha A4 branca está praticamente vazia, a não ser por uma pequena figura no centro. Uma

mulher, com um lenço na cabeça e uma expressão cansada. Sinto a sala girar ao meu redor.

Tonta, levanto-me, subitamente, e vou cambaleando até o banheiro. “Já volto!”, grito para a

estagiária. Apoiada na pia, me encaro no espelho. Meus cabelos loiros, desbotados pelo tempo,

estendem-se até minha cintura. Sinto um aperto horrível no peito. Por quê? Abaixo-me e lavo o

rosto. Outra mulher me encara através do espelho. O lenço estampado estende-se até sua cintura

e o rosto cansado parece tão familiar quanto o meu próprio. “Quem é você?”, pergunto. A boca

da mulher se move em sincronia com minhas palavras.

Buzinas me arrancam do meu sonho em um salto. Meu coração corre dentro de mim, minha

cabeça pulsa e meu corpo está encharcado de suor. Nada disso é novidade pra mim. Vou até o

banheiro. Lenço, rosto cansado. Meu cérebro tem a mania tola de voltar ao passado quando o

presente é doloroso demais. Eu não o culpo. Quem sabe se ele não sonhasse tanto com o

passado, conseguiria lidar melhor com o presente. Mas a dor que mora dentro de mim só pode

ser desempacotada em seu próprio tempo; não é coisa que se obrigue. Entro no chuveiro e deixo

a água me levar embora. Penso em nada. Desde a doença, adquiri essa habilidade. Sempre achei

que fosse impossível, mas a verdade é que, com a dor, vem também o vazio. Procuro mantê-lo

na minha mente. O problema é quando ele ocupa meu peito, e me vem uma vontade horrível de

nunca mais levantar da cama. Saio do chuveiro e me arrumo, com calma. Daqui a pouco, vou

sair pra pedir ajuda. Pedir ajuda pra pessoas que muito provavelmente só vão me dirigir olhares

de pena e meios-sorrisos. Não as culpo, afinal, como poderia? Às vezes, porém, a injustiça disso

tudo me consome e eu só sei raiva. Enxergo raiva, como raiva, respiro raiva. Meu sangue ferve,

minha pele esquenta logo em seguida. Sinto fogo arder dentro do meu abdômen. Prefiro isso ao

vazio, porque não tem nada de que eu sinta mais falta do que me sentir viva.

Saio de casa lentamente. Olhares. Já me acostumei com eles. Caminho até meu destino,

ensaiando o que vou falar na cabeça. Tento me lembrar do sabor da esperança. Não consigo.


-boo

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Crônica Carolina

 Carolina atravessou a porta da sala, timidamente em passos curtos, como quem não quer chegar. Olhos marejados, cabeça baixa, expressão tristonha e intimamente envergonha. Envergonhada não apenas por estar na frente de um grande número de pessoas, mas por obrigar a si própria a recorrer ao último recurso. O recurso de se colocar à frente de pessoas nunca antes vistas e expor seus pesares, seu íntimo, sua luta.


Quem será Carolina? Será ela uma das tantas Carolinas mencionadas nas letras das músicas? Carolina maravilha feminina de Seu Jorge, Carolina cheirosa de Luiz Gonzaga, Carolina dos olhos fundos de Chico Buarque? Não. Carolina do povo. Carolina do povo pois recorre a ele para suprir o básico, o mínimo - a manutenção da sua morada, do seu teto.

Quantas Carolinas nos atravessam ao longo da vida e quantas vezes somos Carolina? Quando somos Carolina, não apenas no aspecto de dor. Mas na luta, na coragem, no ímpeto da cura, no pedido de socorro, no grito momentâneo de vitória - a vitória de mais um dia ou no sobreviver mais um dia. Carolina do povo.

Cobra

SATURNO PINTADO POR GOYA

Divino tempo que carcome a alma.

Eu não tenho a sensibilidade para escrever do terror da doença, da pobreza, da

existência como um todo.

A mulher na porta, quase muda, rubra com a vergonha de pedir por um futuro

nas salas de uma universidade. O relógio pavoroso que lhe cobra o aluguel de um

apartamento, a solidão, os dias no hospital...

A vileza de um mundo desigual.

Toma-me um pensamento repulsivo... o medo de estar doente, de ficar doente,

de perder os meus sonhos. Alguém sofre, e eu temo. Egocentrismo individual da era

contemporânea.

Meus medos se acumulam diante de minha pena, impotência quase eterna de

mudar o destino da mulher.

Há uma dúvida, ela permitiria que eu escrevesse sobre o superficial encontro de

destinos? Talvez ela fosse preferir o mais completo anonimato.

A carta... a mulher doente sem ter coragem de ler em voz alta seu pedido por

ajuda... a timidez diante do futuro.

Homens e mulheres que não sabem se terão onde viver no final de seu dia.

Eu não sou capaz de compreender a profundidade de suas dores. Deitada em

meu quarto, redigindo uma crônica no meu computador, tudo é rosa, e eu não quero

entender. O entendimento se baseia na dor, em uma injustiça humana após a outra.

Desejo minha ignorância infantil, meu privilégio tosco...

A enfermidade, a pobreza, o rosto da mulher, a vida dança uma valsa em um

chão duro e frio.

Massacra-se a alma.

A terrível esperança torce para que a mulher seja vitoriosa. Cronos devora seus

filhos, mas Deus é piedoso.


Christine Daáe

Refém do Tempo

Kronos. Tempo. Anos, meses, horas, minutos, segundos. Tudo no mundo é medido

baseado no tempo. Tudo é friamente calculado : anos de duração da faculdade, minutos até o

ônibus chegar, meses até seu corpo sucumbir à uma doença. Para dona Carolina, o tempo

mede sua vida. Desde a descoberta de seu câncer, Kronos tem ocupado um espaço maior em

sua rotina. Quanto tempo ainda tenho? Quanto tempo até ser despejada, por não conseguir

pagar o aluguel?

E é com essa perspectiva, com essa angústia que só o passar dos ponteiros do relógio

pode causar, que ela decide pedir dinheiro. Pede pois não tem como arcar com os custos de

seu tratamento. Pede porque o aluguel está para vencer. E, principalmente, pede pois o tempo

continua a decorrer ,e seu preço é alto.

E, ao pedir, é o tempo que a acompanha. Quanto tempo até o professor notar sua

presença na porta e deixá-la entrar? Quanto tempo até os alunos darem atenção para ela, ou

até mesmo para decidirem que o que ela tem para dizer não merece seu zelo?

São esses pensamentos que invadem a cabeça de dona Carolina ao entrar na sala e

olhar para a turma. Olhar para pessoas que nada tem a ver com sua vida mas que podem, de

alguma forma, transformá-la.

Quantos minutos dona Carolina tomou daquela aula? A resposta ela não faz ideia.

Não sabe porque além de determinante, o tempo também é relativo. Para ela, entrar e pedir

durou uma eternidade. Sempre dura. É uma sensação de impotência, de não ter os rumos de

sua própria vida.

E assim dona Carolina segue. Vai para outra sala, interromper outra aula, tentar

qualquer tipo de ajuda. E com ela, sempre com ela, o tempo. Caminhando ao seu lado,

lembrando-a a todo momento de que está passando. Seja rápido ou não, ele está passando.

Mas em algum momento ele para... E, junto dele, dona Carolina terá que parar também.

- Noite da grande paz dos teus olhos

Carência, o quanto isso nos impacta?

Em tempos de fortes tribulações sempre precisamos de ajuda, mas quando sua vida está

em risco se agrava. Por mais que possivelmente você não tenha uma fé, algo lhe leva a

acreditar nas chances mais remotas ou então o desespero consumirá seu juízo, pois é cruel

se sentir abandonado. Quando você é um expectador de um indivíduo que passa por isso

se torna mais doloroso ainda, afinal não pôde-se fazer muito para com o próximo já que na

maioria dos casos quem precisa de ajuda é o mesmo.

O altruísmo na ideia é algo completamente lindo, mas pouco é dito sobre o que ele causa

negativamente, em função dos sacrifícios exercidos. Saio de casa com 2 reais trocados na

intenção de comprar algumas paçocas, mas me deparo com uma senhora que precisa de

dinheiro para sua passagem, sem hesitar automaticamente entrego a nota a ela. Entretanto,

como não me solidarizar com uma senhora? Poderia ser minha vó, mesmo que saiba que

não é, a sensibilidade não me deixa ignorar a falta do mínimo que o próximo tem.

Será isso de fato minha bondade ou só não quero ficar com a consciência pesada? Sou

uma alma caridosa, ou apenas tenho expectativas sobre uma gratificação a partir dessas

ações. Posso afirmar que a sensação de ajudar o próximo me parece satisfatória.

- Giorgio Armani

Humanidade

 A sensação de ajudar alguém está entre as melhores que podemos vivenciar,

talvez esse seja um pensamento egoísta, mas creio que a ajuda seja uma via de mão

dupla, uma troca de sentimentos, na qual ambas as partes são beneficiadas de alguma

maneira.

Não me sinto capaz de definir de onde tal sentimento vem, talvez da realização

de que vivemos em um sistema tão cruel, e que ajudar alguém necessitado, mesmo que

um único indivíduo em milhões que atravessam situações parecidas, nos dá a sensação

de fazer nossa parte contra tal injustiça. Ou talvez a explicação seja mais simples, a

tendência biológica de nos sensibilizarmos pelo próximo, empatia. Portanto, quem ajuda

o outro, também ajuda a si mesmo, nutre a própria alma, afirma a humanidade que

possui dentro de si.

Mas apesar da empatia, não me julgo apto a descrever o sentimento de quem

recebe o auxílio, presumo que não cabe a mim, pois nunca estive em tal posição. Mas

suponho que seja algo entre tristeza e raiva, mais próximo da segunda, pelo simples fato

de que aquela posição lhe foi conferida, não há direito de escolha. Creio, portanto, que

tal sentimento também transparece em mim quando estou diante de situações como a de

Caroline, o sentimento positivo de poder ajudar alguém necessitado sofre um contraste

com a indignação por existirem pessoas em tal situação, enquanto outras vivem no luxo.

Mais do que uma crítica ao capitalismo, é uma reflexão sobre nós como seres humanos

normalizarmos esse tipo de situação.


-Alek Johnson

A doença do capital

 Tem dias que a gente acha que estamos dentro de um filme, vivendo aquela cena onde tudo dá errado e nenhum dos personagens sabe o que fazer. Quando descobri que tinha câncer foi assim que me senti. Perdida, abandonada, e acima de tudo amedrontada.

  O medo tomou conta de mim imediatamente, as coisas horríveis que já havia escutado sobre os sintomas vieram à cabeça e pensei em cada uma das pessoas que conhecia que perderam algum ente querido que possuía o mesmo diagnóstico que o meu.

  Depois do primeiro choque e dos primeiros meses convivendo com a doença, percebi que a pior parte ainda não havia chegado, afinal, quando se vive no capitalismo tudo pode piorar. Por conta da doença não era viável nem possível trabalhar, as contas continuavam chegando e eu me via cada vez mais perdida e impotente. Pedi ajuda para todos que consegui, família, amigos, banco, ongs, me agarrava em qualquer possibilidade de melhora e de ajuda financeira. Ainda restava esperança.

  O tempo passou e a situação não melhorou exatamente, claro que o fato de estar viva por si só já era motivo suficiente para agradecer, mas as contas estavam atrasadas, eu me sentia cada vez mais vulnerável e a saúde mental já nem existia mais. Me dava raiva saber que em algum lugar existiam pessoas extremamente ricas, donas de um dinheiro que nem elas sabiam exatamente de onde veio, curtindo a vida sem se preocupar se teriam luz em casa no dia seguinte ou algo de comer na geladeira. 

  Me perguntava se eu tinha nascido errado, mas a verdade é que o sistema é tão horrível que nos faz acreditar que a culpa disso tudo é nossa, é do universo, é de qualquer um menos dele. Hoje em dia quando acordo cedo para mais uma vez ir atrás de algum jeito de pagar minhas contas, faço questão de lembrar que não é culpa minha, de Deus, ou do destino. É de um sistema falido que nos cega para que não vejamos sua podridão, e que caso consigamos ver, não possamos fazer nada a respeito.


  • Apollo Creed  

Dificuldades

 Peguei o elevador para subir de andar em andar, indo de sala em sala, até chegar ao quinto

andar, andando bem lentamente pois os movimentos bruscos me causam dor de cabeça,

fiquei na frente da penúltima porta do corredor esperando um sinal do professor que estava

na sala liberar a minha entrada. Entrei lentamente na sala e fiquei perto da porta, não

conseguia falar, parecia que um nó se formou na garganta e para segurar o choro e evitar a dor

de cabeça resolvi pedir alguém para ler o que escrevi. Enquanto a pessoa lia o meu

comunicado, um filme se passava na minha mente, lembro de quando o médico disse que o

diagnóstico deu positivo para o câncer, fiquei aterrorizada. Por mais que fosse para ajudar na

minha cura, os dias que eu precisava ir para a radioterapia eram os piores. E o pior era ter

pedido demissão do emprego, pois já não tinha forças e precisava ficar de repouso, tudo ficou

mais difícil após isso, passei a viver de doações para conseguir manter o aluguel da casa, para a

radioterapia e os remédios. Esperar a boa vontade das pessoas enquanto você não pode fazer

nada é desesperador, não ter ninguém para ajudar, não ter família ou amigos, não ter um

amparo sequer. Ter que enfrentar tudo isso sozinha, não ter a certeza de que vou conseguir

pagar o aluguel da casa, não saber se vou ficar bem, tudo é bem angustiante. Ao terminarem

de ler meu comunicado, lágrimas brilhavam nos meus olhos e meu rosto estava pálido,

agradeci a turma e ao professor pela oportunidade de dar meu comunicado e saí da sala. Fui

embora pensando que já tinha ido a todos os lugares possíveis para pedir ajuda e já estava

bem cansada, nesse momento a tristeza, dor e angústia ultrapassaram meu rosto. Precisava

esperar alguém doar dinheiro para me ajudar, esperar para descobrir se irei conseguir pagar o

aluguel, esperar o resultado da radioterapia, que torcia muito para dar certo, só me restava

uma alternativa, a mais difícil, esperar.


Marimar

Cronos e a doença incurável

Carolina, uma mulher de estatura mediana, que usa roupas simples e um lenço na

cabeça, tem câncer. Minha avó também teve câncer. Mas esse texto não é somente sobre

a minha avó ou Carolina, é sobre a vida, o tempo e o câncer.

Não sabemos muito sobre Carolina além de que está passando por dificuldades para

pagar seu aluguel e que tem câncer, do qual não sabemos muito também, apenas que é

na cabeça. Mas sobre essa doença na minha avó, eu sei muito. Não era na cabeça, era no

intestino. Quando descobrimos, era tarde demais, já estava em metástase. Infelizmente,

a minha família e a da Carolina não serão as últimas a serem afetadas por essa doença.

Uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer realizada no ano passado revelou que são

esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano de 2023 a 2025.

São em momentos como esse de fraqueza, medo e vulnerabilidade que refletimos sobre

como vivemos e se vivemos bem. E é aí que vemos que talvez pudéssemos ter vivido

melhor, que talvez pudéssemos ter sido mais gentis, carinhosos, tido uma vida mais

saudável, visto mais filmes e séries, lido mais livros e nos estressado menos. Acontece

que com nossas rotinas, a correria do dia e a vida acontecendo, não temos cronos

(tempo) para pensar nessas pequenas coisas. Mas, afinal, não são dos detalhes que a

vida é feita?

Não temos controle do tempo e nunca teremos. O que podemos fazer é observar nossas

ações e tentar sermos mais gentis, leves e compreensivos. Principalmente nós como

futuros jornalistas, seja dando uma informação a alguém na rua até lendo um recado

curto e direto de alguém que entrou na sua sala para pedir ajuda.

Espero que consigamos dar voz às pessoas e cumprir nosso papel social, independente

da área jornalística. Também espero, de verdade, que a Carolina consiga pagar seu

aluguel e ter êxito no seu tratamento contra o câncer, que torne o título dessa crônica,

“doença incurável”, sem sentido para a história dela e, quem sabe, volte a viver da

melhor forma todo tempo que ainda tiver.

- Sargento Santiago

Mais uma Terça-Feira

Terca-feira, mais um dia comum de nossa semana. Mas nessa Terça algo diferente aconteceu, algo que ficou em minha mente durante o resto do dia. Aula de oficina de leitura, estávamos lendo crônicas, enquanto alguém pede para entrar na sala. Não consegui ver quem era, provavelmente seria algum aluno querendo divulgar algum trabalho ou ação, mas o professor não deixou entrar e fez um sinalzinho de que voltasse depois. A turma continuou lendo a crônica. Após terminar o debate, o professor pediu para que a pessoa que esperava do lado de fora entrasse. Foi impactante. Não era nenhum aluno ou professor e sim uma senhora. Uma senhora com uma aparência pálida e bem nervosa. Ela nos contou que estava com câncer no cérebro e que não tinha mais condições de trabalhar, por isso estava com dificuldade de pagar o aluguel do apartamento onde morava com suas duas filhas crianças. Ela estava nervosa, disse que tinha vergonha de precisar fazer isso. Aquele nervosismo e angústia que transparecia nela me deixou mal. A sala estava em completo silêncio, ninguém esperava aquilo que estava acontecendo. A senhora pediu para que alguém pudesse ler a carta que ela tinha feito, já que ficava com muita dor de cabeça quando estava nervosa. Nosso colega leu. A sala continuou em silêncio. O professor colocou o pix dela no quadro e a senhora foi embora. Naquele momento a sala ficou em silêncio durante uns 2 minutos. Todos ficaram impactados com o que tinha acontecido, talvez por não esperarem aquilo dentro de uma sala de aula. Uma situação muito delicada. Fiquei o resto do dia pensando naquilo que tinha acontecido. Dona Carolina, esse era o nome da senhora que mudou minha Terça-Feira.

- Artubol da Lua

Carolina(s)

        Ouvir Dona Carolina contar sua história foi como voltar ao passado. Revisitar um tempo em que os corredores de casa estavam preenchidos pela ansiedade, pelo medo. A dor em sua forma mais pura e silenciosa. A dor em uma doença.

     As circunstâncias, porém, eram diferentes. Dona Carolina pedia por auxílio. Precisava, então, de uma empatia que sobrepõe o emocional e perpassa a linha do financeiro. É sobre o apoio, em todas as suas formas. Quem poderia duvidar?

    Somos humanos. Escolhemos acreditar na palavra de alguém. Nossas vivências guiam nossas decisões. Eu, por exemplo, escolhi acreditar na senhora que, gentilmente, pediu por um pequeno espaço, pediu por voz, pediu por ajuda.

      Jamais saberemos da verdade. Nunca teremos certeza ou clareza sobre aquilo que envolve o outro. Principalmente um outro que está tão longe, mas também tão perto. 

    Fico com a (re)lembrança que Dona Carolina me passou quando contou sua verdade: agradecer por cada dia vivido. Quem, em algum momento, teve um encontro com o câncer, ainda que em outra pessoa, sabe o peso disso. 

       Agradeça.

  • Lia Navarrete

Baseado em fatos reais.

     Não somos nós, não são os nossos personagens, não é no nosso cenário, por que então, dar voz a uma narrativa que não nos pertence?

     Diante de todas as possibilidades que nos foram permitidas pra contar a mesma história, o que mais me deixou reflexiva foi ter percebido como é muito fácil pra nós, ignorar as histórias que não são nossas... Afinal, é desconexo colocar um capítulo de Stephan King em um livro de contos de fadas.

     É muito fácil tratar histórias como a de dona Carolina como casos a parte de nossa realidade, quando na verdade, ela é tudo de mais real que há no mundo. Vivemos dentro de nossos próprios mundos cheios de privilégios e não percebemos que na verdade somos nós que vivemos em um filme de ficção. Os verdadeiros “baseados em fatos reais” são os que contam histórias como a de Dona Caroline.

     Pra ser honesta, acho que falar sobre dona Carolina só nos parece “desconfortável” e “insensível” porque estamos muitos acostumados a fechar os olhos pra realidade.

     Podemos estar certos de que o filme de terror que assistimos não nos assustou, mas se os créditos constarem: “baseado em fatos reais”, o filme que antes não havia nos afetado, passa a ser: dormir com a luz acesa só pra garantir.

     Todos nos empunhamos o mantra: “viva todos os dias como se fossem o último”, mas só começamos a aplica-lo quando ligamos a TV e vemos o jornal anunciar uma grande tragédia com milhares de vítimas.

    Não vemos necessidade de dizer “eu te amo” pros nossos pais todos os dias, mas sentimos uma necessidade desesperada de faze-lo quando algo ameaça nossa vida e sentimos que aquela seria nossa última oportunidade.

    Fiquei pensando que Dona Caroline ter entrado na nossa sala, justamente nessa aula que nos faria escrever e refletir sobre ela, foi mais um desses lembretes da vida, que nos fazem acordar pra vida real. Não acho justo só tampar os olhos nas cenas que nos assustam, no filme da vida.

     As vezes, tudo que aquele personagem deixado de lado pela própria produtora precisa, é ser inserido em um novo filme.

-Meu Primeiro Fake


Angústias de 16 de maio


 Sinto o peso dos olhares alheios em cima dos meus ombros, mais um que tenho que carregar em minha trajetória. Caminho pelas ruas de Niterói completamente desesperada, com o meu coração pedindo socorro e meus pulmões pedindo descanso. Meu aluguel está atrasado faz dois meses, porém não tenho condições de pagar, tampouco condições de arrumar um trabalho digno pois o meu câncer me impossibilita de fazer qualquer atividade mais pesada, a realidade é que eu sequer deveria estar perambulando pelos cantos, mas se eu  não andar, não sobreviverei.

 Chego próximo à Estação Cantareira, rumo ao Campus do Gragoatá, para persistir na busca diária por ajuda. Vejo rostos jovens, sorridentes, olhares de quem tem belos planos para o futuro e lembro da minha juventude, de quando a Carolina era uma menina sonhadora e despreocupada com as mazelas do mundo. Finalmente tomo coragem e entro no Campus, passo de prédio em prédio, de porta em porta, implorando por esmolas. Em algumas salas pude falar sobre meu sofrimento, já em outras nem me deram a palavra.

 Próximo  das 17 horas entro no Bloco A, subo para o quinto andar com extrema dificuldade pois o restante da energia que eu tinha estava sendo drenada. Mas eu não poderia desistir, afinal estou lutando pela minha vida, mas será que eu deveria passar por tanto sofrimento? Por que Deus ainda permite que eu sobreviva por tanto tempo? Não seria melhor ele dar um fim à minha vida de uma vez? Me questionava enquanto permanecia em frente à uma das salas, aguardando uma oportunidade de falar sobre as minhas angústias.


-James Clarkemann

Não Cabe a Mim

 Não consigo julgar, desconfiar ou temer dona Caroline. Meu coração não

permite. Sinto uma dor imensa quando vejo alguém passando por situações similares à

da senhora. Me enxergo no lugar dela, penso o que seria de mim se eu não possuísse o

luxo que possuo hoje e se sequer seguiria em frente. Eu não teria coragem de estar onde

Caroline estava. Apesar de cursar jornalismo e me enxergar no meio jornalístico, não

cabe a mim, como ser humano checar a veracidade nas falas dela.

Porém, cabe a mim sentir compaixão. A luta contra o câncer não é simples e está

presente no dia a dia de muitas famílias, inclusive na minha. Lutei ao lado de minha avó

contra um tumor no pulmão e sei o quão árduo é o cotidiano de um paciente. Passo mal

apenas imaginando como seria se fosse minha avó no lugar de Caroline.

Mas não me sinto bem por não estar no lugar dela ou por ser uma desconhecida

passando por isso. Me sinto péssima. Quando Caroline entrou na sala, eu senti a dor que

mencionei no início do texto. Essa dor não veio a mim exatamente pela empatia que

senti, mas sim porque me senti incapaz. Sou incapaz de ajudar uma senhora que está

passando pelo mesmo que minha avó passou e não posso fazer nada a respeito. Não

posso olhar para ela e dizer “Está tudo bem, Carol. Eu vou lhe ajudar”. O meu coração

ardia e meus olhos tremiam a cada suspiro que Caroline dava. E eu não podia fazer

nada. Eu não posso e não fiz nada.

Tudo que posso fazer é torcer pelo bem dela. Eu não sou uma guria muito

religiosa, mas as vezes me rendo ao poder da crença para contribuir minimamente. Sinto

muito, Carol, por não poder lhe ajudar, mas saiba que eu acredito na sua força e na sua

resistência, e que tudo acabará bem.


- Flash Casanova

A balança de Deus

 Nunca me foi questionado sobre minha opinião relacionado a tais situações. Situações de vulnerabilidade, fragilidade em que muitas pessoas se vem presas sem um modo de sair. Mesmo não me sendo questionado, já pensei sobre isso e não posso dizer que foram os pensamentos mais empáticos. 


Por mais que seja um erro pensar de maneira tão egoísta; tão egocêntrica, não posso negar a pessoa que sou e fui criada para ser. Digo criada, pois fui criada pelos meus progenitores, que afirmo dizer não serem as pessoas mais solidárias. Acho que por muito tempo eu fui apenas um reflexo de suas ações, vivendo na ignorância e de olhos fechados para problemas alheios. Eu já tinha muitos problemas próprios para lidar.

Mas esta experiência nos foi dada. Dizer o que achamos sobre a situação de uma mulher que parecia se sentir humilhada por necessitar de ajuda de desconhecidos. Eu não estava lá... Sei pouco sobre a história dela ou seus sentimentos, sei apenas o que me foi falado. Ainda sim, nunca pensei que nos seria proposto discutir sobre tal situação de maneira tão insensível.

Não somos Deus para julgar, não temos sua balança para medir a verdade e a justiça. Dizer se aquela mulher estava mentindo ou não, se sua história é sofrida o suficiente para receber ajuda ou não, isso não é algo que possamos discurtir de maneira tão branda. Eu me abstenho de tal julgamento. 

- Santa do Nemeton