Divino tempo que carcome a alma.
Eu não tenho a sensibilidade para escrever do terror da doença, da pobreza, da
existência como um todo.
A mulher na porta, quase muda, rubra com a vergonha de pedir por um futuro
nas salas de uma universidade. O relógio pavoroso que lhe cobra o aluguel de um
apartamento, a solidão, os dias no hospital...
A vileza de um mundo desigual.
Toma-me um pensamento repulsivo... o medo de estar doente, de ficar doente,
de perder os meus sonhos. Alguém sofre, e eu temo. Egocentrismo individual da era
contemporânea.
Meus medos se acumulam diante de minha pena, impotência quase eterna de
mudar o destino da mulher.
Há uma dúvida, ela permitiria que eu escrevesse sobre o superficial encontro de
destinos? Talvez ela fosse preferir o mais completo anonimato.
A carta... a mulher doente sem ter coragem de ler em voz alta seu pedido por
ajuda... a timidez diante do futuro.
Homens e mulheres que não sabem se terão onde viver no final de seu dia.
Eu não sou capaz de compreender a profundidade de suas dores. Deitada em
meu quarto, redigindo uma crônica no meu computador, tudo é rosa, e eu não quero
entender. O entendimento se baseia na dor, em uma injustiça humana após a outra.
Desejo minha ignorância infantil, meu privilégio tosco...
A enfermidade, a pobreza, o rosto da mulher, a vida dança uma valsa em um
chão duro e frio.
Massacra-se a alma.
A terrível esperança torce para que a mulher seja vitoriosa. Cronos devora seus
filhos, mas Deus é piedoso.
Christine Daáe
excelente escrita
ResponderExcluirAdorei seu ponto de vista
ResponderExcluirAdoro sua escrita. A forma como você poeticamente desenvolve o texto nos conecta com o que você pensou. E já aprendi um verbo novo: carcomer. Obrigada!!
ResponderExcluirLindo texto. Assim como você, refleti sobre meus privilégios após o nosso encontro com Carolina. Parabéns pela escrita!
ResponderExcluirChristine, eu adorei seu texto. Adorei essa relação de mitologia e religião no final, uma ótima forma de terminar. Posso te dizer que seus textos vêm ficando cada vez mais claros sem perder a subjetividade que lhe é tão característica. Muito bom!
ResponderExcluirAmei seu texto. A linguagem lírica, as metáforas e as reflexões que elas provocam tornam essa crônica memorável, sem dúvidas.
ResponderExcluirAdorei o texto, um dos primeiros de sua autoria que eu compreendo e gosto, como disse Camélia esse texto é bem mais claro que os outros mas ainda tem seu toque de subjetividade que o faz ser seu. Muito bom!
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