sábado, 27 de maio de 2023

VIAGEM À LUA DE GEORGES MÉLIÈS

Noite da grande paz de seus olhos. O tremor diante da brisa de um céu escuro

que devora os sonhos de uma garota. Sentada, serena, observando os olhos de sua

paixão, petrificada em uma varanda, como a memória de um verão longínquo. Donde

está sua máscara, juventude enamorada?

Reduzo-me a escrever sobre o seu nome, não ouso adentrar os seus medos e suas

paixões. Se Nina existiu ou não, é uma curiosidade efêmera e quase morta. Quero saber

somente de sua poesia, sobre o verbo diante da palavra, o enigma da esfinge, você

perdida em um hotel no Egito.

Tanto como Clarice, não tenho a pretensão de falar sobre o filme do Bergman,

falo sobre as estrelas que refletem a antiguidade nos céus quando penso em sua persona,

o que seria a paz que se reflete nos olhos de outrem quando todos já estão a dormir em

meio a madrugada? Talvez venha de uma cidadela perdida, talvez seja uma figura

urbana e ensandecida.

Retiro as pretensões da muda atriz e da enfermeira.

Determino seu protagonismo teatral: figura heroica grega a determinar seu fado,

sua hubris te cobre de sangue, suor e tragédia. Não há paz, não em um barco se

aproximando da guerra, e os Deuses, ídolos politeístas, gritam que você não terá vitória.

Tennessee Williams te impõe a melancolia, e Shakespeare escreve mil comédias em

torno de seu romance, ora se ri e chora, tudo ao mesmo tempo. A noite é permeada de

carruagens e de cavalos com olhos calmos, e todos berram e aplaudem diante de duas

máscaras distintas.

Diante da rosa, retorna para uma mesa solitária na casa de sua avó, pensa em

seus amores e pensa nas árvores que tomam o quintal com sua natureza romântica.

Sonha, existe e pondera. Você não existe além de suas palavras, imagino-te e destruo

sua permanência física.

Há um certo horror em imaginar uma pessoa real. Para mim, você não seria

capaz de existir, suas ideias são além de um corpo. Transtorna-me a pesada

corporalidade humana.

Assim, decido quem és, e te transformo na lua, noturna e distante, em um céu

misterioso e agoniante.


Christine Daáe

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