Noite da grande paz de seus olhos. O tremor diante da brisa de um céu escuro
que devora os sonhos de uma garota. Sentada, serena, observando os olhos de sua
paixão, petrificada em uma varanda, como a memória de um verão longínquo. Donde
está sua máscara, juventude enamorada?
Reduzo-me a escrever sobre o seu nome, não ouso adentrar os seus medos e suas
paixões. Se Nina existiu ou não, é uma curiosidade efêmera e quase morta. Quero saber
somente de sua poesia, sobre o verbo diante da palavra, o enigma da esfinge, você
perdida em um hotel no Egito.
Tanto como Clarice, não tenho a pretensão de falar sobre o filme do Bergman,
falo sobre as estrelas que refletem a antiguidade nos céus quando penso em sua persona,
o que seria a paz que se reflete nos olhos de outrem quando todos já estão a dormir em
meio a madrugada? Talvez venha de uma cidadela perdida, talvez seja uma figura
urbana e ensandecida.
Retiro as pretensões da muda atriz e da enfermeira.
Determino seu protagonismo teatral: figura heroica grega a determinar seu fado,
sua hubris te cobre de sangue, suor e tragédia. Não há paz, não em um barco se
aproximando da guerra, e os Deuses, ídolos politeístas, gritam que você não terá vitória.
Tennessee Williams te impõe a melancolia, e Shakespeare escreve mil comédias em
torno de seu romance, ora se ri e chora, tudo ao mesmo tempo. A noite é permeada de
carruagens e de cavalos com olhos calmos, e todos berram e aplaudem diante de duas
máscaras distintas.
Diante da rosa, retorna para uma mesa solitária na casa de sua avó, pensa em
seus amores e pensa nas árvores que tomam o quintal com sua natureza romântica.
Sonha, existe e pondera. Você não existe além de suas palavras, imagino-te e destruo
sua permanência física.
Há um certo horror em imaginar uma pessoa real. Para mim, você não seria
capaz de existir, suas ideias são além de um corpo. Transtorna-me a pesada
corporalidade humana.
Assim, decido quem és, e te transformo na lua, noturna e distante, em um céu
misterioso e agoniante.
Christine Daáe
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