sexta-feira, 19 de maio de 2023

Crônica Carolina

 Carolina atravessou a porta da sala, timidamente em passos curtos, como quem não quer chegar. Olhos marejados, cabeça baixa, expressão tristonha e intimamente envergonha. Envergonhada não apenas por estar na frente de um grande número de pessoas, mas por obrigar a si própria a recorrer ao último recurso. O recurso de se colocar à frente de pessoas nunca antes vistas e expor seus pesares, seu íntimo, sua luta.


Quem será Carolina? Será ela uma das tantas Carolinas mencionadas nas letras das músicas? Carolina maravilha feminina de Seu Jorge, Carolina cheirosa de Luiz Gonzaga, Carolina dos olhos fundos de Chico Buarque? Não. Carolina do povo. Carolina do povo pois recorre a ele para suprir o básico, o mínimo - a manutenção da sua morada, do seu teto.

Quantas Carolinas nos atravessam ao longo da vida e quantas vezes somos Carolina? Quando somos Carolina, não apenas no aspecto de dor. Mas na luta, na coragem, no ímpeto da cura, no pedido de socorro, no grito momentâneo de vitória - a vitória de mais um dia ou no sobreviver mais um dia. Carolina do povo.

Cobra

5 comentários:

  1. AMEI seu texto. Achei incrível a analogia ás musicas. Um texto muito forte e com uma beleza poetica muito bonita

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  2. Texto incrível!! Amei demais sua escrita!! Curto, mas extremamente potente!

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  3. Gostei muito das referências às músicas e do parágrafo que nos coloca a pensar nos sentimentos da Carolina em nós. Boa escrita!

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  4. Muito bom, profundo, objetivo, bem construído e bem escrito. Adorei!

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