Giullia nasceu crente. Assim mesmo, direto, curto, sem muitas explicações. Foi concebida numa família cristã onde não existia a mera possibilidade de não fazer parte daquilo. Cultos, escolas dominicais, grupos de louvor, retiros, batizados, Giullia estava em todos. Fazia parte de todos os ministérios que conseguia, passava mais tempo na igreja do que em sua própria casa e seus únicos amigos eram os colegas de célula.
Vivia para a religião, isso tudo para esconder seu segredo mais sombrio, sua vontade mais obscura, seu pecado mais carnal. Giullia gostava de meninas. Se sentia atraída por elas. O que não seria nada demais, caso não fosse extremamente proibido dentro de sua família e um pecado dos grandes dentro da igreja.
Começou achando que era coisa de sua cabeça, uma paixãozinha boba ou até mesmo uma confusão mental, algo que passaria assim que ela pusesse os pés na igreja. Até que percebeu que o santuário não era mais lugar de refúgio quando se apaixonou por uma das amigas de louvor. Tentou se afastar, mudar de igreja, jejuar e pedir perdão pelos pensamentos profanos que tinha sempre que encontrava com essa amiga. Nada adiantava. Seus pais a obrigavam a frequentar a mesma igreja que eles, ela era importante em todos os ministérios que participava e por mais que pedisse perdão, não conseguia deixar de sentir o que sentia.
Desejava poder contar aos pais sobre seus sentimentos, sair da igreja sem deixar rastros, contar a sua amada o quanto a desejava e se mudar para um lugar bem longe onde as pessoas fossem aceitas sendo o que são, sem tirar nem pôr. Queria ser livre, não se sentir culpada por uma coisa que nem sequer teve o poder de escolher.
Mais que isso, no fundo, Giullia desejava ser aceita. E se as consequências dessa aceitação e dessas migalhas de amor fossem ter que reprimir tudo o que sentia no seu interior, ela faria sem pensar duas vezes. Não só faria como fez. Viveu a vida inteira reprimida, dentro de um lugar que se soubesse da verdade de seus sentimentos a expulsaria para sempre, orando para que um dia Deus a curasse desse mal invisível.
Não curou. Giullia passou o resto de seus dias enclausurada dentro de si, esperando perdão por um pecado que nunca sequer se deixou cometer.
Apollo Creed
Apollo Creed, é difícil ter que reprimir seus sentimentos e lidar quando o seu maior desejo é simplesmente ser aceita como se é por família e amigos. Sinto muito por ter vivido/viver essa situação.
ResponderExcluirSeu texto está muito bem escrito,adorei. E escrevemos sobre o mesmo tema,o que me gerou uma maior identificação. Ótimo texto!
ResponderExcluirSinto muito pela sua dor. Espero que encontre uma saída saudável para lidar com isso. Ainda assim, com toda essa dor, você escreveu de forma excelente! Parabéns, Apollo!
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