Paradoxo do Desejo

Considero minha vida um grande ciclo de desejos, desejo que a aula acabe logo

para que eu chegue em logo em casa, desejo que os dias passem para que chegue o fim

de semana, que os meses passem para que cheguem as férias, que os anos passem e que

a escola termine. Hoje, desejo que tudo tivesse passado mais lentamente, e que pudesse

voltar a vida sem preocupações dos tempos de escola. Caso precisasse eleger meus

maiores desejos, creio que o de reviver momentos especiais, apesar de clichê, marcaria

presença no pódio.

Não excluo aqui o desejo material, mesmo considerando-me um crítico ferrenho

do consumismo, nem o sexual, que é intrínseco a existência humana, mas destaco, em

uma espécie de devaneio filosófico, o desejo de compreender e ser compreendido. E

com tal afirmação não me refiro ao ato de compreender como quem entende uma

palavra ou um texto, mas ao de quem interpreta completamente e acolhe o outro de

forma isenta e livre de julgamentos, conexão com tamanha profundidade que não sou

capaz de afirmar como existente. Temo que, além do pódio dos maiores sonhos, tal

anseio também compartilhe com o desejo de voltar no tempo, outra classe: a dos sonhos

impossíveis de serem realizados.

A fim de fechar esse sádico ranking , concluo que há de fato um ciclo, e que a

satisfação eterna não é parte da composição da experiência humana, é provável que,

mesmo que os desejos mais inventivos pudessem ser realizados, seriam substituídos por

outros mais inventivos ainda. E, portanto, determino como maior desejo reprimido a

vontade de não desejar, de sentir-se satisfeito, anseio que dessa vez afirmo com

veemência: pertence ao campo do impossível.

-Alek Johnson