Desejo é a dor que a tua ausência me causa

“Qual o seu desejo reprimido?”. Assim que fiz essa pergunta para Nina,vi sua

fisionomia mudar completamente. Antes, seu rosto estava tranquilo,sereno. Mas assim que

minhas palavras a atingiram vi sua face retorcer, e o brilho de seus olhos (característica

permanente de sua pessoa) sumir.

Após o estranhamento pela pergunta inusitada ter passado,Nina começa a se abrir.

Entre pausas receosas e desvios de olhares, ela decide expôr seu íntimo a mim.

Nina conheceu seu desejo reprimido em um dia extremamente especial: era seu

aniversário. Após se encontrarem ao acaso (a pessoa em questão era amiga de uma

conhecida),o interesse surgiu quase que imediatamente. Conversaram por um longo período

e,ao se despedirem, trocaram telefone.

Ao voltar para casa,Nina continuou pensando no que tinha acontecido.Talvez,por ter

sido a primeira vez, ela tenha ficado confusa. Afinal, em toda a sua vida, só tinha se

interessado por homens...

Com o passar do tempo, as duas mantiveram contato. Falavam sobre todos os temas,

desde coisas banais até questões mais íntimas. Era como se elas se conhecessem há séculos,

apesar de só terem se visto pessoalmente uma vez. Em uma dessas conversas, Nina revelou o

que sentia. E, apesar de já desconfiar, teve a confirmação de que era recíproco.

Saber que o sentimento entre as duas era mútuo ao mesmo tempo que deixou Nina

feliz, a destruiu também. Isso porque ela sabia que nada aconteceria entre elas. Nina não

sabia como sua família reagiria. E,só de pensar em falar com eles, já se arrependia.

Então ela guardou para si. Aquela pessoa,com quem ela tinha criado uma conexão tão

forte, com quem se sentia confortável de ser quem ela era, havia se tornado seu desejo

reprimido. Mesmo tentando esquecer esse sentimento,Nina sabia que no fundo sentia uma

ausência enorme. Ausência essa que traduzia seu desejo,que representava o quanto que ela

queria ter vivido ao lado dessa pessoa.

- Noite da grande paz dos teus olhos