sexta-feira, 19 de maio de 2023

Refém do Tempo

Kronos. Tempo. Anos, meses, horas, minutos, segundos. Tudo no mundo é medido

baseado no tempo. Tudo é friamente calculado : anos de duração da faculdade, minutos até o

ônibus chegar, meses até seu corpo sucumbir à uma doença. Para dona Carolina, o tempo

mede sua vida. Desde a descoberta de seu câncer, Kronos tem ocupado um espaço maior em

sua rotina. Quanto tempo ainda tenho? Quanto tempo até ser despejada, por não conseguir

pagar o aluguel?

E é com essa perspectiva, com essa angústia que só o passar dos ponteiros do relógio

pode causar, que ela decide pedir dinheiro. Pede pois não tem como arcar com os custos de

seu tratamento. Pede porque o aluguel está para vencer. E, principalmente, pede pois o tempo

continua a decorrer ,e seu preço é alto.

E, ao pedir, é o tempo que a acompanha. Quanto tempo até o professor notar sua

presença na porta e deixá-la entrar? Quanto tempo até os alunos darem atenção para ela, ou

até mesmo para decidirem que o que ela tem para dizer não merece seu zelo?

São esses pensamentos que invadem a cabeça de dona Carolina ao entrar na sala e

olhar para a turma. Olhar para pessoas que nada tem a ver com sua vida mas que podem, de

alguma forma, transformá-la.

Quantos minutos dona Carolina tomou daquela aula? A resposta ela não faz ideia.

Não sabe porque além de determinante, o tempo também é relativo. Para ela, entrar e pedir

durou uma eternidade. Sempre dura. É uma sensação de impotência, de não ter os rumos de

sua própria vida.

E assim dona Carolina segue. Vai para outra sala, interromper outra aula, tentar

qualquer tipo de ajuda. E com ela, sempre com ela, o tempo. Caminhando ao seu lado,

lembrando-a a todo momento de que está passando. Seja rápido ou não, ele está passando.

Mas em algum momento ele para... E, junto dele, dona Carolina terá que parar também.

- Noite da grande paz dos teus olhos

4 comentários:

  1. Adorei sua abordagem focando no tempo como o grande inimigo. Você escreve muito bem. O fim inevitável foi o ponto alto!

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  2. A abordagem escolhida do seu texto é muito boa e surpreendentemente a que menos foi utilizada (principalmente se levar em conta que a proposta original era falar sobre Kronos). Gostei bastante quando você mostra a contradição do tempo em relação à Carolina ,pois o tempo de vida estimado para ela é curto mas a busca por ajuda para a mesma é algo que dura uma eternidade.

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  3. Gostei muito do seu texto! A marcação do tempo de dona Carolina e a descrição das ações dela enquanto é perseguida por ele chamaram muito minha atenção.

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  4. Muito bom Noite, sua abordagem é incrível e sua escrita nos faz refletir bastante.

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