Dez passos de distância. Cinco passos. Três passos. Um passo para frente. Recuo. Não posso.
Na verdade, até poderia, mas discar aquele número que já sei decorado há tanto tempo e esperar
chamar até, talvez, ser atendida, me assusta. É uma mistura de medo e vergonha. É trauma e sequela de
um passado complicado. Queria ligar. Não posso.
De início, parece reconfortante a ideia de, simplesmente, falar tudo que tenho guardado na
memória. Uma conversa que ensaiei por meses em minha imaginação nem um pouco serena. Não é
exatamente como diz o ditado, mas uma mente vazia é oficina do desespero, da ansiedade. É antecipação
de um possível sofrimento.
Não posso esquecer: mente vazia também é falta. É lacuna. Preenchê-la de outros afazeres, por mais
longos e complexos que sejam, não ocupa esse espaço. Pequeno espaço reservado para a incerteza,
reservado para a tentativa, para o mais banal arriscar. Detalho cada outro pensamento na intenção de
comprimir essa falta. Deixá-la tão pequena a ponto de não senti-la. É ilusório, fato.
Eu não sei se você me atenderia. Não sei se você desligaria quando escutasse quem está do outro
lado da linha. Não sei o que você diria ou, talvez, se você só ouviria. Não sei de mais nada. Espere. De
uma coisa eu sei: a incerteza me dá a certeza de reprimir aquilo que mais quero agora.
Um passo de distância. Três passos. Cinco passos. Dez passos para trás. Não posso, mas gostaria.
- Lia Navarrete
Lia, imagino que o seu desejo reprimido, essa vontade de fazer uma ligação, possa ser a vontade de resolver alguma situação que ficou mal resolvida e te deixou receosa, parece que gostaria de se explicar logo para se sentir melhor- ou não. No mais, gostei da estrutura do seu texto.
ResponderExcluirAmei seu texto! Acredito também que você deseja se resolver com alguém por meio dessa ligação
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