Querida dona Carolina, me desculpe, mas eu não acredito que o seu sofrimento seja uma
farsa. Aliás, nem prefiro pensar nesta possibilidade.
Fico me perguntando, apenas uma coisa, por que a história da senhora me impactou
tanto? Ando em transportes públicos todos os dias e, quase sempre, entra uma pessoa
vendendo algo. Por que estas histórias diárias de sofrimento não me causa uma
comoção genuína? Não sei, infelizmente essas situações viraram corriqueiras demais,
mas não deveria ser assim, são seres humanos que estão passando fome, não possuem
condições de pagarem o aluguel, enfim.
Sistema, como disse o grande filósofo Capitão Nascimento, o sistema é foda. Um
sistema que se propõe a oferecer o básico para a população, mas ele próprio fica tão
distante desta proposta. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros no país a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Preferi deixar a
citação sobre a nossa Constituição desta forma somente para lhe fazer uma pergunta,
querido leitor, será que a dona Carolina se sente representada com este o artigo cinco da
nossa Constituição?
Quantas donas Carolinas, Lauras, Franciscas não se sentem pertencentes da nossa
sociedade. Quantos seus Miguéis, Josés, Oswaldos devem possuir esse mesmo
sentimento. Um grave processo de exclusão social, milhares de pessoas não tem nada,
simples assim. Ainda não sei te dizer querido leitor o porquê a história da dona Carolina
me impactou tanto, me fez criar um mundo paralelo em plena aula de oficina de
produção textual, me fez chorar.
De verdade, queria ajudar ela da melhor forma possível, mas também me sinto meio
excluído deste sistema. Veja bem, não estou comparando situações até porque elas são
distintas. Uma senhorinha que contou com a ajuda de um colega nosso para passar a
mensagem que ela não era capaz de transmitir, sem amparo nenhum, sem uma boa rede
de apoio. Talvez seja essas algumas coisas que fizeram eu me envolver tanto com essa
história. Espero que a senhora se recupere desta terrível doença. Que a senhora receba
esse grande abraço virtual dos alunos da oficina de produção textual. Melhoras dona
Carolina.
- Pérolas do Cléber Machado.
Adorei seu texto. Achei completo!
ResponderExcluirGostei da sensibilidade da sua crônica. Aproveito também para dizer que são poucos que se sentem incluídos ou representados por esse sistema, Cléber Machado.
ResponderExcluirTexto muito bem escrito. Acho que, com sua sensibilidade, você conseguiu traduzir o sentimento de impotência e comoção de toda a turma diante da história de dona Carolina
ResponderExcluirGostei muito do seu texto, achei completo, bem escrito e adorei sua sensibilidade.
ResponderExcluir