caixões pretos sobre a lamina d’água. assim os modernos rituais de sepultamento indígena, vez ou outra, acontecem na região centro-oeste do país. na verdade, não enterram seus mortos, mas, ao contrário reivindicam a vida, seus processos naturais e a terra para o exercício diário da tradição.
o sepultamento meio às avessas nessas bandas do mapa é resultado de antigas disputas que se refazem silenciosamente em nome de algum juízo ocidental. ali sepulta-se para negar a morte imposta. para os índios é preciso ter a vida e o lugar pra viver suas próprias coisas. aliás, terras para viver e para morrer também.
o ritual é difícil, já que envolve um sem número de supostos semi-deuses que se colocam em oposição. fumaça sobre a grama e a água do eixo monumental. violência e reação. há os que desatinam com as requisições. não enterrem seus mortos aqui, dizem uns. venham, mas só em dia de celebração, dizem outros. e ainda outros sugerem: o que acham de 13 de maio? há também os que negam a terra — é preciso que a produção seja boa!, esbravejam. e os que atiram à perder de vista.
os tantos índios, os quais à história negou a justeza das singularidades, exercem seu direito de preservar a vida, mas também a morte. e todos os processos que, em molduras distintas, cobram seus rituais.
Chan Marshall
Um dos meus escritos preferidos por aqui! Falta uma certa clareza mas amo a emoção da sonoridade dos seus textos.
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ResponderExcluirFaltou lirismo no texto e acredito que em alguns pontos eu não pude entender o sentido de certas expressões. Porém achei um texto um pouco mais criativo que muitos vistos por aqui.
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