quinta-feira, 13 de abril de 2017

Setekh x Ma’at

Eu vim do Cairo. Atendo por “ciúme”, “cobiça” e “tempestade”. Mas a alcunha de que mais gosto é “caos”. Eu vim do Cairo Deus do Caos. Lutei em vão contra ele até ser dominado pelo medo. Tornei-me seu mensageiro. Mas hoje não é dia de me apresentar, pois sempre que o medo espreitar, sou eu quem vocês irão encontrar. Minha missão nesta terra é procurar pelo próximo Setekh entre vocês e me redimir. Procurei pelo caos nesta terra e dizem por aí que encontrei me sucessor. E vocês logo o conhecerão. Porque hoje seremos um só.

Uni nossas mentes por um dia. Acordei cedo e senti a brisa da praia e seu gélido vento matinal, que combina com minha longa roupa branca. Me sinto bem. Me sinto tempestade. Acordei com vontade de escrever a história. Levantei confortável e me dirigi às terra das águas escondidas para minha nova missão. No caminho, passei por mundos já dominados, multiversos onde tenho súditos que me protegem e reconhecem. Do outro lado da cachoeira acharei novos seres para exercitar meu dom.

Não sei bem quando começou minha história com ela. Não sei exatamente quando me entreguei aos seus encantos. Sei que provei em sua boca o mel, degustei o sabor do poder que ela me proporcionou. Usei e abusei. Com ela, conquistei. Me tornei dono da verdade. Dominado fui, refém me tornei. Tornou-se meu vício, minha obsessão. A cura para o medo que me habita.

Novo mundo, desconhecido. Todos se tornam ameaça. O medo retorna. Todos se tornam alvos. Me agarro novamente à ela. Todas as sombras se dissipam. Para exercer o ofício, a transformo em escrita. Mas na calada da noite, a utilizo em sua versão mais crua, mais lisa, caso não consiga ter como meu paraFAL​​ apenas a escrita. Língua de sapo, que encolhe e estica. Elimino adversários. Linhas de trapo, que causam discórdia e briga. Caos instalado, missão cumprida. Só não esperava encontrar encontrar Ma’at, que instiga e investiga.

Conquistei a confiança de curadores para não parecer mentiroso. Precisei recusar uma ou duas oportunidades, para estar no meio do povo. Não fui o primeiro, precisei ser o mais duradouro. Não era o centro, precisei ser o mais audacioso. Não fui o mais querido, precisei ser o mais poderoso. Mas começa a se deteriorar meu discurso ardiloso. Começo a ter dificuldade de angariar súditos neste mundo. Malditx Ma’at! Roubou-me a palavra e me incutiu a insegurança de novo, utilizando minha própria arma de um jeito curioso: diz apenas a verdade - algo ainda mais venenoso.

No princípio era o verbo, mas tornou-se automático. Achei alguém melhor que eu? Fui derrotado? Será que um dia encontrarei a cura para minhas inseguranças na verdade e meu mundo deixará de ser mágico? Ando na linha tênue entre a ressurreição e o fim trágico. Hemorrágico. Verborrágico. Setekh sai de cena.

Setekh, o redimido

14 comentários:

  1. - Isso, meu caro Mecânico, foi incrível.
    - Foi bom.
    - Bom? É o melhor adjetivo que pode empregar?
    - Se faz o melhor com uma chave de roda. Se você só tem uma chave de roda.
    - Bem dito... Mas deixe-me falar, falar, pois ao Corvo só resta grasnar. Lirismo, ah, como eu gosto de vê-lo em um texto! Embora ele seja pedante, o tal Setekh. Inseguro demais, alheio demais, deixará que Ma'at o subjugue assim? Um absurdo. Ele tem língua de ouro, ouça minhas palavras Mecânico. Língua de Ouro.
    - Ele me lembra você. Em uma história.
    - Mesmo, Mecânico? Conte!
    - Você voava. E voava bem. Muito bem. Era bonito, todo preto. Mas viu o pavão um dia, a andar com suas muitas cores. Quis imitá-lo, e nisso, esqueceu como se voava direito. Por isso você fica ciscando, voando torto, Corvo. Você tentou ser o que não era.
    - Estamos falantes hoje! Admito que fiquei ofendido. Mas onde isso se encaixa para julgar essa crônica?
    - Ele tá assim. Viu Ma'at. Quis imitar. Ficou capenga.
    - Mas não perdeu o dom da palavra.
    - Não, não perdeu.

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    1. Sabemos que EU sou Ma’at e que Ma’at fala apenas a verdade.
      Setekh, O Redimido é o alter ego que Ma’at utiliza para dizer a verdade através de metáforas - afinal, a atividade pede que estejamos sob o véu do anonimato.

      Mas aqui, meus amigos, vocês presenciaram o novo aspirante a Sethek, tentando se colocar mais uma vez como algo que não é para nublar as ideias de todos. Ingenuidade de alguém que sabe que é o alvo da crônica, mas não entendeu todas as referências.

      Agradeço a crítica.

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  2. Talvez seja o melhor texto feito até aqui, bem complexo e elaborado. Mas lembre-se que o professor precisa reconhecer a pessoa sobre quem você falou.

    Abs, Sr.Omar

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    2. Sr. Omar,
      Setekh, O Redimido agradece o elogio, o conselho e fica satisfeito de já ter lhe apertado a mão. Estou seguro de que nosso curador entenderá sobre quem me refiro, uma vez que há um episódio retratado no qual ele participou como interlocutor. Ou então, benevolente como é, me oferecerá um ou dois pontos para me justificar.

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  3. Bem escrito, até emocionante. Mas inventou demais, não dá pra entender bulhufas em relação ao tema proposto, tornando-o sem sentido

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  4. Vocabulário extenso. Contou história, gostei demais. Rap né? bem lírico

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  5. Sobre a dificuldade da turma em entender a crônica, no início apresento Sethek, deus egípcio de adjetivos ruins. Em meu texto, um Sethek arrependido busca a redenção. Com a ajuda do Olho de Hórus (mitologia egípcia), Sethek é capaz de enxergar melhor que todos e encontrar o novo arauto do caos. Para denunciá-lo, Sethekh uniu suas mentes por um dia, tornando-se um. Por isso o texto em primeira pessoa. Reparem que durante o texto não cito a alcunha d’O Redimido, pois ele só terá sua redenção quando o objetivo for cumprido.

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  6. Complexo, mas muito inteligente. Só tomar cuidado pra não ficar confuso quando conta toda essa história e usa personagens não muito conhecidos, limita o leitor e pode até não ser entendido na primeira leitura. Confesso que precisei ler os comentário e reler o texto pra fazer sentido e encontrar "o outro". No entanto, ficou incrível! Parabéns!

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    1. Considero que a verdade está nas ações e não nas palavras. Acrescentei no que nos foi solicitado, informações que vi e não apenas o que ouvi.

      Mas que bom que você conseguiu entender! Se há quem tenha entendido, meu objetivo (e também o da crônica para com a atividade) foi cumprido. Agradeço muito o comentário. Um abraço!

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  7. Um texto inteligente, criativo e bem escrito. No entanto, os leitores parecem encontrar dificuldade para a sua compreensão talvez por falta de conhecimento da literatura egípcia que foi abordada na crônica. Por isso, sugiro que da próxima vez que for tratar de um assunto pouco conhecido, possa trazer antes de contar a história uma breve explicação sobre o mesmo. Desse modo os leitores poderão compreender melhor o texto e apreciá-lo também pelo conteúdo.

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  8. vc escreve bem! tem jeito pra coisa! apesar de ter mesmo achado um texto confuso; acho importante você conseguir ser claro com o leitor. também não gostei muito da sonoridade do texto em alguns momentos. por exemplo, no primeiro parágrafo: "mas hoje não é dia de me apresentar, pois sempre que o medo espreitar, sou eu quem vocês irão encontrar"; ou a combinação de palavras com a sonoridade muito parecida no penúltimo parágrafo:"mentiroso", "povo", "audacioso", "poderoso", "ardiloso" etc

    fora isso, o texto tem força, com certeza!

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  9. Texto bem elaborado e com bastante lirismo. Talvez pela complexidade e pelas referências que não pude captar, às vezes me perdi na história. Isso talvez possa servir de alerta para você, pois justamente pela complexidade possa não ser muito acessível aos demais. Contudo, acredito que seja o texto mais elaborado que vi, embora tenha deixado muita dúvida sobre a quem se refere.

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