sexta-feira, 28 de abril de 2017

Palácio dos Ladrões

O menino tentava, sem sucesso, cessar os pensamentos sobre o que o pai lhe contara.
     Sentia dificuldade em entender certas coisas. O pai era sempre paciente, e o garoto já sabia o que era se sentir protegido. Entretanto, algo lhe fugia à compreensão: por que precisavam lutar por uma terra que, por direito, eram donos?
            O pai havia lhe dito que o dia seguinte seria importante. Ao questioná-lo sobre o que aconteceria, o menino recebeu uma complicada frase em resposta:
     — Iremos reivindicar nossa terra. — falou, em tom sério.
O garoto ansiava por entender o que estava acontecendo. A movimentação no acampamento era intensa. Fosse lá o que estava por vir, o sentimento de preocupação estava no ar.
Sentia medo por estar tão longe da aldeia. Tudo era tão gigantesco, tão chamativo. Não era possível avistar florestas durante muitos quilômetros, em qualquer direção. Sentia vontade de correr de volta à aldeia, de onde jamais deveria ter saído. Tamanhas construções não faziam sentido.
 A marcha começara logo cedo. Seu pai, um dos líderes da tribo, guiava-os pelas extensas avenidas. Parecia conhecer o lugar. A caminhada encontrou seu final no que parecia ser um estranho monumento. Um estranho... palácio. Mais tribos aglomeravam-se ao redor, unindo-se umas com as outras. O pai gritava, incentivando os iguais. Ali estavam, segundo ele, para reivindicar a própria terra.
Porém, à medida que mais tribos se juntavam ao coro, mais os homens que o menino havia observado se aproximavam. Tinham o rosto coberto, assim como o resto do corpo. Formavam uma barreira para proteger o palácio; não pareciam querer as tribos ali.
 Subidamente, ouviu-se um estrondo perto de onde o garoto estava. Mais um estrondo, e outro. E mais um. Uma densa fumaça já tomava conta do ar, e o pai agora corria em direção ao menino.
O pai tomou-o nos braços, já procurando abrigo. Sem reação, o menino assistiu aos iguais da tribo lutando contra os de rosto coberto. Chorando, ele perguntou:
             — Que lugar é este, pai?
             — Este, meu filho, — falou o pai, colocando-o no chão. — é o lar daqueles que roubaram nossa terra.

Amon Valapar

2 comentários:

  1. o Texto flui, nao vejo um lirismo bem aparente, mas nao quebra o texto. Gosto de como finaliza com a fala do pai. Por que Subidamente?

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  2. O texto é perene e rompe as barreiras do acontecimento. É angustiante, até. Gostei muito!

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