Escrevendo certo por linhas tortas

Tito estava no 3° ano do Ensino Médio, prestes a fazer vestibular, e não sabia ainda responder à pergunta do "ser quando crescer". Passava horas do dia pensando na melhor profissão, mais por obrigação do que por vontade. Na verdade, o que mais o incomodava era o por que das pessoas precisarem de uma profissão para ser alguém. Chegou a fazer teste vocacional, mas o resultado foi descartado de imediato. Não existia nada que o identificasse por completo, apenas tinha a sensação de que tudo não prestava. Mas, como diria o ditado "água mole, pedra dura, tanto bate até que fura", certo dia ele se rendeu, e criou um método inusitado de escolha de seu caminho. Primeiro, pensou na profissão que mais odiava; depois, no motivo que o levava a sentir isso. Minutos mais tarde, concluiu:

– É isso! Serei um político! - afirmou o jovem.

  No caso, o motivo de seu ódio era a maneira como os políticos atuavam, e seu papel seria então de fazer tudo diferente em sua cidade. Na manhã do dia seguinte, Tito levanta cedo e, ao invés de ir para a aula, vai à sede do PMBL, um partido reconhecidamente corrupto e do campo conservador. Embora sem nenhum conhecimento ou interesse por política, o jovem se filia e faz ali mesmo uma auto-promessa: sempre contrariar as opiniões majoritárias em reuniões e assembléias do partido. Dito e feito. Nos meses seguintes, as reuniões no comitê se tornaram cada vez mais acaloradas, e os membros não entendiam bem o motivo da presença de Tito ali. Mas seu prazer parecia ser cada vez maior, porque ao tentar ser diferente de quem odiava, ele acabava se encontrando.

  Tito ainda ficou mais algum tempo no partido, mas nem no dia da eleição votava nos candidatos do PMBL. Muito pelo contrário, após 2 anos mudou-se de partido e, hoje em dia, se o perguntarem se faz o que gosta, ele certamente abrirá um sorriso e dirá:

- Com certeza!

Nick