quinta-feira, 13 de abril de 2017

Maricá abaixo de 0°C

 Estou apaixonada! Pronto, falei. Ele não sai da minha cabeça. Não há um dia que se passe e que eu não pense nesse homem. Seu nome eu prefiro não revelar, mas o chamam de Gelado, irônico no mínimo, visto que é o sujeito mais quente aqui de Maricá.
 Nunca tive a coragem de ir até ele puxar assunto, sei que se tentasse começaria a balbuciar asneiras e tremeria da cabeça aos pés, seria um desastre. Veja bem, não teria sequer o que falar, já sei tudo sobre ele. Sei que adora matemática, porém é péssimo com números; sei que ama futebol, mas suas duas pernas são esquerdas, e ele é destro; sei que mora aqui em Maricá, mas é de Caxias; sei que ele é liberal, mesmo estudando em uma universidade federal... Como descobri tudo isso? Bem, tenho minhas fontes.
 Percebi que a paixão era verdadeira na semana passada. Estava no Estrela do Sul, um mercado aqui no centro, quando dei de cara com Gelado. Ele vestia uma camisa de time de futebol, não saberia dizer qual, pois só consegui focar em seu rosto. Comecei a ficar tonta, muito tonta,minhas pernas pareciam estar se desmontando, me fazendo perder o equilíbrio em questão de segundos. Foi nesse momento que o anjo me segurou em seus braços, ele acabara de salvar a minha vida, ou ao menos dar sentido à ela. Fui agradecer, porém obviamente minha boca perdeu o controle e comecei a gaguejar, mas fui acalmada quase que imediatamente, quando meu amor disse de forma bem calma as seguintes palavras: "Fica fria ai". Nesse momento então, Gelado, que de frio não tem nada, derreteu meu coração.

 Por Paulo Terra

7 comentários:

  1. - Qual o mérito, Mecânico, de uma declaração dessas?
    - Internet?
    - O anonimato, você diz?
    - É, isso.
    - Um desperdício, na minha opinião.
    - Nunca gosto de ninguém, Corvo? Nunca fico com vergonha?
    - Eu como carniça, Mecânico. Não tenho vergonha. Ou talvez tenha, de quem usa tão poucas palavras para eternizar algo que valha a pena. Eternizar algo que tem seu peso, algo importante, satirizado desse jeito. Um dia eu morderei todos eles, Mecânico. Qual o valor de deixar essas palavras no ar? Qual o valor de ser tão raso com algo sério?
    - Uma risada vale muito. Esconde.

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  2. Diferente da maioria optou por uma pegada mais cômica e pastelona. Estranha, mas válida.

    Abs, Sr.Omar

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  3. Um texto engraçado (no sentido bom da palavra). A escrita é boa e a leitura é fluida. Entretanto, temos que admitir que a graça do texto é garantida facilmente por conta do público que o lê, já conhecedor da história abordada. Me pergunto se caso o autor estivesse escrevendo outro tema para um público desconhecido, teria a mesma facilidade em cativar o leitor. Veremos nas próximas. Mas por enquanto, parabenizo pelo texto.

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  4. O texto é bem divertido, mas, como outra pessoa também disse, me pergunto se caso o público não conhecesse a pessoa a quem se refere sua crônica, ela seria tão engraçada. Porém, gosto do uso de clichês propositais (no que se trata de paixão, amor e afins) que nos faz dar risada. Me chamou muito a atenção as vezes em que você faz uso do nome Gelado com alguma referência. Por exemplo: "GELADO, irônico no mínimo, visto que é o sujeito mais QUENTE aqui de Maricá"
    "...quando meu amor disse de forma bem calma as seguintes palavras: "Fica FRIA ai"."
    "Gelado, que de frio não tem nada, DERRETEU meu coração."
    Bem inteligente da sua parte.

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