quinta-feira, 13 de abril de 2017

Presente!

"Gift" é uma palavra do vocabulário norte-americano que significa "presente". "Presente" era a palavra que eu usava para responder as chamadas de todas as salas de aula pelas quais passei na vida. Gift não estava presente quando o professor chamou seu nome. E, mesmo ao retornar, não se soube muito sobre ela.
 
Presentes tem o poder de celebrar uma data, fazer lembrar algo ou alguém, reconciliar, aproximar, surpreender. Surpresa foi a reação que tive ao saber: Gift nasceu em Gana. De quanta coragem ela precisou! Será que trouxe muitas coisas na bagagem? Lembranças de seu país, memórias de sua história, um travesseiro inseparável, o último beijo do primeiro namorado. Se soube pouco sobre Gift porque ela ainda não domina a fala do nosso português, mas compreende quase perfeitamente o que se diz por aqui. Não consigo imaginar como pode ser ouvir demais e falar "de menos". Mas, olhando com bons olhos, Gift recebeu um presente: se o bom escritor/jornalista se faz ao ouvir constantemente o outro e colher histórias, aquele que ouve muito mais está a quilômetros de vantagem sobre aquele que só quer falar de si. 

O presente que Gift trouxe foi fazer perceber que perseguir o próprio sonho envolve interessar-se pelo sonho do outro; construir a própria história requer paixão pela história do outro. Não falando de si, Gift, mesmo sem intenção, falou tanto sobre seu sonho quanto os que dominam a fala da língua portuguesa. E toda essa "sabedoria acidental" já não é um bom começo de carreira? 

Carolina Caracol

Um comentário:

  1. - Começo, meio e fim.
    - É uma boa peça.
    - Boa, boa mesmo. Peça, Mecânico? Alegorias com maquinário de novo? - resfoleguei, irritadiço, eriçando as penas - Olhe. Há uma lógica nessa brincadeira. Admiro isso, sim, admiro.
    - O final. Meio torto.
    - É, se fosse para criticar me atentaria a isso. Muitos "falas". Já entendemos que ela não "fala". Poderia-se falar menos em "fala". Viu como fica estressante.
    - Já tinha visto.
    - É, é, verdade, já tinha mesmo. Acho que faltou uma inspiração, entende? Um sopro para finalizar.
    - Bem...
    - Diga.
    - É uma daquelas.
    - Daquelas o que?
    - Alegorias.
    - Muito bem, faça homem.
    - Pode-se trancar um portão bem trancado, mesmo se a chave não for de ouro.
    - Bem dito, Mecânico. Bem dito...

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