sexta-feira, 28 de abril de 2017

Papo de Taxista

- Recebi poca gente aquele dia.
- Sem muitos carros quebrando por ai? O que houve com a obsolescência calculada?
- Não. Trânsito preso.
- Ah, sim, sim. Isso tem algo a ver com a história, meu caro?
- Humpf. É. Primeio veio os caras pintados. Os olhos-puxado brasileiros.
- Os dekasegui?
- Não, os outros. Que tavam aqui antes.
- Ah, os índios.
- É. Num sabia que dirigiam. Vãs, umas grandes sabe? Calibrar pneu, fazê um check-up. Pareciam meio preocupados, é. Do tipo que tem que tá tudo certo.
- E o que você fez?
- Concertei. Skate embaixo do carro, e peça sobre peça.
- Old School.
- Um cado.
- Mas e então?
- Eles tavam no telefone. Sempre falam no telefone. O cara tinha pinta de líder. Não é que tivesse pose, tinha pinta mesmo, minha mãe me contou como é a pinta dos líderes. Mancha entre os olhos, na testa. Feita com tinta, claro.
 “Os arcos tão comigo. Eles vão ter que nos ouvir, não importa o que o Costa tá falando. Não ligo. Depois do Tukuanê? Depois de Mato Grosso? Chega. Você traz os caixões, como ficou acordado. Não quero nem saber.” E desligou.
- Ora ora ora...
- Nessa hora eu sai de baixo do carro. Os outros tavam em frente, tem uma lanchonete ali na outra esquina. Ele tava preocupado com o celular na mão, mas não dei bola. Já teve assaltante pedindo pra eu mexer em carro. Peito esses filhos da mãe.
 “Ô chefia”, afinal o cara ainda tava pagando né “olha, cê me desculpa, mas não ajudo nego que vem com papo de caixão nem nada. Já vi essas coisas pontudas ai dentro, e isso faz um estrago que eu sei. Olha, pega tua galera e vai em outra oficina. Quero mexer com isso não.”
- Mecânico!
- Não, Corvo. Não é da minha conta. Fico no meu canto, cuido da minha Oficina. Não sei quem são os caras.
- Claro que não. Eu fiquei ciscando neles um dia depois. Índios, Mecânico. Caixões simbólicos, arcos? Sério? Contra batalhão de choque? Que ideia foi essa? Como conseguiu negar algo a eles?
- Foi bem fácil. Eu não sabia.
- E assim você resume todo um país...
- Mas tem mais.
- Conte, se é que isso não me deixará com mais desgosto ainda.
- Ele me olhou de cima a baixo. Conheço a olhada. Pele russa, nego não gosta. Torceu o nariz que tinha uma pintura engraçada e chamou o pessoal. Nem me olhou na cara. Pegou a vã e foi embora. Mais tarde chegou um taxista. Ramos, disse que até entrevista deu no dia. Pediu um pano e tacou vinagre.
- Vinag... Ah!
- É. Bomba nos índio. A gente quando não sabe, mas se soubesse, podia até dado uns panos. E vinagre pros cara. Concertei o carro dele. Disse que depois dali, tinha levado o Ministro Osmar pro restaurante. Já era janta quando eles saíram.
- Eles?
- Quem mais podia sair, Corvo? Os índios.    

O Mecânico e o Corvo

7 comentários:

  1. Te acho um gênio incompreendido. Se bem que eu compreendo. E acho genial.

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  2. O Mecânico e o Corvo, você continua com alguns erros, entre eles o "concertei". Se seu intuito é representar o Mecânico com oralidade diferente, não faz diferença usar uma palavra que terá o mesmo som apesar da escrita errada. Ademais, achei o seu texto um tanto confuso até pela sua insistência no padrão de escrita e nos mesmos personagens. Acredito que isso possa dificultar as coisas para você no futuro, contudo será um ótimo desafio. Espero que consiga manter o formato.

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  3. Não gosto da forma como você, além de estereotipar o mecânico, "transcreve" as falas dele.
    No mais, achei confuso o texto.

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  4. Considero esse texto bem melhor que o seu primeiro, talvez seja o tema, ou uma melhora pessoal. De qualquer forma, achei interessante o modo como uma visão diferente da situação foi abordada, o diálogo descontraído faz uma referência ao que pode ser a reação de boa parte da população ao ocorrido. A posição de certa forma negligente e um pouco assustada do Mecânico reflete isso. Apesar de ter sido um bom texto, penso que os erros gramaticais, mesmo que façam parte da oralidade informal e simples do Mecânico, podem ser evitados.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Alguns pontos:

    I) Concordo com Sunny sobre os personagens. E embora sua escolha torne a tarefa mais difícil, não deve ser desafio insuperável para você. No entanto, veja bem, falo da utilização de ambos - e não de um só. Gostaria de ver o Mecânico e o Corvo sem a interferência do outro. Na vida real, há pessoas que são diferentes quando sozinhos e na presença de outrem. Como seriam seus personagens em sua própria solitude? Faria bem variar.

    II) Sobre o texto, mais uma vez achei que os personagens saltam mais aos olhos do que a história. Ponto negativo. Sua ação nos comentários é acima da média, mas, por enquanto, não tenho a mesma impressão sobre sua criação. Ainda não vimos o seu melhor (sei que você entenderá isso exatamente da maneira que falei).

    III) Lukas Salazar tem razão. A posição negligente do Mecânico refletem em parte a reação das pessoas sobre o ocorrido - ponto positivo. De meu gosto pessoal, não me agrada a casualidade para tratar temas com essa importância. Achei seu primeiro texto, por exemplo, muito mais interessante. Acho que ali cabia melhor o recurso utilizado neste. Mas isto não é uma crítica.

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  7. À turma: a ortografia do Mecânico é proposital. Pensar o contrário é ingenuidade.

    Ao autor: sua conotação está colidindo com a representação dada. As reações não estão sendo positivas. Coloquialidade está sendo bem-vinda, os erros ortográficos não. Quer dizer que a turma está certa e você errado? Não. Mas cabe reflexão.

    NÃO vejo na relação do Corvo e do Mecânico uma dualidade inteligência-burrice. Enxergo o Corvo como culto/estudado e o Mecânico como alguém que carrega experiência de vida (aliás, as melhores críticas vieram do Mecânico). Registrado.

    Errata: reflete*

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