Combustível

Hoje, no caminho pra casa, não pude evitar ouvir a conversa entre dois senhores de idade no transporte público. O mais alto, de boina, dizia pro outro, mais franzino:
- Conheço um rapaz que foi ralhado pelos pais por conta do relacionamento dele como uma moça.
- É mesmo?
- É... O pai falava, bem bravo, que o rapaz não queria nada sério com a menina. Foi bastante humilhado naquele dia.
- E ele se separou da moça?
- Ele se casou com ela. A essa altura estão separados. - sorriu. - De toda forma, o que o levou a se casar com ela foi a raiva que sentiu dos pais. Nada de bom vem através de algo assim.

Esse pequeno diálogo me fez lembrar de um amigo que não vejo há anos. Esse amigo costumava contar sempre, animado, porquê escolhera cursar Jornalismo, na época. Contava que havia escolhido o curso porque detestava a maior parte dos jornalistas que conhecia.
Sempre achei engraçado que o que tomou as rédeas de seu futuro foi a raiva que sentia, exatamente como o rapaz da conversa dos senhores no ônibus.

Fiquei curioso, então, pra saber se a escolha dele, independente das razões, deu bons resultados. Se foi um bom caminho escolhido.
Desci do ônibus, caminhei pela penumbra até em casa, por provavelmente uns 5 minutos.
Concluí, ali, que prefiro que meu combustível para tomar qualquer decisão, principalmente as mais importantes, seja bom. Isso me torna moralmente superior ou mais sábio que meu amigo? Definitivamente não. Apenas agarro-me a visão maniqueísta de que o que começa pelo bem talvez vença o mal, no fim. Bem como disse aquele senhor, que mesmo sem ter trocado uma só palavra, agora guardo em grande estima.



Mas e você, qual teu combustível?


Eve