quinta-feira, 13 de abril de 2017

Por que Jornalismo?

Último ano do Ensino Médio. Via, ao meu redor, jovens cheios de dúvidas para responder a mais temida das perguntas da idade: “O que quero fazer pelo resto da minha vida?”. Já eu nunca tive essa preocupação: nasci escritora.
Ecoava, no entanto, perguntas diferentes dentro de mim: “como posso melhorar? Sobre o quê escrever? E quando a criatividade faltar?”. Escritora precisa de histórias, experiências, precisa de conversas, contato, precisa se atirar na vida atrás da história perfeita.
Último ano do Ensino Médio e apesar de já saber, preciso responder a temida pergunta para os meus pais. Escritora não basta. Nossos pais sempre fazem questão daquela folha de papel, a qual diz que você é habilitada para exercer determinada profissão.
Não existe, entretanto, um diploma pra quem escreve um livro durante quatro anos. De repente, também virei uma jovem saturada de dúvidas, porém com a pergunta reformulada: “O que quero fazer por quatro anos que agregue ao que escolhi fazer pelo resto da minha vida?”.
Literatura? História? Letras? Não! Jornalismo. Jornalismo?
Primeiro semestre de Jornalismo. Ao meu redor, jovens cheios de certeza para responder a pergunta proposta, um a um: “Por que jornalismo?”. Obviamente, estão ali porque querem se tornar jornalistas. Estão ali porque, no colégio, a resposta à temida pergunta foi “eu quero ser jornalista pelo resto da minha vida”. – pensei.
E você, por que escolheu jornalismo? –questionava o professor as cinqüenta-e-tantas pessoas presentes. Foi nesse momento em que eu soube: estou no lugar certo.
Cinquenta-e-tantas pessoas. Cinquenta-e-tantas histórias diferentes. Aquela pergunta do último ano de colégio, aliás, não é tão facilmente respondida, descobri. No final das contas, muitos ali estavam como eu: a procura. Alguns de se encontrar profissionalmente, outros na vida. Alguns nem o jornalismo estudavam, mas estavam ali por alguns outros motivos. Alguns estavam tão certos do que queriam, que viajaram mais de dois mil quilômetros só pra estar ali. Alguns, nem tão certos assim, já passaram por mais de uma faculdade, mas naquele momento, escolheram estar ali.
Ali. Foi onde todas essas histórias se cruzaram. E foi graças a elas que tive a ousadia e o orgulho de ser sincera em minha resposta.
E você, por que escolheu jornalismo? –questionou, a mim, o professor.
Eu não quero ser jornalista. –respondi
E antes que as dúvidas aparecessem ao meu redor de novo, completei:
-Eu quero ser escritora. O Jornalismo é uma forma de conhecer novas histórias, pessoas e experiências que agreguem ao meu objetivo. –concluí.
Primeiro período de Jornalismo. Ali. Em meio a cinqüenta-e-tantas possibilidades de histórias eu enxerguei que os quatro anos pra conquistar uma folha de papel, no final, pode me fazer conquistar umas trezentas-e-tantas folhas. Encadernadas. Com capa dura e dedicatória:
Obrigada, jornalismo, por me formar escritora.

Renata Milena

2 comentários:

  1. - Quem foi o mais soberbo nesse texto, Mecânico?
    - Soberbo?
    - Metido, nariz em pé. A autora ou a personagem?
    - ...
    - É, complicado. O personagem: quem tem tanta certeza assim de algo? Isso é tão inverossímil que me pergunto, é a autora assim tão míope que considera a personagem certa de tudo? Ou é a personagem tão burra que não sente essa incerteza?
    - Burra e incerta? Tá certo isso?
    - Claro. Só os sábios tem dúvida.
    - Num pensei isso.
    - Ah não? Pensou em que, com essa cabecinha de faz tudo?
    - Os pais.
    - Como?
    - Ela meteu os pais na história. Ninguém mete os pais na história.
    - Valores de Mecânico?
    - De filho.
    - Mas o que tem de errado nisso?
    - Que pai quer o filho jornalista e não escritor? Um é mais seguro que o outro. E tá dando mais grana.
    - Chega por hoje, Mecânico. Isso lá é crítica que se faça?

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    1. Tive dificuldade em avaliar se Renata Milena está emprestando demais de suas próprias características à personagem. Mas gostei do texto, principalmente do trinômio certeza-incerteza-decisão, pelo qual a autora nos conduz durante o narrativa.

      Há que se separar cronista de objeto de inspiração.

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