quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Amor nos tempos da pandemia.

 “Não posso sair, tenho que ficar aqui”.  Aquela mensagem digitalizada formada por vários pixeis agitava meu celular antigo. Não vou negar, eu realmente pensei que isso poderia acontecer. Pensei até, que se acontecesse, não me abalaria. Mas estava claramente errada, até pensei em falar isso numa crônica para uma matéria qualquer da faculdade. O que mais me frustra? O que agoniza triste no fundo do meu coração? Também  pensei na possibilidade de escrever qualquer coisa sobre as dores da morte. Mas aquela mensagem talvez tenha me feito lembrar do que eu tenho, com todas as forças e suspiros, afogar no meu inconsciente. Era recalque o termo que o professor com ares de intelectual dissera? 


“Eu sei que tínhamos combinado”. A segunda vibração do celular ecoou enquanto o microfone estava aberto pronto para receber minha resposta. “Desculpe, professor. O principal argumento da Teoria da Agulha Hipodérmica  de Lasswell é a não diferenciação das recepções cognitivas dos indivíduos quando expostos a um conteúdo midiático. Fechei o microfone e pensei “Foda-se Lasswell, mas talvez o cretino tenha razão”. Já não era a primeira vez que isso acontecia em meio aos imensos esforços de conseguir gozo, tesão, carinho, atenção ou qualquer coisa que arda. O isolamento, causado pelo SARS COV-2, me refrescou as lembranças do tempo do ensino médio, nas quais só me vinha cabeça a virgindade nunca perdida e a rejeição. A merda da rejeição.


“Infelizmente não vou conseguir”. Dei uma leve risada. Esse pelo menos foi cortês, pensei. Mas a vida adulta nem sempre possui essa cortesia. Já era a minha terceira tentativa de ter um encontro formal com alguém. E todos apresentavam os mesmos resultados. No individuo eram injetadas frases baratas, letras de músicas que eu sei que ele ouviu recentemente no Spotify, comentários de futebol e tudo mais que ser quer ouvir alguém a ser conquistado. Tudo vai relativamente bem até que, geralmente uma hora antes do encontro marcado, a negativa aparece.


Sua mensagem foi visualizada”. O silêncio pode ser a maior das dores, principalmente quando é antecipado por altas expectativas. As vezes acho nasci para aproveitar da solidão e toda vez que não acredito nesse destino ele me é lembrado com o amargo da rejeição. Agora me recordo de quando acreditava no amor enquanto lia Camões nos corredores do colégio. E sabei que, segundo o amor tiverdes, terei o entendimento dos meus versos. Sei que posso não ser merecedora de tal entendimento e também sei que posso não ter aquilo que quando se vê e sente não se deseja mais nada nesse mundo. Sei que meus encantos podem ser limitados e por isso induzem as mesmas respostas numa audiência, agora claramente indiferenciada. Por isso, foda-se Camões e todos aqueles que já escreveram sobre reciprocidade. Talvez eu fale isso naquela crônica de merda. 


Inês de Castro

9 comentários:

  1. Oi Inês! Eu também tenho um problema com rejeição e me identifiquei muito com as suas palavras. Não acho que você nasceu para aproveitar a solidão, mas ela também não é de todo mal. Passar um momento com você e aproveitar a sua própria companhia não devia ser uma coisa negativa, mas entendo essa busca por alguém e pelo amor, eu também não gosto de ficar sozinha por muito tempo. Eu acho que a gente é muito novo pra pensar que o amor nunca vai chegar à nós ou que estamos fadados à solidão, ainda tem tanta vida pela frente. Eu acredito muito naquilo de se for pra ser vai ser e que quando se menos espera aparece um amor, então não se cobra tanto. Amei o seu texto! <3

    ResponderExcluir
  2. Oi Inês! Concordo com o Copo Vazio, ainda somos muito novos, na hora certa o seu amor vai aparecer. Se esses caras desmarcaram os encontros não era pra ser, certamente algo melhor vai surgir futuramente. Aproveite sua companhia enquanto isso, não se compare com os outros. Tudo no seu tempo! Fica bem, beijos Amora :)

    ResponderExcluir
  3. não sei bem o que dizer, assim como não sei falar sobre o amor, mas senti que não poderia deixar de comentar aqui pois achei a sua crônica simplesmente maravilhosa. enfim, espero que encontre o seu amor e que ele seja ainda melhor do que tudo com o que você sempre sonhou.

    ResponderExcluir
  4. Oi Inês! Adorei o seu texto. Às vezes, o silêncio é muito pior do que qualquer palavra! Mas gosto de acreditar que tudo acontece por uma razão! Você não nasceu para a solidão e a rejeição não é o seu destino. Espero que o amor te surpreenda um dia. Seja por outra pessoa, seja por você. Beijosss <3

    ResponderExcluir
  5. Inêsss, que texto, eu adorei! A rejeição é realmente terrível, no fundo nós só queremos nos sentir inclusas, queridas e amadas, eu entendo como dói. Mas no final o que importa? A validação do outro não vai te fazer mais mulher, não te fará mais ser humano. Acredito que o que importa de verdade é o amor que você tem para consigo, esse é o mais importante de todos. O destino prega peças, mas tudo acontece por um motivo, pelo menos é o que eu acredito.

    ResponderExcluir
  6. Essa questão de "amor na pandemia" deve ser bem ruim mesmo. Eu gostei bastante do seu texto. Parabéns

    ResponderExcluir
  7. Me identifico bastante com essa dor da rejeição e seu texto expõe muito bem a dificuldade de lidar com ela. Espero que o tempo mostre para você o porquê de toda essa espera, com alguém que realmente valha a pena. Quem sabe aquele clichê de destino é real mesmo.

    ResponderExcluir
  8. Gostei demais do seu texto, Inês! Foque no seu bem estar, na sua autoestima e no seu emocional. Isso não tem preço! Um dia, a pessoa certa vai aparecer e te valorizar de verdade. Fica bem <3

    ResponderExcluir
  9. Inês, o tempo é uma incógnita. Nunca sabemos o que acontecerá, mas um dia todos encontrarão seu amor e isso será dadivoso, tenha certeza!

    ResponderExcluir