quinta-feira, 18 de novembro de 2021

As 4 primaveras de Jair Bolsonaro

 2018. Foi nesse ano, naquele 28 de outubro que eu soube que o inferno não se tratava de labaredas, monstros e toda aquela imagem que estamos acostumados a ver nos livros. O inferno era aqui, agora. O Brasil de Jair Messias Bolsonaro. Não me levem a mal, o Brasil é um país composto de traumas desde que foi invadido em 1500, mas 2018 foi foda. Foi difícil de entender como um lunático, racista, misógino, homofóbico e fascista foi eleito em um país que já lutou tanto por sua democracia, por sua liberdade e em que tantas pessoas ainda lutam para existir. Foi nesse ano que eu aprendi em termos sobre empatia, sobre me solidarizar de corpo e alma pela dor do outro e falar também pelas minhas dores. Pela primeira vez em toda minha vida eu senti raiva por ser brasileira. Logo eu, que sempre fui apaixonada pelo país, por mais que eu tivesse consciência de que o Brasil está longe de ser perfeito. Doeu.

2019. Foi aqui que a ficha começou a cair. Naquele primeiro de janeiro. E, novamente doeu. E continuou doendo pelos 12 meses que sucederam aquele dia e quando eu acreditava que não podia piorar, 2020 chegou.

2020. COVID. Foi em 2020 que a vergonha alheia, o constrangimento e o trauma entraram pra história desse país. 600 mil mortes. 600 MIL mortes. Milhões de pessoas que perderam seus empregos, perderam seus pais, seus filhos, seus amigos, seus amores, e perderam a vontade de existir em um país em que o presidente está mais preocupado em estar certo (de acordo com as vozes da cabeça dele) do que em preservar, cuidar e proteger, aqueles que fazem o Brasil funcionar todos os dias. Ser patriota é cuidar dessas pessoas. É cuidar do povo. Não puxar saco de imperialista e defender ditadura.

2021. Ano que vem tem eleição. Ano que vem esse homem deixa a presidência. Ano que vem tem Carnaval. Ano que vem vai ser melhor. Quando Bolsonaro sair do poder o Brasil vai sorrir de novo. Ano que vem tem Copa do Mundo. Ano que vem tem Festa Junina. Ano que vem tem eleição. E o medo vem. Medo daquela raiva, do ódio acumulado nesses 4 anos de desgoverno, não ser suficiente. O brasileiro não merece sofrer assim. Um presidente que mata seu povo, que deixa as pessoas à sua própria sorte, com fome, não pode se reeleger. E mesmo sabendo (ou torcendo) que a chance disso acontecer é pequena, ela ainda existe. E é apavorante.

2022. Ano de eleição. O brasileiro está cansado de ser enganado, maltratado, humilhado. O brasileiro tem ódio. E é com esse ódio que o brasileiro vai vencer.

Outubro de 2022. O Brasil volta a sorrir e aquele constrangimento em ter um fascista no poder se torna esperança de que dias melhores virão. Pelo menos é o que eu espero.

Cecília Quintana

5 comentários:

  1. me lembro de forma muito muito detalhada a angústia que eu senti em 2018 quando o resultado da eleição foi anunciado, e ela foi só crescendo com tempo. a primeira frase da sua crônica ficou incrível pra descrever essa situação terrível do nosso sofrido país. acho um absurdo uma pessoa que se diz patriota odiar tanto o seu próprio país e fazer tudo que pode pra acabar com sua população, mas eu tenho certeza de que em 2022 quando for anunciada a sua derrota a festa vai ser infinitamente maior do que a copa do mundo, ou qualquer outro evento. e eu mal posso esperar por esse dia.

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  2. Quando o Bolsonaro sair do poder nós deveríamos fazer uma festa de pelo menos um mês! Seu texto ficou muito bom mesmo. Retrata exatamente tudo que sentimos ao longo desses anos horríveis.

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  3. Cecília, acho que você ia gostar da leitura do livro; A dor dos outros da Susan Sontag. Você usa exatamente o seu título na crônica. Adorei o texto! Também tenho esperança.

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  4. Realmente, esse presidente é tão bipolar que não outra forma de descreve-lo. Além de outras e outras características desse homem pavoroso. Parabéns pelo seu texto.

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  5. Parabéns pelo seu texto, Cecília! Espero, de coração, que as coisas melhorem a partir das eleições desse ano...

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