“Resumidamente, narcisismo das pequenas diferenças é uma espécie de repugnância gratuita e primária que temos por pessoas ou grupos de nosso próprio meio social, que têm afinidades naturais conosco”. Era o que dizia um site qualquer quando fui procurar sobre o assunto. Logo depois, me puis a pensar em experiencias pessoas que tangenciam o assunto. Bom, sou uma mulher, branca, de classe media ,e mesmo tendo uma certa idade, ainda muito bem bancada pelos pais. Seria eu o agressor narcisista ao ver, quem sabe, a filha da minha empregada fazendo faculdade.
Mas aí me lembrei que vivemos em uma mundo misógino e fálico. E mesmo tendo o “privilégio” de ser branca percebo que eu e a filha da minha empregada estamos no mesmo buraco. Qual? O buraco da anormalidade, o buraco da exceção a regra. É claro que tudo o que vou falar a seguir tem um viés de classe e não tangencia nem de longe a experiencia das mulheres em geral, principalmente a das mulheres negras.
O fato é que sempre quis ser homem. Falar como homem. Beber como homem. Rir como homem. E com o tempo percebi que o que eu queria na verdade era ter a liberdade de me distanciar de certos esteriótipos em eventos da vida social e intima. Como toda boa historia de trauma, o culpado sempre acaba sendo um dos genitores e no meu caso é claro que estou falando do meu pai. Ele queria uma Loius Lane mas acabou recebendo uma Arlequina como filha. Alguém que não queria ser a coadjuvante em silencio mas sim a protagonista explosiva.
Ele me odeia pelo fato de nossas diferenças estarem mais estreitas e estreitas. Ele me odeia porque eu posso ter um sexo casual, porque quero ser chefe, porque quero ser forte.
Ok… Sei que ele não me odeia, mas ao ver sua filha tendo uma vida social que há 40 anos atrás era inadmissível seu ego imediatamente começa a odiá-ló e culpa-lo. “Ontem? Ontem eu dormi na casa do Raul”.“Mas ele nem é seu namorado, você não respeita a sua família?’’
Mas isso não vem apenas da minha fonte paterna. Sempre serei uma estranha em um papo sobre futebol, carros, economia, mundo do trabalho mas sempre muito bem vinda em rodas de maternidade.. A realidade é que nenhum homem gosta de ver uma mulher colocando o pau na mesa e mostrando não ser uma ouvinte tão boa e silenciosa como se esperava. Pois é pai, vou colocar muito mais do que o pau na mesa.
Inês de Castro
Nossa, excelente texto. Forte e bem escrito, trazendo reflexões muito boas e fazendo com que o leitor se veja no ambiente e na sua vida, apesar de ser distinto do meu ambiente
ResponderExcluirQue textão, Inês! Você explorou muito bem o tema e traduziu bem o que é ser mulher em ambientes de predominância masculina. Sua escrta é maravilhosa
ResponderExcluirO seu título chama muito a atenção do leitor! Você reconhece seus privilégios e expõe como sofremos com o machismo. O texto ficou muito bom!
ResponderExcluirQue texto forte, Inês! Do título até a última palavra, é de uma potência imensa! Parabéns pelo texto! Amei!
ResponderExcluir