quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Aqueles olhares esnobes

 Aqueles olhares esnobes. Sei que nunca me acostumarei a eles. Aquelas caras de nojo, é como se exalássemos o fedor da pobreza e da feiura. É como se fôssemos inferiores, mais fracos, impotentes e incapazes de lutar. 

Julga-me pelas minhas vestimentas ou pela minha aparência? O que concluis a partir delas? Talvez para eles eu não seja intelectual o suficiente por conta das origens humildes da minha família, ou então também pelo meu gênero. Concebem que eu não entendo sobre arte e nem saiba quem foi o primeiro presidente do Brasil. 

E o que achas do meu rosto? Tenho traços finos o suficiente? Tenho beleza ou sou desprovida dela? Eu sei que meus dentes tortos e gordura saliente incomodavam, essas características humanas faziam eles se sentirem enojados, melhores do que eu. Não gostavam da minha companhia apenas por ser diferente. Eu não era boa para conviver com eles e tampouco boa para os seus filhos.

Agora que tenho dentes alinhados e um corpo mais perto do padrão me assemelho mais a eles? Será que um dia serei igual a eles?

Escondo-me atrás de tecidos com linhos sem fim, apenas assim poderei me cobrir de mim mesma e me esquecer de mim.


Cida da Rocha


4 comentários:

  1. Eu sou muito suspeita pra falar porque adoro todos os seus textos! Você tem uma forma única de escrever. Que texto lindo!

    ResponderExcluir
  2. Olá, Cida! Me recordo de escrever sobre algo semelhante, sei como é. Seus textos são maravilhosos, parabéns!

    ResponderExcluir