Sommelier

 Julho de 2021

Nesse episódio não fui apenas espectadora, durante o mês de julho e agosto, trabalhei como voluntária na Campanha de Vacinação do Rio de Janeiro. Em um bairro privilegiado, eu preparava o comprovante para quem passasse pelo posto da Casa Firjan. Se não me engano, era o dia para os adultos de trinta e um ou trinta e dois anos, estávamos distribuindo vacinas para a covid 19. 

Você sabe qual laboratório produz a vacina da gripe? Do HPV? Ou a da Hepatite?

A resposta é não. 

Uma mulher chega para que eu preencha os dados na caderneta de vacinação, ela pergunta qual a vacina que estamos dando no dia? A respondo que é a da Covid, não tenho mais paciência, não acho tranquilo que me pergunta qual a “marca”, foda-se se é Pfizer, Astrazeneca ou CoronaVac. No momento, ela me respondeu com um sorriso, acho que minha exaustão foi compreendida. Respondi: “Hoje é CoronaVac, vai tomar?” Ela veio com um papo clássico desse povo classe média Zona Sul do Rio de Janeiro, vou para Europa, lá não aceitam… Respondi com sinceridade, que a escolha era dela. 

Cinco minutos depois, uma gritaria começa, do nada uma senhora que devia estar por volta dos seus sessenta anos se apoia na minha mesa e berra constantemente que eu fiz um descaso, que eu induzi a filha dela a tomar uma vacina “ruim” e que estraguei a viagem delas para a França. Ela insistiu na palavra descaso por um tempo. Aquilo não só me doeu pela confusão que foi armada, mas especialmente por eu dividir um espaço na terra com gente rica tão burra e sem nenhum pingo de vergonha na cara de fazer tamanho drama. Do meu lado estava o secretário de saúde, que me aconselhou a não responder, engoli a seco aquele dia de trabalho.

Shalla Bal