Sempre me senti na obrigação de desejar que o acontecimento não passasse de imaginação. Mas no fundo sei que minha vida seria completamente diferente, no sentido ruim da possibilidade. Não sei se estar em paz com o acontecimento me torna desumana. Eu sei que existe um sentido já que, ou eu pertenceria a alguém e teria as escolhas invadidas pela fraternidade, pela religião em que eram baseadas as relações que até então existiam, ou eu não pertenceria a um vínculo tão significativo mas fosse agraciada com um pouco mais de liberdade e ganhasse uma vida pouco mais estável.
Embora a vida inteira eu tenha desfilado numa corda bamba resumida nessa dualidade, não há um dia que eu não sinta a coceirinha que vem anunciar ‘’que vida eu teria tido se o acontecimento não tivesse acontecido?’’ e dói mais que ter que consumir visualmente essa redundância escrita. Quantas brigas eu teria presenciado? Quanta fome eu teria passado? Quantas vezes eu teria apanhado? A quantas restrições o fanatismo teria me destinado? Mas quanto amor eu teria ganhado? E se a droga não te roubasse da tua própria consciência? E se você se cuidasse e não fosse tão egoísta ao ponto de achar que tuas escolhas afetavam apenas a tua vida? Será que valeu a pena depositar a cura em um deus? Será que valeu a pena os vícios senão a esperança e o amor?
Será que eu seria mais feliz se não tivesse a vida atravessada pelo acontecimento e visto a tua por um triz?
Prefiro acreditar que eu posso ser mais que isso, que o acontecimento não me defina por inteiro.Talvez um dia eu deixe de ser a personagem secundária da minha própria vida, talvez eu me torne a protagonista e escreva meu próprio roteiro.
Helena Belmonte
Oi Helena! Que lindo o seu texto! Pelo que me parece você já é a protagonista da sua própria vida. Esse acontecimento te trouxe onde você está hoje, não se culpe por estar em paz com ele. Você não é desumana por isso, é simplesmente alguém que reconhece as implicações que o não acontecimento desse acontecimento teriam na pessoa que você é hoje. Deu pra entender? Enfim, você me parece uma pessoa muito forte. Um beijo <3
ResponderExcluirHelena, muito bonito o seu texto! Sinto que às vezes deixamos alguns acontecimentos de nossas vidas dizerem quem somos e até o que nos tornaremos. Saiba que você não se resume a isso. Não acho justo contigo mesma pensar que você é menos humana por estar em paz com o que houve, na verdade, te acho forte por ter passado por tudo e, ainda assim, ficar bem consigo. Assim como a Cecília comentou, te vejo muito mais protagonista do que você imagina.
ResponderExcluirAcredito que esses questionamentos sejam perfeitamente normais e que estar em paz com o acontecimento seja um bom sinal. Não sei o que aconteceu na sua vida e nem o que você sente, mas diria que você é sim mais do que isso. Você tem o poder para fazer o que quiser da sua vida, espero que não deixe nada nem ninguém te dizer o contrário, e espero que você possa ser muito feliz com as suas escolhas. Belíssimo texto!
ResponderExcluirQue lindo o seu texto! Penso muito também sobre isso de "e se isso não tivesse acontecido, como eu seria hoje?" e me consome demais.Sinto muito pelo que aconteceu com você, e como a cida e a cecília falaram, também te vejo como protagonista e você, com certeza, é muito mais do que um acontecimento. Um abraço <3
ResponderExcluirEu também tenho muito esses pensamentos em que imagino outros cenários de coisas que já aconteceram, mas às vezes eu mesma me bloqueio porque pensar tanto nisso normalmente só me faz mal, porque me leva a frustrações e arrependimentos. Bora tentar, daqui pra frente, focar mais no presente e evitar ao máximo esses cenários imaginários? Acho que vai fazer bem pra gente! Enfrentar o presente de cabeça erguida, independente das frustrações passadas, nos torna cada vez mais protagonistas de nossas vidas <3
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