Não tinha sapatos. Seus pés tocavam diretamente o chão sujo e repleto de formigas. Sua barba era longa e suas roupas rasgadas. No entanto, o que mais chamava atenção para sua figura era sua grande mochila, que provavelmente carregava todos os seus pertences.
Sentou-se ao nosso lado e comia uma laranja, ao mesmo tempo que observava os vários salgadinhos que tínhamos ao nosso dispor. Sua presença causava desconforto. Ele não tirava seus olhos de nós, e eu não tirava meus olhos dele. Para os outros, que estavam ao meu lado, ele era invisível, não era uma pessoa, fazia parte da paisagem urbana.
Acabou de comer sua fruta e lentamente se afastou, andando para longe. Quase instantaneamente um mar de risadas surgiu e frases como “será que ele vai fazer um mochilão?”, “deve ter vindo da Europa”. Ninguém se importou se ele podia ouvir o deboche com a sua situação. Ele não era digno de empatia.
Em poucos minutos ele voltou, dessa vez sem a mochila, por isso não sei nem se conseguiram identificar que era a mesma pessoa, não o olharam nos olhos. Mas eu olhei. Ele me olhou de volta. Seu olhar carregava raiva e desprezo. Imediatamente senti vergonha e não queria ser confundida com meus amigos, até perceber que, apesar de não ter participado da vergonhosa humilhação, eu não era muito diferente. Não ofereci comida. Não ofereci água. Não troquei palavras. Não o tratei como igual.
-América
que texto intenso, me deixou bem abalada com poucas palavras e me deixou sem saber o que pensar. acho que não saberia o que fazer nessa situação, tem coisas que são totalmente fora da nossa vivência e que a gente não sabe como lidar. essa é uma situação realmente complicada.
ResponderExcluirMuito forte o seu texto, América. Que triste perceber o quanto as pessoas são desumanizadas...
ResponderExcluirQue texto forte, América. Eu também não saberia o que fazer nessa situação, muito triste mesmo
ResponderExcluirProfundo, tocante e triste tudo isso. Por parte, é compreensível que você não tenha tomado uma atitude América, por outro lado, é foda saber que seus amigos são esse tipo de pessoas vazias.
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