Eu estava preparada para (quase) tudo naquela época: vestibulares, formatura, maioridade e até uma nova realidade, menos para a sua ausência. Não tive tempo de te contar, mas planejava passar um tempo na sua cidade após a sua alta do hospital para retribuir, de alguma forma, tudo o que você sempre fez por mim, cuidando de você. Infelizmente, não deu tempo: a pessoa que mais me compreendia, me amava, me defendia e inspirava não estava mais entre nós. Eu não tinha chão: nosso último encontro havia sido tão rápido, naquele frio do CTI... Na sua despedida, além daquelas típicas “conversas-moles” de velório onde me comparavam com a família inteira, me disseram para ser forte. Forte, ao máximo. Afinal, minha mãe e meu avô precisariam de mim, mais do que nunca. E foi isso que fui, ou melhor, fingi, ser.
Dois dias depois eu não me permitia mais chorar: aqui em casa todos já estavam mal o suficiente, eu não podia demonstrar fraqueza. Me perguntavam como eu estava: triste, mas conformada porque você havia descansado. A verdade é que eu estava perdida, sem muita perspectiva. Eram fins de alguns ciclos na minha vida, muito simultaneamente. Me joguei de cabeça em uma rotina exaustiva de 12 horas de estudo para tentar não lembrar, toda hora, da dor que eu estava sentindo. Conheci novos lugares, novas pessoas, mas sempre me lembrava do brilho no seu olhar e da sua empolgação quando eu te contava sobre alguma novidade da minha vida, imaginando o que você falaria sobre essas experiências.
O momento pandêmico chegou e, junto com ele, fui obrigada a desacelerar e lidar, de uma maneira até meio traumática, com os meus próprios sentimentos que vieram à tona. Ali começou a doer. Muito. A cada dia, uma crise de ansiedade. Pensei em qual solução você pensaria e decidi cuidar de mim, pois, infelizmente, você não poderia fazer isso e eu não posso ser forte o tempo todo. Eu não queria chegar ao meu extremo, ainda mais com a rotina exaustiva que estava tendo, mesmo dentro de casa.
Todos os dias ainda me pergunto se você ainda se orgulha de mim. Será que realmente estou fazendo as escolhas certas? Bom, de vez em quando algo me diz que sim: lembra aquela entrevista que você me deu, de brincadeira, aos 8 anos na qual a gente falava dos problemas do seu bairro? Bom...de certa forma foi ela que me mostrou um caminho em um dos momentos de maior dúvida. Decidi, finalmente, cursar jornalismo. Sempre esteve ali, só eu não via. Foi uma escolha difícil, pois eu tinha há anos uma única alternativa em mente, haja vista que toda a família já incentivava e me via como “a advogada”, mesmo que, bem lá no fundo, eu e você soubéssemos que não era aquilo o que eu realmente queria.
Se você ainda estivesse aqui, provavelmente as coisas seriam um pouco melhores, tenho certeza. Meu sonho era que você visse eu me formar e conhecesse meus futuros filhos. Não haveria esse buraco no meu coração, sabe? Você partiu levando um pedaço de mim, irrecuperável. Sei que já estava na hora e que você tentou ao máximo, não se entregou nem no último minuto. Isso me conforta, sei que eu era amada, ou melhor, ainda sou, esteja você onde estiver. Espero continuar te fazendo orgulhosa, sempre. Aliás, isso é o que mais me motiva a seguir e a viver. Afinal, você amava viver. E tudo isso aqui está sendo por você.
-Luísa Novelli
que texto lindo, consegui ter uma forte noção do seu amor por esse ente querido, tenho certeza de que essa pessoa sente muito orgulho de você.
ResponderExcluirMuito obrigada, Rainha do Caos! <3
ExcluirLuisa, que texto lindo! Senti o seu amor em cada palavra, em cada vírgula! Tenho certeza que essa pessoa, tão especial pra você, está muito orgulhosa de você! Se cuida <3
ResponderExcluirMe emocionei de verdade com o seu texto, Luísa! Perder alguém deve ser uma das piores dores possíveis... sinto muito por tudo. Se cuide e se preserve, ok? <3
ResponderExcluirMe emocionei com o sue texto. Ele é realmente muito lindo! Uma perda é uma perda.
ResponderExcluirQue texto lindo!!! Saudade corrói mesmo, mas espero que você fique bem, mesmo lidando com ela <3 E tenho certeza que essa pessoa que você tanto ama, também segue te amando, onde quer que esteja!
ResponderExcluirQue texto lindo ,Luisa. A saudade nos deixa muito confusas mesmo, mas a única maneira de confrontá-la é sentindo. Me emocionei demais com as suas palavras e tenho certeza que essa pessoa que você tanto ama tem muito orgulho de você <3
ResponderExcluirLuísa, tudo o que vivemos nesse tempo é de uma dor imensa. Também perdi pessoas próximas e creio que a maioria também perdeu. Mas juntos nos ergueremos e orgulharemos cada pessoa que nos ama onde quer que elas estejam, tenha certeza
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