quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Desabafo pessoal de alguém que sente

  Para falar sobre perda, preciso falar sobre mim. Preciso falar sobre anos de decepções, desilusões e desesperanças que me trouxeram exatamente aqui. Nesse momento. Contando a vocês tudo que mais me dói, que mais me atinge, e que, consequentemente, me fazem ser eu.

Já de antemão, preciso confessar que as minhas maiores perdas não foram familiares, amigos, ídolos ou pessoas físicas, mas sim a minha capacidade de acreditar na humanidade, e principalmente, em mim. Quantas vezes me perdi de mim mesma? Quantas vezes me vi indiferente ao dia seguinte? Esse vazio, essa incapacidade de sentir, até o que era normal ao meu dia a dia, já que eu sempre senti tanto, me atingiram como um soco no estômago. E por muitas vezes, eu me entreguei. Dias deitada, lágrimas sem explicação e uma alienação de tudo e de todos (que é a minha maior forma de defesa). Uma dor que agora, por exemplo, não sei explicar. Mas quem vive entende.

Além de tudo que se passa dentro de mim e da minha cabeça, tem o mundo. Ah o mundo real... Que sorte eu teria se vivesse apenas no mundo imaginário que invento toda noite antes de dormir. Cada vez que ligo a TV ou abro uma rede social, uma parte de mim se esvai. Devagarinho. Pouco a pouco. A cada vez que eu ouço alguém contrariar a existência do outro ou a minha própria, minha esperança se vai. A cada vez que penso em tudo que precisamos para evoluir como sociedade... Dói. Dói porque não depende apenas de mim, da minha bolha e da minha imaginação. Depende do presidente, depende dos grandes empresários, depende daquele parente, que espera ansiosamente por todo encontro familiar pra dizer que o meu mundo ideal é uma grande “ameaça comunista”. Quando na verdade, tudo que o meu mundo ideal é, é justo.

São nessas perdas, nesses momentos, que me pego pensando: é possível ficar pior? E adivinhem, caros amigos? Sempre é. E sempre fica. Mas acho que finalmente entendi, depois desses últimos (caóticos) anos, que vivemos com uma constante: a tristeza. Essa, sempre está lá. Ela está num dia de sol, no barzinho com as amigas, na série com a família e em todos aqueles momentos que julgamos como felizes em seu mais puro sentido. A tristeza nunca nos deixa, ela só se aquieta e espera o momento certo de dar as caras novamente. Pelo menos comigo é assim. E eu já me conformei, pois o importante pra mim é, mesmo quando estou perdida, me reencontrar. É nesses momentos que a vida faz sentido.

 

Cecília Quintana

11 comentários:

  1. Cecília, nesses últimos tempos estamos sendo bombardeados com tantas notícias ruins, tantas coisas que -como você mesma disse- não dependem de nós, que é difícil alguém estar 100% sã. De qualquer forma, espero que você volte a ter esperança em si mesma e na humanidade (mesmo parecendo tarefa difícil, assistindo tanta maldade todos os dias). Ainda existem pessoas muito boas que creem no amanhã, assim como você!

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  2. Caramba Cecília, me identifiquei muito com seu texto! Ultimamente temos visto e vivido tantas injustiças e momentos ruins que realmente acabamos nos sentindo como se a humanidade tivesse morrido. E isso sem dúvida é uma das piores sensações que existem. Mas apesar de termos esses momentos, é muito importante que continuemos lutando pela humanidade e nos manter autênticos, sempre! Pessoas como você são essenciais para sairmos dessa depressão que o mundo todo tem vivido!

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  3. Lindo o seu texto, Cecília. Também sinto muito isso de que a tristeza está em todos os momentos e acho que aprender a lidar com ela é uma jornada de muito autoconhecimento e importante pra todos nós enquanto pessoas. Você não está sozinha nessa! Um abraço <3

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  4. Cecília, acho que esse momento que vivemos de pandemia acabou intensificando essa falta de esperança na humanidade. Perdemos tantas pessoas, perdemos artistas incríveis, nos isolamos e perdemos o contato humano. Apesar de tudo isso vejo que tem gente que não aprendeu nada. Continuam com suas falas machistas, racistas, homofóbicas e não fazem a mínima questão de abrir a mente, debater ou tentar entender. Também espero que a humanidade melhore, um dia ela tem que melhorar. Temos dias muito ruins mas temos dias bons também, não perca a esperança e pense em momentos bons que já passou. Um beijo <3

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  5. Me identifico muito com muitos desses sentimentos, Cecília. É muito ruim sentir esse vazio dentro de nós mesmos e é difícil seguir em frente sabendo que tudo sempre pode piorar. Às vezes penso no quão bom seria passar um dia todinho dormindo para poder me esconder nos meus sonhos, longe dessa realidade tão complicada. Mas tento sempre manter uma pontinha de esperança de que as coisas eventualmente vão sim melhorar, não só para mim e para você, mas para todo o mundo. Então vamos em frente que esse dia vai chegar!

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  6. Oi, Cecília! Muito profundo seu texto, me identifiquei em muitas partes e acredito que outras pessoas também irão se identificar. Gostei muito também da parte em que vc falou que embora se sinta perdida, vc sempre se reencontra e é disso que é feita a vida, não é mesmo?
    Admiro a sua luta por dias melhores e por querer sempre a justiça (nesse país que não sabe o que essa palavra significa e a importância que ela tem!). Você é forte, nós somos fortes! abraços :)

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  7. "Uma dor que agora, por exemplo, não sei explicar. Mas quem vive entende." essa frase me pegou de um jeito que me deixa até sem palavras, que texto profundo e reflexivo. me identifiquei com o que você disse e desejo que a gente consiga recuperar aos poucos a fé na humanidade, porque se não for assim a gente não vive.

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  8. Fortissímo! Mas quem vive, entende. Faço das suas palavras as minhas.

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  9. Primeiramente, Cecília, que escrita linda. Você me tocou com as suas palavras e fiquei emocionada com o seu texto. Eu sei que diante a tudo que vivemos, até o que os nossos antepassados viveram, é difícil enxergar o futuro de forma otimista, tudo nos faz refletir como se a dor fosse um ciclo que não se pode romper, mas não creio que isso seja verdade. Eu te desejo muito amor e força, nunca perca o que te faz mais bonita: a sua essência. <3

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  10. Seu texto é muito forte e pesado. Espero que esteja tudo bem agora. Eu gostei do seu texto

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  11. Texto muito forte e profundo, Cecília! Parabéns!

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