segunda-feira, 27 de junho de 2016

Brincadeira de Criança


Esta história que compartilharei com vocês não é minha. Por mais que a minha vida seja um mar repleto de aventuras e desventuras, as histórias que Anete, antiga professora de jardim de infância, conta em nossos raros encontros são sempre encantadoras – não por serem recheadas de casais melosos e finais felizes, mas sim porque mostram como as crianças podem ser uma representação fiel dos adultos às vezes.

Anete, ainda no auge de seus 20 e poucos anos, era uma moça esbelta, com seus cabelos lisos negros e seus óculos de grau que davam a ela um típico lookde professora, ainda que se assemelhasse mais às representações sexuais da profissão que se veem em filmes pornográficos. Recém-contratada, Anete era o membro mais jovem e inexperiente do corpo docente do educandário onde trabalhava, o que já era problema suficiente.

Nada, no entanto, significava “problema” tanto quanto o antipupilo, o aluno exemplar da escolinha do capeta, o suprassumo da traquinagem: Juninho. O garoto de 5 anos era o pesadelo pelo qual toda professora contratada tinha que passar antes de poder ser efetivada, embora nenhuma delas tenha sobrevivido a tal ser humaninho travesso. Com Anete não foi diferente.

Seu primeiro (e último) dia no trabalho foi, eufemisticamente falando, uma maratona corrida sobre um chão de brasas. Desde o momento em que chegou a sua sala de aula, quando viu que o molequinho com cara de levado já havia roubado a boneca da Fernandinha, sabia que estava prestes a trilhar um caminho sem volta. Um caminho árduo, permeado por estresse e remédios para dor de cabeça.

Após pendurar a bolsa em sua cadeira, a jovem Anete voltou-se para a turma e disse, impostando sua voz afeminada: - Turma, sente-se! - Claro, sem sucesso. Quarenta crianças berrando em uma sala de aula e a mocinha da voz de veludo querendo ser ouvida era como esperar por um milagre. Milagre, porém, era o que ela precisaria ao ouvir um choro vindo do fundo da sala.

A gritaria se silenciara perante o sofrimento de uma das crianças, que, em prantos, encontrava-se no chão. Os infantos murmuravam, todos ao redor da cena do crime. Alguns poucos, de joelhos, tentavam estabelecer contato com a menina, que agora tinha as mãos no rosto. Ao aproximar-se da pequena multidão, Anete perguntou: - O que houve?

Uma garota, apontando para Juninho, disse: - Foi ele, professora.

— O que ele fez? - questionou Anete.

— A democracia, professora. Ele matou a democracia. - Respondeu a menina, cabisbaixa e consternada.

Anete, confusa, virou-se em direção a Juninho, que tinha um sorriso ardiloso no rosto. O menino não apresentava remorso, e outros garotos já se agrupavam ao redor dele, parabenizando-o por seu feito. Ao perguntá-lo sobre o ocorrido, recebeu a seguinte resposta:

— A culpa não é minha, professora. Ela sempre me chamou pra brincar de casinha com ela, mas ela sempre ficava com a boneca. Todas as vezes que eu brinquei, eu era o cachorro da Democracia. Todo mundo dizia que a Democracia era linda, que queria ter uma Democracia pra eles, mas nunca fizeram nada a respeito.

— E aí?

— Ué, - disse o menino, apontando para o corpo decapitado da boneca no chão. - Eu arranquei a cabeça dela. Se eu não posso brincar com a Democracia, ninguém pode.

Anete teve que terminar a história ali mesmo, infelizmente. Já era tarde, e a grande maioria das ruas estava interditada por causa das manifestações contra o golpe que derrubara a presidente Barbara Millicent Roberts. Uma pena, estava curiosa para saber se a Democracia voltaria à vida ou não.


Por Simone do Saxofone

Descanse em paz, democracia


Um dos lutadores vestia verde e amarelo, e o outro não vestia vermelho. Não vestia nada, na verdade. Sua nudez deixava evidente sua fragilidade e vulnerabilidade.

A maior parte do público tinha panelas nas mãos. Para que? Vai saber. Para cozinhar é que não era. Essas arquibancadas estavam protegidas por grades, cercas elétricas, alarmes e pit-bulls. Tudo para evitar que fossem atingidas pelo que acontecia dentro do ringue. No entanto, nenhum desses artifícios foi capaz de impedir que o sangue respingasse em todos os espectadores.

A diferença mais notável entre os dois adversários é que o lutador nu era extremamente jovem e magro. Tinha um olhar desorientado, como uma criança que ainda estava aprendendo como sobreviver em sociedade. Ainda estava nos primeiros passos, se consolidando. Era perceptível que tinha poucos anos de vida, enquanto o lutador verde-amarelo era nitidamente experiente. Estava acostumado a ser o dono do ringue na maior parte da história do Brasil.

"Ó pátria amada, idolatrada, salve, salve". O público majoritário cantava alto e tinha a ilusão de que a luta seguia o ritmo da música. Mas não seguia. O lutador verde-amarelo estava completamente alheio à vontade de sua plateia verde-amarela. Eram apenas fantoches. Um mata-leão bem aplicado deixou o lutador nu sem conseguir respirar ou reagir, e os jornalistas presentes levantaram as câmeras imediatamente. Os flashes disparavam, deixando claro quais seriam as próximas manchetes. Quando o lutador nu finalmente conseguiu se defender, nenhuma fotografia foi capturada.

Em um dos rounds, os murros fizeram soar palavras nos auto-falantes. Muitas eram palavras de agradecimento, que citavam Deus, a pátria e família. Pelo aniversário da minha neta, eu dou esse soco. Em memória do general Carlos Alberto Brilhante Ustra, eu dou esse chute. O público vibrava e o som das panelas ficava cada vez mais alto. Tchau, querida.

O golpe final marcou a vitória do lutador verde-amarelo sobre o lutador nu. Descanse em paz, democracia. 

Lucy In The Sky

Não Vai Ter Crônica



Escrevo em uma noite de um domingo que não poderia ser pior. Meu time foi goleado, briguei com minha irmã e estou há sete horas tentando escrever sobre um golpe que eu nem sei qual é. Pensei em falar sobre o golpe de 1889, sobre o golpe de 1930 ou sobre o golpe de 1964. Pensei em falar sobre essa tara brasileira por golpes.


Pensei em falar sobre o processo de impeachment da Dilma. Pensei em escrever uma carta fantasiosa do Presidente João Goulart para a Presidente Dilma. Pensei em escrever um relato de alguém que vivenciou o dia 31 de março de 1964. Mas quer saber? Eu devo ser melhor que isso, hoje eu me recuso a falar de política.


Parti então para os trambiques. Pensei no golpe da barriga, a saidinha de banco e é claro os golpes virtuais. “Descubra como o Google me paga dez mil reais por mês, sem sair de casa”. Ou melhor, “Você é o milionésimo visitante do site, click aqui pegar o seu prêmio”. 


Quando já estava desesperando, fui enviando mensagens para todos os meus amigos perguntando para eles o que achavam que era um golpe. Recebi de tudo, desde explicações retiradas dos dicionários até reclamações de provas colossalmente difíceis. Um amigo judoca me disse que um golpe é quando você derruba uma pessoa utilizando uma técnica específica (Tentador). Ele inclusive prolongou sua explicação, argumentando que a política e a luta têm muito em comum e que em uma jovem democracia como a nossa, as pessoas ainda tendem a vê-la como uma briga e que... Não, lá vai eu me meter na política de novo. 


Já ia me esquecendo, essa ideia foi até fofa. Eu iria falar sobre os golpes que a vida nos dá. Como elas nos machucam, mas que sempre acabam nos levando para o lugar em que a gente deveria estar.


Noticias nada. Imagens nada. Vídeo nada. Já sei, vou criar o golpe do falso mito. Pego uma subcelebridade e desconstruo-a. Pode ser o japonês da federal, ídolo do movimento contra corrupção e preso por contrabando, não vejo ironia melhor. Posso falar sobre o golpe do falso comunista, o pessoal que diz lutar pelo povo mas enriquece banco. Não, já falei sobre isso. 


Nada de política, nada de política... já sei, voltando ao golpe do falso mito, posso criar uma espécie de reportagem e mostrar como políticos fascistas atraem seus seguidores pelas redes sociais. Melhor, posso ocultar políticos e seguidores, substituo por criminosos e vítimas. Assim vai parecer mais um crime virtual.


Pensando melhor, a ideia de fazer um diálogo mostrando um golpe do falso sequestro, pode ficar engraçado. Engraçado? Você quer mesmo brincar com uma tragédia dessas? Quer saber? Sinto muito, mas hoje não vai ter crônica.


Tom     

367 x 137


Sol quente. Era domingo a tarde, dia 17 de abril. O jogo começara no Estádio da Câmara, em Brasília, e ele estava lotado. Milhares de expectadores, de todo o país, já que estava sendo transmitido pela televisão também. Todos atentos, apreensivos. Aquele jogo era importante. Decidiria o rumo do presidente de um dos times. 
Com o clima de decisão, inicia-se a partida. Logo no início, 1 gol do lado direito do campo. Alguns da torcida vibraram. Alguns muitos. Creio que eram a maioria. De repente, o número de gols só crescia. Estranhamente, seus jogadores dedicavam seus gols para os filhos, esposas, o país e até para Deus. Gritavam e comemoravam com garra. Até que o time que começara no lado esquerdo fez 1 gol. Perdido entre tantos do oponente... E seguia nessa proporção bem desigual. Dava para ter uma pré noção de qual venceria e que a presidência em questão estava realmente em risco. O mais inusitado era a euforia que surgia no estádio a cada posse de bola dos que venciam. Na cidade, os torcedores animados com o desempenho iam para fora de casa soltar fogos e para as janelas bater panelas. Satisfeitos e certos de que a esperada vitória seria o melhor para todo mundo.
Depois de horas, o resultado era inacreditável. 366 a 137. Eram pessoas decepcionadas de um lado e, do outro, explosões de alegria. Era um paradoxo e tanto dentro de um só local, o Estádio, o Brasil. Era uma torcida que, no fundo, não deveria esperar sair ganhando com 366 gols, mas que a decisão toda fosse tomada de forma mais democrática do que aquela partida. Os dos 137 sabiam que não havia tido democracia naquele processo. O juiz não julgou honesta e corretamente. Faltava 1 minuto para o fim. Nesse dia tão cheio, com expectativas que se superavam, mais um e finalmente terminou. Agora, 367. (Gol)pe.

Lia Mendes

Eu não sei


Eu só via vermelho, tudo em volta de mim era do vermelho mais vivo que eu já tinha visto. Minhas roupas estavam encharcadas, meu corpo doía mas o meu agressor não parecia mudar de ideia sobre o que pretendia com tudo aquilo. Meu coração pulsava e adrenalina ia e vinha dentro de mim, no entanto eu não aguentava mais tentar lutar contra ele, seria em vão de qualquer forma, ele estava determinado. Meu supercilio jorrava sangue e gritava de dor, meu estômago fora reduzido a migalhas dentro de mim, meus dedos do pé foram praticamente dilacerados, minha boca não se configurava mais como tal. E mesmo assim ele não desistia de mim. Insistia em me machucar mais, em me destruir um pouco mais. Eu não tinha certeza do porque de ainda estar viva, de ainda tentar lutar, mesmo que psicologicamente, com aquele que me maltratava, com aquele que me matava. Porém, eu não parecia estar indo a lugar algum, além da jazida onde ficaria para sempre. A vontade nos olhos dele brilhavam como fogo e ele nem ao menos arfava de cansaço. Não sei dizer até quando posso aguentar ser espancada desse jeito. Não sei dizer até que ponto posso aguentar para tentar salvar o pouco de dignidade que ainda resta em mim. A que ponto chegamos? Aonde vamos parar? Isso não podia mais continuar. Tentei gritar mais uma vez, mas foi em vão, minhas cordas vocais perderam a força. Tentei levantar, mas foi em vão, meus músculos não respondiam mais. Tentei abrir os olhos, mas foi em vão, tudo que eu via era vermelho. Tentei respirar, mas foi em vão, meus pulmões estavam começando a desistir de mim. Porque continuar tentando então? Porque eu simplesmente não desisti? Não sei dizer, mas eu continuei tentando. E a cada vez que eu tentava, meu agressor me olhava com mais raiva e mesmo assim eu tentava. Ele não desistia de mim, mas eu também não iria, não tão fácil assim. Apesar da dor, e das incessantes tentativas dele de me machucar mais, eu iria até o meu limite. Só não sei dizer a razão, mas tentar parecia ser o mínimo que eu poderia fazer. Esse não podia ser o fim, esse não podia ser o final da história. Como poderia? Ferida, caída, assassinada, estuprada, não podia ser assim. Mas era assim que eu me sentia ao acordar e ser alvejada por todas aquelas notícias sobre guerras, atentados, tiroteios, intolerâncias de todos os tipos, mortes antecipadas, crianças feridas, mulheres estupradas. Não vivemos um dia sem que algo do gênero não aconteça, sem que por um dia apenas possamos não espalhar a tristeza causada por outro igual a nós. Até que ponto chegaremos sem que tanta falta de compaixão não seja mesmo fatal para toda humanidade? Não sei dizer até quando posso aguentar ser espancada por um mundo desses. 

Melissa C.
Estava tudo de pernas ao ar. 
Os ladrões prendiam a polícia, os inocentes eram crucificados, os sábios ignorados e os ignorantes ganhavam voz. A confusão era tal, e o poder dos injustos crescia tão desenfreadamente, que até mesmo pedalar virava motivo para depor um indivíduo, se isso conviesse ao algoz.
A vida estava sendo regida segundo interesses pessoais, inventando-se a figura de inimigo da lei àquele que fosse o seu inimigo pessoal.
E não sei se é muito curioso ou se eu que não fui capaz de interpretar, mas para cada charlatão, havia sempre uma multidão negativamente afetada que o defendia pessoalmente, como se confiasse no outro a moral (também torpe) de si próprio. E se ousasse cuspir suas palavras de protesto, era morte social na certa! Ia acabar sendo manchado do vermelho sangue que te faz um alvo, porque sangrar aqui era considerado doença.
Tive que assistir, calada, às tragédias que me rodeavam. Cada dia pior. A miséria à solta, a perversidade reinando, a fome matando a cada esquina. O ódio sendo justificado, o beijo sendo apunhalado, a ética sendo abalada, a vida sendo mortificada. A moeda subia e, quanto mais difícil fosse alcançá-la, mais status e poder ela ganhava. Mais poderosa que homens, que, sem as ter, sucumbiam à morte e ao esquecimento. No caso de uma fatalidade mais escancarada no meio do caminho, desculpavam-se pela metade. Se uma Juma morresse e todo um estado tivesse que pagar por um evento que não queria, por exemplo, seria dito que havia sido um problema, mas que ninguém precisaria se preocupar pois o tal evento ia acontecer mesmo assim. Como se a nossa preocupação fosse um jogo.
Era demais para mim.
Minha visão ia ficando turva, meus pensamentos desconexos, já não aguentava mais tanta imundice. As formas começaram a se misturar e dançar na minha frente, então acordei. Senti uma dor de cabeça terrível e lembrei da queda que tinha sofrido no dia anterior. Relaxei. Foi só o golpe.
Pandora.

“Ordem e Progresso”


Em contário à lema famosa na baindeira do nosso país, a política atual está correndo na contramão.  Se olhar debaixo dos panos, descobrirá inúmeras corrupções e vergonha.  O pedido de impeachment contra nossa presidenta, Dilma Russeff, talvez seja o golpe conspirado com outros políticos que se chamam Eduardo Cunha e Michel Temer, ou talvez não.  A questão aqui é que a política inteira infelizmente virou o antro de pessoas que são com sede com dinheiro e fama.  

Em abril, a presidenta divulgou um vídeo em que estava insistindo no risco de perder a política democrática dizendo “Vivemos sob a ameaça de um golpe de Estado”.  

A sua tentativa de se mostrar como “vítima” por meio de jornais e emissoras de TV foi sucesso?

Por mim, não.  Provavelmente, apenas desse caso do impeachment, ela tem nada a ver com ser afastado e por isso ela continua declarando sua inocência.  Mesmo assim, o problema atual da política brasileira é que ninguém confia em nenhum políticos devido à série de corrupção, crise econômica.

O golpe atual é como subir o monte, mas é nem tanto bonito quanto você imaginará.  É muito mais horrível todos os políticos se empurrarem para fora do monte só para alcançarem ao topo, onde eles poderão conquistar o país com bastante poder.

 

Vivemos sob a ameaça de um golpe de Democracia.

Cachorro Quente

Fui apresentado à vida já com um – ou dois – duro golpe. Tem aqueles que nascem chorando o fato de ter findado sua maravilhosa formação dentro de sua mãe, e tem aqueles, como eu, que aceitam de bom grado o fato de ter chegado sua hora de vir ao mundo, porem, por medidas de segurança, são recebidos com um tapa para que chore. Ok, existe um por quê mas não deixa de ser o primeiro “golpe grátis” que a vida me deu.

A minha vida segue seu curso, natural. Recebi amor dos meus pais, recebi sorrisos e é maravilhoso esse mundão à quem fui apresentados. Milhares de possibilidades. Amiguinhos. Cama sempre que quisermos - nossos pais veem isso quase como um alivio. Pra eles é como folga por algumas horas. Até esse instante a vida parece ser mil maravilhas, mas a “mão que dá carinho, também da patada”.

E recebi o mais duro golpe da minha vidas, até o instante: Primeiro dia na escola. Como assim temos acordar cedo e termos que ver nossos pais nos deixar em um lugar que nunca vimos antes, com pessoas estranhas e, o pior, outras crianças? 

“COMO ASSIM NÃO SOU MAIS O “FOFINHO” E CENTRO DAS ATENÇÕES?”, eu pensava. 

Nos primeiros dias parece uma barbárie de nossos pais. O que fizemos? Eles não gostam mais de nós? Eles vão voltar? Não sabemos.

O tempo passa e percebo que algumas daquelas crianças até que são legais. “Obrigado pelos novos amiguinhos, vida!” Agora ir pra escola é legal e divertido – fazer desenhos - ou apenas rabiscos - e receber elogios por eles é realmente muito legal! Nada parece ser ruim e continuamos crescendo e já quero ser igual ao papai, mas eu só tenho três anos ainda, calma.

Cresci, os anos vão passando, e a vida já começou a nos amaciar com alguns golpes mas nada critico até agora. Um raladinho ali, um tombo aqui, tudo normal na infância, até que recebemos o mais duro golpe da vida acadêmica: “Prova de matemática terça-feira, turma!”.

 “Tia, a gente não sabe o que e prova, é de comer?”. Que pavor ter que mostrar que você tem aprendido algo nas aulas, isso nunca aconteceu antes. 

E seguem os golpes durante a vida, mas conforme cresço, percebo que “perder no par ou ímpar” não é tão ruim assim.

Aos onze anos, terminei o primeiro ciclo do fundamental e tive que mudar de escola. Não queria deixar de ver os amigos de sempre, gostava das “tias” que me ensinaram tantas coisas e foram tão legais. 

“E agora? Como vai ser nessa escola nova? Será que vou gostar? Ou pior, será que vão gostar de mim?”

Ok, os primeiros dias não são nada fáceis mas com o tempo a gente se ajusta. Surgem novas amizades, sou mais responsáveis – agora tenho a obrigação de manter seu quarto arrumado e lavar a louça de vez em quando, que “grande responsabilidade”, hein?! – e, terça e quinta, vou pra escolinha de futebol. Agora tenho que estudar pra valer pra passar nas matérias, tenho que levar o cachorro pra passear de vez em quando e nossos pais insistem que temos de manter o quarto arrumado.

“Pais, deem um tempo! O quarto é meu, certo?”

Já um pouco mais velho, uns quatorze para quinze anos, percebo que meus pais já não estão se falando muito, e não rimos mais juntos como antes. Vejo que eles não olham mais um para o outro.

“Pais, o que está acontecendo? Não me deixem sem saber o que está acontecendo!”

Algumas semanas depois do fim das aulas meus pais me dizem que estão “dando um tempo” e que meu pai – SIM O MEU PAI! – iria sair de casa por um tempo para que ele tivesse espaço para pensar e que minha mãe também tivesse tempo pra ela pensar. Nunca antes levei um soco tão forte da vida. Acho que levei uma sequência de socos na verdade, o suficiente para desaprender falar o português mais básico.

“Como assim dar um tempo? Quanto tempo? NÃO SEJAM IDIOTAS, SEU BOBOS!”

Foi um período difícil. Passei a arrumar a casa, lavar a louça e principalmente dominar a máquina de lavar roupa. Tinha que me virar agora que meu pai não ia estar sempre presente, tinha de passar a ser o homem da casa e agir como tal.

Meus pais passaram seis meses separados até que meu pai finalmente voltou pra casa. Eu via meu pai quase todos os dias, mas fazia tanto tempo que não os via juntos, pai e mãe, sorrindo de novo que mal podia expressar o quão feliz estava e o quão bom era ver que estavam felizes. Que estávamos felizes. 

“Obrigado, vida!”

Me achava forte e confiante quando passei para o ensino médio. Afinal, já havia sentido o peso da vida e principalmente seu conforto, mas a vida é uma caixinha de surpresas.

Nunca me senti assim antes. Era como se não soubesse falar de novo, mas agora era diferente, não mais por medo, mas por “amor”? Seria isso? Não sei, mas assim que eu a vi, tudo parecia menos importante e que vê-la ali, conversando com outras meninas, era a coisa mais interessante do mundo. Seu nome era Maria Antonieta, eu não sei bem, mas parece que esse nome era igual de alguém importante. Cabelos longos e loiros, olhos azuis e um sorriso que fazia meu coração parar e meu estomago tornar-se um ginasta dentro de mim.

Maria Antonieta foi o primeiro “golpe do amor” que levei na vida. Ela era muito gentil e extremamente educada, hoje se a encontrasse certamente a convidaria para um café e iriamos dar risada sobre o passado, mas foi minha primeira rejeição e era difícil aceitar que o que sentimos não significa que os outros são obrigados a sentir o mesmo.

“Obrigado, Maria, aprendi muito com sua rejeição. Também aprendi que o azar foi seu! haha”

Aos dezoito anos, estava no meu último ano no ensino médio e ainda não fazia muita ideia do que eu gostaria de fazer. Mas me esforcei pensando no vestibular. Estudei de verdade, e quando recebi a notícia de que “não estava qualificado” para entrar na faculdade, me achei um completo inútil. A vida estava me dando um sopapo e eu demorei pra reagir. Vi muitos amigos felizes entrado na faculdade, abraçando os pais e agradecendo aos professores por os ajudarem.

Meus pais foram muito pacientes me explicando que haveria outra oportunidade no ano seguinte, mas mesmo assim, sentia que os estava decepcionando.

“Vida, da uma trégua.”

Hoje estou com dezenove, quase vinte anos. Ontem recebi a notícia de que passei no vestibular. O curso vocês tem de descobrir. Quem sabe não consiga um emprego que me permita viajar? Estou ansioso para o que a vida tem a me oferecer a partir de agora. Sinto a mão leve mas estou preparado para os murros que estão por vir. Amanhã vou falar de uma vez por todas que eu estou apaixonado pela Monica, somos muito fã de Legião Urbana, e essa foi a primeira coisa que descobrimos ter em comum.

Como já dizia Balboa: “A vida não é sobre quão duro você é capaz de bater, mas sobre quão duro você é capaz de apanhar e continuar indo em frente.

 

Leo Valdez


PESO-MÉDIO NO UFC


Cléber Machado: 

-Muito boa noite caros expectores, hoje teremos a luta do século, boa noite Cigano 

Cigano: 

-Boa noite Cléber Machado, exatamente, essa luta será marcada na história das disputadas de peso médio. Temos dois competidores muito fortes e que buscam o cinturarão a qualquer custo 

Cléber Machado: 

-Pesando 80kg e possuindo como sua arma secreta os seus chutes com a perna esquerda  ,Daaaaniaaaaal Rousseff acaba de entrar no octógono. E você , o que acha de Danial? 

Cigano: 

-Então Cléber, Danial vem fazendo uma trajetória longa no UFC, só que claro, não podemos deixar de destacar as suas continuas lesões que afetaram os seus jogos.Esta sendo uma temporada muito dura para ele e há boatos que os seus patrocinadores estão querendo tirar o patrocínio 

Cléber Machado: 

-Realmente é uma situação muito complicada. E agora, pesando 82,5kg e com socos de esquerda, Miguel Temmmmmmmmer acaba de entrar no octógono. Com certeza, os socos  de Miguel podem assustar Danial essa noite. 

Cigano: 

-Sem dúvidas! Devemos ficar muito atentos, também, para a situação de Miguel com o uso de medicamentos ilegais. Ano passado ele já foi pego usando esses medicamentos só que conseguiu uma liminar na justiça para lutar.Já esse ano, ele esta sendo investigado de novo. Só deixando claro, o uso desses remédios aumentam o desempenho dos atletas mas afetam muito na sua saúde e não são permitidos pela comissão desportiva

 Bruce  Buffer :

-ITTTTTTTTTTT'S TIME 

Cléber Machado: 

-Danial Rousseff vem sofrendo muito nesse começo de luta,né Cigano? 

Cigano: 

-Sim! Ele esta completamente perdido no octógono. Nenhuma de suas manobras conseguem segurar Temer. 

Cléber Machado: 

-Isso mesmo Cigano.Acho que muito dessa situação esta relacionada a equipe de treinadores de Temer.Eduard Cunha, já havia treinado Danial e devido a um desentendimento dentro do comitê esportivo, Cunha se virou ao esportista. 

Cigano: 

-Essa luta esta incrivelmente animada 

Cigano: 

-O que que é isso minha gente ?????? Não creio que isso aconteceu!!!! 

Cléber Machado 

-O juiz viu isso? A luta esta parada para averiguar a situação se houve ou não um golpe proibido 

Cigano: 

-Teve sim um golpe Cléber. E acho incrível o juiz não ter visto isso....Agora só basta esperar o que ele vai falar  

O tempo passa e a tensão da luta só aumenta 

Cigano: 

-Como assim o juiz não considerou um golpe? O que você acha disso? 

Cléber Machado: 

-Olha se ele não considerou golpe não foi e a luta continua ...! 

Cigano: 

-INACREDITÁVEL 

 

 

 H. Machado 

O mundo da voltas...


Recordo-me muito bem de como tudo era perfeito. Vivia em bailes de gala, frequentava diversos salões de beleza, preenchia meus armários com perucas das mais variadas cores, provava pratos dos chefs mais requisitados da França, possuía vestidos de pura e fina elegância além de ter aos meus pés uma multidão de súditos. Lembro-me do frescor das flores do jardim e do esplendor do Palácio de Versalhes no qual vivia com meu amado marido Luís XVI.  Naquela época foi fácil adquirir tudo isso e o povo no começo nem desconfiava de que sua querida rainha havia lhes dado um golpe. 

Tudo começou com o meu vício de jogar cartas. O vício era tanto que Luís instalou em nosso palácio um cassino particular para que eu pudesse deitar e rolar sobre minhas apostas. Na inauguração, joguei por trinta e seis horas e perdi nessa brincadeira mais da metade da fortuna real. Obviamente quando me dei conta de que todo esse dinheiro perdido me impediria de comprar mais vestidos e perucas, eu enlouqueci. Culpei meu marido e súditos e tentei achar uma saída, mas a única que Luís havia me oferecido era de que eu teria que vender meus pertences para reabastecer o nosso cofre. Claramente eu que era uma rainha fútil, recusei e decidi que a única saída seria dar um Golpe no meu povo. Porém, precisava convencer meu marido. No começo ele recusou, disse que isso era maluquice e que não podíamos fazer isso com “nossa família” (era assim que ele chamava o povo francês), mas eu não me importava. Eu só conseguia me lembrar dos vestidos, perucas e perfumes que as grifes francesas haviam lançado. No final, ele acabou concordando. Luís também tinha suas vaidades e ele sabia que sem o golpe seria quase impossível ele conseguir sustentar suas manias.

  Maria Antonieta era conhecida por ser uma rainha que seguia a moda e de certa forma isso me ajudava a ter poder político e autoridade sobre a sociedade francesa. Por isso Luís não queria dar o golpe, porque caso fossemos descobertos toda a influência que possuíamos poderia ir por água a baixo. E foi. O povo começou a desconfiar pois não investíamos mais na educação e muito menos na saúde. A população foi ficando cada vez mais pobre e nós da corte real estávamos sempre elegantes, perfumados e com vestimentas novas. As crianças ficavam doentes e acabavam morrendo, as escolas ficavam vazias pois não havia pagamento aos funcionários. O cenário francês era de um verdadeiro caos. Obviamente o povo, que de bobo não tem nada, descobriu nossas tramoias. A revolução foi grande, sentiram tanta raiva de nós que seriam capazes de nos matar. Mas eram espertos e sabiam que a morte seria pouco para nós. E foi nesse momento que nós golpistas levamos o golpe do povo. 

Eles nos enviaram para o Brasil, mas precisamente para o Rio de Janeiro. Tudo bem, aqui nem é tão ruim assim. Porém a situação daqui está ficando parecida com a que vivi na França. A maior parte da população tem pouco e precisa economizar seu dinheiro para poder garantir a comida do dia seguinte enquanto uma minoria (a corte brasileira) esbanja dinheiro e vive no maior luxo. O contraste é grande. E logo logo o povo daqui vai se rebelar diante de tamanha desigualdade e assim como os franceses, darão um golpe nessa minoria.

 Hoje, sou outra Maria Antonieta. Antes era Rainha da França e não precisava trabalhar para manter meus luxos. Hoje sou uma jornalista quase falida que precisa todos os dias escrever crônicas para garantir o alimento do dia seguinte. Hoje eu faço parte da maioria da população brasileira. Hoje eu sou o povo. Hoje eu ajudo o povo a dar um golpe nessa corte brasileira.

Maria Antonieta