segunda-feira, 13 de junho de 2016

O sono pesado


 

“Alberto, espera. Aqui, não. Alguém pode ver.”

 

“Vamos para o bar.”

 

“Eu moro aqui. Todo mundo me conhece, conhece meu marido. Não.”

 

“Então… Onde?”

 

“Alberto, você é um homem destemido?”

 

“Você não faz idéia.”

 

“Então vem comigo.”

 

Ela o pegou pela mão e o puxou. Pararam em frente ao prédio. A adrenalina a 

lavou. Tentou enxergar o porteiro através do vidro, mas a película escura deixava 

muito escuro dentro do prédio.

 

“Espere aqui um pouco.”

 

Com cuidado, abriu a porta de vidro. Um ronco reverberou pelo saguão: o porteiro 

ainda dormia. Com um gesto, chamou Alberto para entrar.

 

“Silêncio, agora.”

 

Com todo cuidado necessário, delicadamente, chegaram até o elevador. Alberto não 

estava entendendo direito o que acontecia, mas entrou no jogo.

 

“Onde a gente está indo?”

 

Ela sorriu.

 

“Calma. Você vai gostar, tenho certeza.”

 

Chegaram ao andar dela. A luz do corredor se acendeu enquanto a porta do 

elevador se fechava atrás deles. Ela deu um rápido beijo nos lábios dele, tirou a 

chave do bolso e encaixou na porta.

 

“Com todo cuidado agora, ok?”

 

Ele assentiu em silêncio.

 

Ela entrou em casa seguida por Alberto. Calmamente, fechou a porta. Alberto estava 

parado, um pouco assustado, conforme seus olhos demonstravam. Ela o levou até a 

cozinha e encostou a porta que a separa da sala. Sentia o coração na boca. O medo 

deixa tudo mais gostoso.

 

“Eu moro aqui. Meu marido tem o sono pesado, não acorda nunca, para nada.”

 

 VascoPaulo14

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Caramba, isso que é ser destemida rsrs. Seu texto cumpre muito bem a proposta do título e acredito que rompe os limites do cotidiano, quebra a corrente do LEAD, evita o senso comum e é perene, até porque uma pulada de cerca sempre vai existir, não importa o tempo xD

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  3. Nossa, que ousada kkk. O seu titulo encaixa totalmente na lógica do texto!A forma que você desenvolveu a história (por meio do uso de diálogos) produziu um maior dinamismo na historia, o que foi bem legal.
    Ao longo do seu texto eu notei a quebra total do lead, perenidade e evita o senso comum
    Sobre as questões psicológicas, eu posso estar realmente MUITO errada, mas noto uma personagem que gosta de adrenalina e que estava cansada da monotonia da sua vida
    Gostei :)

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  4. Acho que fica claro a abordagem psicológica, já que a personagem, como disse Helena Machado, parece buscar a emoção fora da rotina de seu casamento. Também, de certa forma, podemos tirar uma interpretação antropológica: como a ilusão da instituição do casamento. Acho que seu texto ampliou a visão da realidade, ultrapassou os limites do cotidiano, rompeu com as barreiras do lead e evitou definidores primários.

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  5. Concordo com a Helena Machado na questão do dinamismo causado pelo diálogo. Foi bem interessante! Mesmo não tendo explicitado, você nos levou a imaginar o que aconteceria após a última frase. Acredito que você tenha abordado um ponto psicológico e de cidadania, ao mesmo tempo, ao tratar do casamento – e consequentemente da traição. Notei também rompimento com o lead e perenidade. Parabéns!

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