segunda-feira, 27 de junho de 2016

O texto do texto

Todos nós sabemos que a vida de jornalista não é nem um pouco fácil. Pra quem não me conhece, sou colunista de um jornal. Hoje, meu chefe me chamou na sala dele e disse que queria que eu preparasse um texto para amanhã. O tema: Golpe. Como tenho amor pelo meu emprego, obedeci a ordem. Golpe... Tema bem relevante, mas ao mesmo tempo muito difícil de abordar. O que falar? Como falar? Realmente meu chefe não teve PENA de mim.

 Chegando à casa, liguei o computador, preparei um café e comecei a pensar. O resultado eu já esperava: Nada vinha até minha cabeça. Resolvi, então, relaxar um pouco para conseguir tentar começar meu texto. Liguei a TV e fui assistir o meu tão amado futebol. Estava passando um vt do jogo Brasil x Alemanha pela Copa do Mundo de 2014. Realmente, era cada hora um 7x1 diferente. O cansaço me consumia. Deitado no sofá, meus olhos iam ficando cada vez menores até eu cair no sono.

 Acordo com um latido do meu cachorro. Quatro horas da manhã. Faltavam apenas três horas para estar no trabalho e entregar aquele maldito texto. Voltando ao computador, continuava sem saber o que escrever.  Sendo assim, decidi entrar em um site notícias para ver se a inspiração chegava. Deparei-me com notícias do tipo “Juiz erra e time consegue vitória graças à marcação de um pênalti simulado”, “Jovem confessa ter matado os pais para ficar com a herança”, “Ator da novela das 20 horas admite que colava nas provas do colégio”. Na sequência, títulos como “População protesta contra o Golpe”, “Políticos são acusados de desvio de verba e geram irritação do povo”. Depois disso, comecei a refletir. Milhões de pensamentos vieram a minha mente naquele momento. 

Questionei-me sobre a conjuntura que o país vive e sobre a forma com que o povo estava lidando com isso. As pessoas tratavam o impeachment da presidente como apenas uma forma de satisfazer os interesses pessoais de quem estava entrando no poder. Mas quando me lembrei das outras notícias que li, a seguinte indagação surgiu: Será que os brasileiros como um todo também não estão constantemente buscando levar vantagem no que fazem? Será que Cora,  VascoPaulo14, Lia Mendes, entre tantos outros, também não estão tentando sempre sair beneficiados no dia a dia? Resolvi, então, escrever sobre isso.

Sei que posso ser mal interpretado com as minhas palavras. Meu objetivo não era afirmar que somos iguais aos políticos suspeitos de envolvimento em escândalos de corrupção. Pretendia fazer com que as pessoas refletissem sobre os recentes acontecimentos. Não seriam esses políticos apenas um reflexo de todo o restante da nossa sociedade?

Terminado o texto, dormi por alguns minutos que ainda me restavam e depois fui para o trabalho. Apresentei meu trabalho para o chefe. Ele não gostou e, consequentemente, não o publicou. Talvez não fosse o que ele esperava. Talvez não fosse o que ninguém aqui esperava. Acho que se tivesse mantido minha veia humorística, teria agradado mais. Porém, achei desnecessário brincar com um tema tão delicado. Muitos agora podem estar achando que minha tese é um grande absurdo, mas tenho certeza algum leitor desse humilde colunista que vos fala conseguiu captar a ideia que quis transmitir. Tenho ouvido muito que a população deve TEMER pelo futuro do país. Para mim, está na hora de nós pararmos de reclamar de crise, de falar que o Brasil já não tem mais jeito e de que tudo aqui é um lixo. Chegou o momento de cada um fazer a sua parte e, se realmente o povo anseia por mudanças, desculpe-me o clichê, mas que elas comecem por ele mesmo.

                                                                       Júnior West

3 comentários:

  1. Eu adoooorei seu texto, em especial os trocadilhos kkkk Foi bem profundo que você tenha decidido tocar nesse assunto tão delicado que é as nossas atitudes no cotidiano. Na verdade você me fez pensar se talvez os políticos sejam apenas reflexo da nossa população (afinal, fomos nós que os colocamos lá), e eu acho que isso destacou o exercício da cidadania presente no seu texto, porque ele pode ser utilizado para conscientizar as pessoas e até estimulá-las a agirem de forma mais correta. Também acho que há certa perenidade, pois, infelizmente não acredito que o quadro de nosso país vá mudar tão cedo.

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  2. Muito bom! A forma como o tema foi tratado, logo garante uma visão ampla da realidade, além de trazer uma questão antropológica sobre as atitudes corruptas do homem em diferentes níveis na sociedade. Percebo também, o rompimento com o lead, com os limites do acontecimento e o espirito cívico presentes no texto. Os recursos de intimidade, a linguagem coloquial e o toque humorístico, conseguem garantir uma maior aproximação com o leitor. Parabéns pelo texto!

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  3. Também adorei o texto! A linguagem informal, o humor, tudo isso nos dá uma sensação de intimidade com o personagem e deixa o texto com um tom mais leve, descontraído, sem ser um texto longo e chato. Arrisco a dizer que conseguiu todas as pontas da estrela, principalmente a do exercício de cidadania, pois nos faz refletir sobre a corrupção existente, rompimento com o lead e, como Cora disse, uma perenidade também é vista. Gostei também da metalinguagem utilizada. Parabéns!

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