– Papai, por que a mamãe é frágil?
– O quê? Onde você ouviu isso?
– Na televisão. "Mulher, o sexo frágil." Mamãe é mulher, né? Ela não é que nem as meninas da minha escola. Ela é gente grande.
– ...
– Ela é sim ou não?
– É o quê?
– Frágil.
– Isso é... É complicado.
– Complicado?
– É, difícil.
– Mas por quê, papai?
– Porque sim.
– Porque sim não é resposta, papai. Mamãe diz isso o tempo todo pra mim. Me diz aí, por que a mamãe é frágil?
– ...Você vai entender quando for mais velho.
– Não, eu não vou entender, não. Mamãe sai pra trabalhar que nem você, volta tarde pra casa e ainda faz a janta, arruma a casa, lava a louça e me ajuda com o dever de casa. Ah! Ela também acorda mega cedo pra me arrumar pra escola e fazer o café da manhã. Como a mamãe pode ser frágil se ela faz tudo isso todo dia?
– Ela não é frágil de verdade, é só que os homens têm o costume de chamar as mulheres disso.
– Homens tipo você? Por que você chama a mamãe de frágil, papai? Eu vou chamar as meninas da minha escola de frágeis quando eu for grande feito você? Eu não quero fazer isso porque elas não são frágeis e mamãe diz que mentir é feio. Maria me acertou com uma bola outro dia e doeu pra caraca. Isso quer dizer que ela é forte, então ela não pode ser frágil, né?
– Ninguém nunca vai te obrigar a chamar as mulheres de frágeis.
– Ué, então por que você chama a mamãe assim, papai?
– Quando eu disse que os homens chamam as mulheres de frágeis, eu não estava me incluindo; apenas uma maioria deles fala isso. Foi só uma generalização.
– Generalização? O que é isso?
– É considerar todo mundo como uma coisa sendo que todo mundo é diferente um do outro, então isso é errado.
– ...Oi?
– É tipo dizer que todo cara gosta de futebol, sabe?
– Mas, papai, eu não gosto de futebol. Isso quer dizer que eu não sou um "cara"?
– Não, não, não. Não tem problema nenhum em não gostar de futebol, filho, isso é normal. Por isso que eu disse que generalizações são erradas, entendeu?
– Aaah, agora eu entendi. Então na verdade a mulher não é sexo frágil, né? A mamãe é forte?
– Exatamente.
– Que bom, porque aí ela não precisa da nossa ajuda com as tarefas de casa.
Cora
Muito boa colocação a respeito do tema. Ao contrario de muitos autores aqui, você utilizou a outra vertente da palavra sexo.Genial.
ResponderExcluirAo longo do texto consegui notar visão ampla da sociedade, perenidade, quebra do lead e exerce cidadania (mostra a mudança de perspectiva das novas gerações)
Achei a crítica do texto genial. O raciocínio infantil desconstrói a lógica machista para, no final, reforçá-la. Isso demonstra a dificuldade de quebrar essas barreiras que já estão estabelecidas.
ResponderExcluirNa minha concepção, as pontas da estrela que se destacam são cidadania e perenidade.
Cora, devo comentar que achei o texto surpreendente em dois sentidos: por abarcar um outro significado da palavra "sexo" e pela quebra de expectativa ao final. Parabéns! Pelo desenrolar da história o menino tinha todos os questionamentos para ser crítico a esse preconceito e no final essa ideia é desconstruída. Achei muito intrigante! Percebo uma visão antropológica tratando da questão da mulher, e o machismo que ainda persiste na sociedade, o que reflete também no espírito cívico presente no texto. Além disso, observo perenidade, rompimento com o lead e uma visão ampla da realidade. Mais uma vez, parabéns pelo ótimo trabalho!
ResponderExcluirConcordo 100% com Dante Lemos. Adorei como você escolheu outro sentido da palavra "sexo", o que fez seu texto se destacar. Também, como já dito, a abordagem antropológica está muito presente. O machismo é transmitido até mesmo para crianças que já ouvem "você não é menininha para chorar" ou "isso é brinquedo de menino". Achei que o texto ampliou as visões da realidade, rompeu com o lead, não usou os definidores primários e, principalmente, exerceu a cidadania.
ResponderExcluirComo os amigos já citaram, a sua escolha pelo outro sentido da palavra "sexo" foi incrível e criativo. Seu texto é muito bom, original, dá vontade de ler e de indicar aos amigos. Das estrelas, a que mais se destaca é sem dúvida o exercício da cidadania. A problemática que você levantou ao mostrar que o machismo vem desde a infância foi genial. Além disso, você definitivamente rompeu com lead, atingiu profundidade numa conversa cotidiana entre pai e filho e foi perene. Parabéns!
ResponderExcluirEu gostei bastante da sua escolha para escrever o texto. Boa ideia por falar do outro significado da palavra "sexo", original e bem escrito. No que se refere às estrelas, eu vejo perenidade e cidadania. Parabéns!
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