Eram quatorze horas de um sábado ensolarado... O céu estava azul e quase não se viam nuvens no céu, os meninos corriam pelas ruas empinando suas pipas com sorrisos de contagiar e as meninas cantavam suas cantigas enquanto arrumavam suas bonecas. Meus pais haviam viajado e eu estava sozinha em casa, pra variar. Havia escolhido aquele dia para deixar de lado o meu medo e fazer algo pela primeira vez.
Heitor e eu namoravamos a uns dois anos, e ele insistia sempre que eu deixasse esse meu medo de lado. Obviamente ele tinha segundas intenções sobre o assunto. Decidi que de fato precisava fazer isso, eu já tinha meus quinze anos e já estava mais do que na hora. Marquei com ele para que viesse até a minha casa no sábado e ás duas e meia da tarde ele apareceu.
O clima estava aumentando, cada segundo que se passava ia ficando mais quente e eu ia ficando cada vez mais nervosa. Admito que no começo doeu muito, pensei até em desistir. Mas mantive a coragem e falei para Heitor que podia continuar. Não ia parar no meio do caminho até porque eu sabia que se eu parasse depois iria doer muito mais. Foi nesse momento que percebi que sangrava, fiquei desesperada. Mas Heitor me tranquilizou "É assim mesmo amor, relaxa, vai dar tudo certo.". De certa forma fiquei tranquila, afinal confiava nele o suficiente para saber que no final realmente daria tudo certo.
Até que em determinado momento percebi que não sentia mais dor. Me sentia livre, sentia que a partir daquele momento eu poderia ser dona de mim, poderia ter o que quisesse na hora que quisesse. Quis agradecer a Heitor de todas as formas por ter me ajudado a superar esse medo. Foi o momento mais prazeroso da minha vida, senti vontade de gritar e falar para todos o que havia acontecido comigo. Tive orgasmos de tanta felicidade. A sensação de sentir os cabelos ao vento era totalmente mágica.
Foi assim que aprendi a andar de bicicleta, e é obvio que se não fosse por Heitor eu jamais teria perdido o medo. Tal medo que sempre aparecia quando via alguém caindo ao tentar aprender a andar. Hoje já se passaram uns três anos que tive minha primeira vez com a bicicleta e sei que aquela frase que ouvimos sempre de nossas mães: "andar de bicicleta a gente nunca esquece" é realmente verdade. Ah e se permitem dar um conselho a vocês... Andem de bicicleta, faz bem pra saúde e é MUITO prazeroso.
Maria Antonieta
Adorei a quebra de expectativa. Arrisco a dizer que seu texto alcançou todas as estrelas (menos, talvez, o exercício da cidadania). Sua linguagem é bem leve, irônica e esperta. Parabéns!
ResponderExcluirEu acredito que ela tenha exercido a cidadania também pois, no início, a metáfora começa a ser construída sobre a pressão de "já ter quinze anos e já estar mais do que na hora" de fazer aquilo etc. Posso estar errado, claro, mas acho que ao desenvolver isso de uma forma leve, ela atingiu esse ponto.
ExcluirMais um texto com uma quebra de expectativa sensacional! Acredito que com a descrição do ambiente, no primeiro parágrafo, você potencializou os recursos jornalísticos e criou uma aproximação com o leitor ao fazer ele imaginar a cena e entrar na história. A metáfora foi muito bem construída também. Ao meu ver, você atingiu todas as 7 estrelas. Parabéns!
ResponderExcluirAdorei seu texto! Essa quebra de expectativa foi muito criativa e bem utilizada. Enquanto lemos, vamos fazendo reflexões sobre a pressão da sociedade quanto ao sexo e muitos outros pensamentos e, no final, a linha de pensamento se rompe e até damos uma gargalhada. Parabéns pela criatividade! Arrisco a dizer também que atingiu todas as pontas da estrela e que é um texto que fica marcado na mente de quem lê. Eu, por exemplo, já li há algum tempo e ainda me lembro e comento de vez em quando. Parabéns!
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