domingo, 5 de junho de 2016

Coxinha ou pão com mortadela?

São dezessete horas de uma sexta feira, o dia mas corrido da semana. Saio da redação ás pressas com uma vontade gigantesca de chegar em casa, jogar o sutiãn longe e mergulhar no sofá para assistir mais um episódio de Game Of Thrones. Mas até chegar em Irajá vai demorar... Nessas horas que eu penso, porque trabalho tão longe de casa?  Chego na estação e percebo que a barca está quase saindo, ou seja, preciso correr. Corro desesperadamente, não consigo ver nada a minha frente pois o vento numa tentativa nada amigável obriga meus cabelos a dançar com ele e acaba fazendo com que todo o meu rosto seja coberto pelos meus próprios fios, tropeço em mim mesma e esbarro nas pessoas porque sei que se perder essa barca só Deus sabe quando pegarei outra. Enfim chego na plataforma, e preciso decidir se sentarei a esquerda ou a direita. Esses tipos de decisões sempre são dificeis pra mim, por incrivel que pareça. A minha esquerda vejo o Corcovado e o Aeroporto Santos Dumont e a minha direita vejo a Ponte Rio Niterói. Tento decidir rápido, porque quanto mais eu demoro para escolher meu lado, mais pessoas vão entrando na barca e preenchendo os lugares. Enfim decido, escolho a esquerda. Prefiro passar vinte minutos olhando para o Corcovado enquanto escuto Caetano, do que ficar olhando para uma ponte monótona e super sem sal. Quando chego no Rio e olho para o céu percebo que já está anoitecendo e ainda me falta um longo caminho. Vou andando pelas ruas mas desta vez percebo que não adianta ter pressa pois meu ônibus só sairá daqui a uma hora. "Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome e raiva e de sede, são tantas vezes gestos naturais..." cantarólo enquanto atravesso a rua mas percebo que todos ao meu redor me olham como se eu fosse um ser de outro planeta. Começo a sentir fome, e me lembro de que não havia lanchado antes de sair do trabalho. Decido parar em algum lugar pra comer. Até que dou de encontro com uma padaria, e que padaria! Ao entrar sinto a sensação de que meu estômago está diminuindo e o perfume da padaria  é tão agradável que entra em minhas narinas me tornando capaz até de sentir o gosto sem ao menos provar nada. Olho para a vitrine e vejo um belíssimo pão com mortadela, e decido: é exatamente isso que vou comer. Enquanto ando em direção ao balcão para fazer meu pedido, reparo numa menina muito bonita sentada bem no canto da loja revirando os olhos ao comer uma farta coxinha. De repente tudo ao meu redor fica em slow motion ao ver a menina dar a sua ultima mordida, minha boca saliva e eu só consigo pensar em coxinha. E nesse momento eu fico confusa, não sei o que comer. Será a bendita coxina ou o saboroso pão com mortadela? Após um longo tempo de indecisão, finalmente decido. Não irei ser influenciada por uma coxinha. Compro o sanduíche e quando finalmente como,  me dou conta de que eu nem sou tão fã de coxinha assim. Porque é que diabos eu iria comer uma coisa que nem gosto muito? Porque escolher coxinha? Afinal pão com mortadela é tão mais sabaroso, é um sanduíche idrolatrado pelos mais pobres e consumido até pelos mais ricos (mesmo quando escondido). Após comer posso retomar meu trajeto até minha casa com a consciência tranquila de que fiz a escolha certa.

Maria Antonieta

2 comentários:

  1. Gostei muito do foco que você deu na questão da indecisão. Todos já passamos por esse momento de confusão ao tentar entender e escolher entre direita e esquerda, ou entre coxinha e pão com mortadela. Assim como a descrição dos detalhes de uma rotina normal, a indecisão cria uma identificação e aproximação com o leitor.

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  2. Também gostei de você ter se focado no momento de questionamento da personagem até o momento da decisão, a escolha pela esquerda. Achei bem legal a sua descrição (parte do cheiro da padaria, consegui até a imaginar aqui!). Você com certeza deu uma visão ampla da realidade, garantiu perenidade e profundidade, ultrapassou os limites do cotidiano e exerceu a cidadania.

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